segunda-feira, 26 de novembro de 2012

SNI MONITORAVA O MOVIMENTO NEGRO


http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2012/11/25/interna_diversao_arte,335676/servicos-de-inteligencia-monitoravam-movimentos-negros.shtml

Serviços de inteligência monitoravam movimentos negrosMovimentos sociais e artísticos, como o Black Rio e o black são paulo, estavam na mira dos arapongas

José Carlos Vieira
Carlos Alexandre
Publicação: 25/11/2012 13:16Atualização: 25/11/2012 13:29
O alerta acima, acompanhado de dois carimbos de “confidencial” em cada uma das nove páginas do documento, foi dado pelo Centro de Informação e Segurança da Aeronáutica (Cisa-RJ), em 20 de outubro de 1976. Com o sugestivo título Racismo negro no Brasil, a pasta reflete a preocupação dos órgãos de segurança do governo comandado pelo general Ernesto Geisel com a infiltração de entidades subversivas nos movimentos populares. Os agentes da ditadura seguiam cada passo, registravam cada palavra dita por militantes, simpatizantes e intelectuais em favor da inclusão dos negros na sociedade brasileira.

O documento, que traz a chancela da Agência Central do Serviço Nacional de Informações, o SNI, detalha o que se passava nas palestras e nos debates promovidos por associações culturais, responsáveis pelo trabalho de recrutar simpatizantes ligados à causa negra. “Nesta fase, os conferencistas preocupavam-se em não falar ostensivamente em política, mas condicionavam os ouvintes a aceitar a existência de um disfarçado racismo branco no Brasil.” Eram nessas palestras, segundo relata o agente, que os militantes identificam as pessoas mais sensíveis às ideias do movimento. Posteriormente, elas eram convidadas a participar de grupos de estudo, em caráter reservado.

Obtido pelo Correio no Arquivo Nacional, o relato do araponga ligado ao serviço secreto da Aeronáutica é detalhado e cheio de minúcias, e cita os principais temas apresentados pelos militantes, tais como:

» Qualquer movimento cultural não pode ser desvinculado do político, já que muitas manifestações culturais, principalmente a negra, é esmagada por uma força política branca que é adversa a qualquer outro motivo cultural de outra raça;

» O problema do negro no Brasil é sociocultural, pois a sociedade dominante da época da escravidão até os dias de hoje é branca e não é do seu interesse que a cultura negra vigore;

» Os negros devem se conscientizar do que são, e se honrar dos seus antepassados que lutaram até morrer por uma liberdade, como foi o caso do Quilombo dos Palmares.

Em determinado trecho do documento, o informante faz uma
ressalva ao apontar que os moderados, durante os debates, evitam falar claramente em política e problemas sociais. Mas a ação dos “radicais” é direta e, segundo ele, são inspirados nos panteras negras, dos Estados Unidos, e no culto a Idi Amim Dada, ditador de Uganda. O grupo preferia recrutar simpatizantes nos clubes de soul onde jovens com cabelos black power e roupas coloridas lotavam as pistas de dança ao som de músicas de James Brown, Tony Tornado e Gerson King Combo. “Até o presente momento, não foi possível configurar se os conjuntos musicais de soul estão envolvidos.” Os grupos radicais, de acordo com o relato do serviço de inteligência, se autodenominavam “almas negras” e tinham o socialismo como base ideológica, além de possuírem algumas características que os identificavam:

» A saudação entre homens e mulheres é feita com um beijo na boca;

» O cumprimento entre os homens é idêntico ao usado pelos panteras negras (vários toques de mão);

» Em algumas reuniões, alguns negros fizeram saudação à moda comunista (braço levantado e mão fechada);

» Usam alguns termos especiais e chamam o branco de “mucala” (mukala, branco, grifo nosso) e vestem-se com roupas extravagantes.

Até hoje o produtor cultural Asfilófio de Oliveira Filho, o Filó, é um dos ícones do movimento black do Rio. Ao Correio, ele revela como era pressão sofrida pelo movimento negro nos anos 1970. De um lado, a ação dos agentes militares, do outro a conduta da esquerda, quase sempre desconfiada, apesar de interessada em cooptar militantes da causa negra. “A pressão era oculta, totalmente silenciosa. Eles (os arapongas) se infiltravam buscando entender o movimento e suas nuances. Acompanharam diversas vezes as lideranças em seu dia a dia. Eventos como Encontro dos Blacks no Portelão foram o grande marco para os agentes militares perceberem que nem tudo que eles pensavam era verdade. O momento era de efervescência. A esquerda questionava o Movimento Black Rio pela sua “tendência” ao imperialismo americano e a direita tinha medo de uma revolução negra. Na verdade, o objetivo final do movimento era construção de uma identidade e uma política cultural positiva.”

Filó se recorda também quando ficou preso num quartel do Exército no bairro da Tijuca: “Lembro-me de ser questionado: ‘Onde estava o milhão de dólares que os americanos deram para o movimento?’ Em julho de 1976, eles deflagaram uma matéria encomendada num grande jornal carioca para desqualificar o movimento. Mas o legado deixado pelo Movimento Black Rio nos brindou com uma geração mais consciente e aberta na busca da sua identidade e na luta contra a discriminação racial.”

Colaborou Edson Luiz


Panteras negras
Grupo revolucionário norte-americano, criado em meados dos 1960 para lutar pelos direitos da população negra. Seus integrantes pregavam ações armadas contra a opressão. Inicialmente, os ativistas agiam como patrulhas de guetos californianos e nova-iorquinos contra a violência policial (branca). O movimento se espalhou pelos Estados Unidos e chegou a ter mais de 2 mil integrantes. Enfrentamentos com a polícia levaram a tiroteios em Nova York e Chicago, e, entre 1966 e 1970, pelo menos 15 policiais e 34 “panteras” morreram em conflitos urbanos. No início dos anos 1980, a organização foi oificialmente dissolvida.
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SNI queria enquadrar ativista anti-racismo Abdias Nascimento

 
Edson Luiz
Publicação: 25/11/2012 08:00Atualização: 26/11/2012 14:08
Abdias Nascimento: declarações contundentes em favor do movimento negro no Brasil provocaram a ira dos militares
Abdias Nascimento: declarações contundentes em favor do movimento negro no Brasil provocaram a ira dos militares


O ex-deputado e pesquisador Abdias Nascimento, considerado um dos maiores ativistas do movimento negro no Brasil, no século passado, por pouco não foi processado pela Lei de Segurança Nacional (LSN), durante o regime militar. Além disso, por recomendação do Serviço Nacional de Informações (SNI), o Ministério da Justiça chegou a estudar a possibilidade de enquadrá-lo por discriminação racial por causa de uma entrevista, durante uma visita ao país. Ele vivia nos Estados Unidos, onde lecionava em uma universidade em Nova York.



A entrevista de Abdias foi dada ao Pasquim, uma das publicações contestadoras do regime militar. O ex-deputado, que era considerado pela própria ditadura como "a figura de maior projeção do movimento negro no Brasil", havia feito críticas às políticas governamentais para o setor. Foi o bastante para o SNI instigar o então ministro da Justiça, Armando Falcão, a analisar sua inclusão na temida Lei de Segurança Nacional. Para isso, juntou diversos trechos do depoimento do ativista. O processo, que começou em setembro de 1978, durou quase quatro anos, e só foi arquivado em março de 1982.

Para tentar enquadrar Abdias, o SNI fez uma pequena análise sobre o poder do ativista, por causa de suas qualidades intelectuais. De acordo com os militares, ele poderia se constituir em uma influência capaz de apresentar um projeto político original para o país, voltado para o movimento negro. Várias ideias expostas na entrevista incomodaram o governo militar, como a Lei Afonso Arinos - que combate o racismo -, considerada por Abdias como "uma piada", segundo relatório da Divisão de Segurança e Informação (DSI) do Ministério da Justiça.
Perseguição
Um dos pontos citados pelos agentes era a Carta de Princípios do Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial, que tinha cinco itens principais: a defesa da comunidade negra, a reavaliação do papel do negro na história do Brasil, a extinção das formas de perseguição e repressão, a liberdade de expressão e organização e a liberdade à luta internacional do negro. “O senhor ministro-chefe do SNI se dirige a V. Exa. encaminhando informação a respeito de Abdias Nascimento e solicitando estudo deste ministério sobre a possibilidade de processá-lo com base à Lei de Segurança Nacional”, relata documento enviado a Armando Falcão, que pede análise de sua assessoria jurídica.

A consultoria do ministro fez um parecer baseando-se também em outras entrevistas de Abdias e, depois de uma análise de cinco laudas, conclui que ele não poderia ser enquadrado por não ter cometido crime algum. “Inobstante a injustiça cometida — a de o ativista declarar a existência do racismo no Brasil — , não nos parece tenha o entrevistado praticado delito de imprensa ou contra a Segurança Nacional, porquanto, embora a seu modo, a sua posição é contrária à discriminação racial”, avaliaram os advogados do Ministério da Justiça.

Na mesma entrevista, Abdias teria reclamado à repórter que viajara dos Estados Unidos para o Brasil com a carteira de identidade, pois seu passaporte brasileiro lhe fora negado pelas autoridades do país. A consultoria jurídica do Ministério da Justiça sugeriu que a diplomacia brasileira fizesse um encontro com o ativista, uma forma de amenizar a situação. Com isso, segundo o relatório produzido à época, constituiria “em instrumento de nossa propaganda internacional, reveladora da ausência de qualquer discriminação racial no Brasil.”
Confira o vídeo Beatriz Nascimento - Heróis de todo mundo







http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2012/11/25/interna_diversao_arte,335671/o-carnaval-como-resistencia.shtml

Vovô do Ilê fala ao Correio sobre resistência à ditadura

Maíra de Deus Brito
Publicação: 25/11/2012 13:01Atualização: 25/11/2012 13:31
 (Antônio Carlos dos Santos. Vovô do Ilê)
A ditadura sufocava o Brasil em meados da década de 1970, quando um grupo decidiu lutar contra a situação imposta pelo governo militar. Apolônio de Jesus e Antonio Carlos dos Santos, mais conhecido como Vovô do Ilê, juntaram um grupo de amigos, no bairro baiano da Liberdade, para enfrentar o racismo com o primeiro bloco afro do Brasil, Ilê Aiyê. Em entrevista ao Correio, Vovô do Ilê, atual diretor-presidente do bloco carnavalesco e um dos precursores da soul music no país, nos tempos do Black Bahia, fala da repressão sofrida pelo bloco durante o regime dos generais.

Quando e como surgiu o bloco afro Ilê Aiyê?
O Ilê foi criado em 1974, por mim e pelo falecido Apolônio (de Jesus). Nós queríamos combater o racismo no carnaval, aqui do bairro da Liberdade (o maior bairro negro da cidade). Antes, o negro só saía no carnaval carregando alegoria e resolvemos criar um bloco em que só negros participassem. Foi uma época muito forte da ditadura no Brasil. Qualquer tipo de movimentação e você já era tachado como comunista. E não foi diferente com a gente: fomos perseguidos pela polícia. O pessoal achava que queríamos tomar o poder. Momentos difíceis. Muita gente não quis sair no bloco, as famílias não deixavam com receio. Só conseguimos sair com 100 pessoas no primeiro ano. Não tínhamos instrumentos, nada. Até o terceiro ano do bloco desfilamos vigiados pela polícia.
Como era a situação de ser acompanhado pela polícia? Já teve casos em que tinha mais polícia do que integrantes do bloco?
Aqueles caminhões, cheios de soldados virados de costas uns para os outros, já nos acompanharam, mas nunca teve mais polícia do que gente no bloco. No primeiro ano, o Ilê saiu com 100 pessoas. No segundo, botamos umas 400 e, a partir do terceiro ano, não saímos com menos de mil pessoas.

Quais tipos de repressão o Ilê viveu na ditadura?
Esse último 20 de novembro foi um dia muito importante aqui em Salvador. Um grande jornal da Bahia fez um caderno especial sobre a consciência negra e Ilê Aiyê, Filhos de Gandhy e vários representantes do movimento negro foram lá e fizeram um desfile na redação. No passado, esse mesmo jornal foi o veículo que mais bateu na gente. Chamaram o Ilê de bloco racista, de nota destoante. Ele jogou muito duro conosco e, hoje, tem um caderno especial sobre a consciência negra. A imprensa foi muito perversa e dura com o Ilê e isso ficou marcado. Mas conseguimos superar isso. Depois surgiram outros blocos afros na Bahia, como Melô do Banzo, Olodum, Muzenza, e em Pernambuco, Maranhão e Rio de Janeiro.

Os integrantes foram perseguidos?

Não. Os nomes mais visados eram os dos diretores principais, eu e Apolônio. Quisemos colocar o nome do bloco como Poder Negro e fomos aconselhados a não fazer isso. De chegar às vias de fato nunca aconteceu não.

Quem aconselhou vocês a não colocar o nome de Poder Negro?
O presidente da federação dos clubes carnavalescos, saudoso Arquimedes Silva, era militar aposentado da Marinha e nos aconselhou. Na época, um amigo nosso da Polícia Federal também deu conselhos.

O que mudou no Ilê Aiyê depois da ditadura?

Na verdade, não mudou muito. A Bahia é uma terra muito racista. O Ilê se destacou, se mantém até hoje, 39 anos depois como uma teima que a fé sustenta. É uma teimosia nossa numa terra onde tudo é favorável para pessoas brancas. Patrocínio, dinheiro de governo é só para os artistas do axé.

Como o senhor vê o atual cenário do racismo no Brasil?
Não sei se está melhorando, mas a discussão está cada vez mais aberta. O Brasil se apresenta como um país de maioria negra, mas nas delegações só vê branco, parece até que é um país europeu. Nos cargos de comando ninguém tem coragem de colocar um negro. Mas ninguém é racista, né? Todo mundo assume que o país é racista, mas ninguém é. Nos cargos de 1º, 2º e 3º escalão não tem negro. Não se vê um partido indicar um negro para a Presidência, como foi com o Obama nos EUA. Alguma coisa precisa mudar. As colunas sociais só têm branco. Se as pessoas fossem escolhidas pela competência e não pela cor da pele, o Brasil teria outra cara.

Colaborou Gabriela de Almeida
 
 
 

SAÚDE - CÂNCER DE PRÓSTATA

http://noticias.terra.com.br/ciencia/noticias/0,,OI6332925-EI8147,00-Um+refrigerante+por+dia+aumenta+risco+de+cancer+de+prostata.html

Um refrigerante por dia aumenta risco de câncer de próstata

26 de novembro de 2012 17h06 atualizado às 18h24
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Homens que consomem o equivalente a uma lata de refrigerante por dia estão sujeitos a um risco maior de desenvolver câncer de próstata, segundo um estudo sueco divulgado nesta segunda-feira. "Entre os homens que consomem uma grande quantidade de refrigerantes ou outras bebidas com adição de açúcar, constatamos um risco de câncer de próstata aproximadamente 40% maior", disse uma das autoras do estudo, Isabel Drake.O estudo, que será publicado na próxima edição do American Journal of Clinical Nutrition, baseia-se no acompanhamento de mais de 8 mil homens da região da cidade de Malmö (sul da Suécia), com idade entre 45 e 73 anos, durante uma média de 15 anos. Todos anotaram minuciosamente os alimentos e bebidas que ingeriram.Aqueles que beberam um refrigerante (330 ml) por dia estiveram 40% mais propensos a desenvolver câncer de próstata, necessitando de tratamento. Além disso, aqueles que tiveram uma dieta rica em arroz e massas apresentaram 31% mais chances de desenvolver formas mais benignas do câncer. Este risco foi aumentado em 38% para aqueles que ingeriram grandes quantidades de açúcar no café da manhã, relatou a pesquisadora.Estudos anteriores já haviam indicado que os chineses e os japoneses que viviam nos Estados Unidos, o maior consumidor de refrigerantes do mundo, desenvolveram câncer de próstata com mais frequência do que os compatriotas que permaneceram em seu país.Uma pesquisa aprofundada sobre a resposta a diferentes dietas de acordo com a genética torna possível "adaptar as recomendações em termos de comida e bebida para certos grupos de alto risco", considerou Drake.
AFP
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MAIS UM DEBATE: Monteiro Lobato - 1/3


terça-feira, 20 de novembro de 2012

LEI Nr. 10639/2003, prestes a completar 10 anos

Raízes da África


  • Para além da festa do 20 de novembro. Reflexões.
Só 11% da verba de projetos educacionais para igualdade racial foi usada
Ensino da história e cultura afro-brasileira ainda está longe das salas de aulas, apesar de lei que institui o tema nos currículos ter sido criada há 10 anos.

Perto de completar uma década, a Lei nº 10.639 quase não saiu do papel. Ela tornou o ensino de história e cultura afro-brasileira obrigatório nos currículos do ensino fundamental e do ensino médio. Isso implica tratar da história da África, a luta dos negros no Brasil e suas contribuições para o desenvolvimento do País nos diferentes níveis de ensino.
Colocá-la em prática significa não só mudar currículos para tratar o tema de diferentes maneiras nas escolas, mas formar professores para isso. As recomendações e diretrizes do Ministério da Educação e do Conselho Nacional de Educação nesse sentido são numerosas, mas as duas frentes não fazem parte da rotina nas escolas e nas universidades.
Ainda há poucos projetos sendo executados nas escolas e a formação não está nos currículos dos professores. Levantamento obtido pelo iG mostra que, na maioria das universidades e institutos federais do País, disciplinas que tratam das relações étnico-raciais não são oferecidas e, quando existem, têm caráter optativo.
Em paralelo, os recursos destinados a financiar ações em escolas e universidades sobram nos cofres públicos. De acordo com o Siga Brasil, sistema de informações sobre orçamento público, pouco mais de 11% da verba reservada para projetos educacionais que promovam a igualdade racial em 2012 foram usados até o momento.
De acordo com o relatório de novembro da Lei Orçamentária Anual (LOA), no início de 2012, o montante destinado às ações educacionais para o tema era de R$ 1,3 bilhão. Foram executados R$ 149 milhões (11,5% do total). Além desse total, outros 126 milhões foram comprometidos com as ações, mas não chegaram a ser pagos até este mês.
A maior parte desses recursos foi gasta em ações na educação básica (14,3% dos R$ 908 milhões destinados a isso). A verba se destinou às ações de capacitação e formação inicial e continuada de professores e profissionais e ao apoio das atividades em comunidades do campo, indígenas, remanescentes de quilombos e crianças com deficiência.
Nas universidades, apenas 5% do orçamento foram usados. Quase tudo dos R$ 390 milhões destinados ao ensino superior deveriam dar suporte a entidades não-federais (R$ 350 milhões) e nada foi executado. O recurso de fato aproveitado nessa etapa de ensino foi o dedicado às bolsas de permanência. Dos 39 milhões, 49% foram gastos com os programas.
No ensino superior: Há bolsas de permanência para negros
A dificuldade em utilizar os recursos, no entanto, não se restringiu à área educacional. Os dados mostram também que apenas 9,56% dos R$ 1,9 bilhão destinado à igualdade racial foram gastos até novembro.
Burocracia X falta de projetos
Na opinião do técnico em gestão educacional Antonio Gomes da Costa Neto, que realizou levantamentos para verificar o cumprimento da lei 10.639 no orçamento e junto às universidades, a sobra de recursos é a prova de que a aplicação da lei engatinha. “Os recursos não são poucos, mas não estão sendo gerenciados como deveriam. As secretarias deveriam criar mais programas e os gestores, induzi-los”, afirma.
Para Ana Marques, coordenadora de Educação em Diversidade da Subsecretaria de Educação Básica do Distrito Federal, a burocracia “emperra” a utilização dos recursos. “O dinheiro está lá, mas, às vezes, ele é fictício, porque precisamos passar por caminhos muito complicados para chegar até ele”, critica.
Trabalho: Governo prepara projeto de cotas para negros no serviço público
A Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi) do Ministério da Educação afirma que há universidades e projetos que aplicam bem os recursos. “As atribuições contidas do MEC contemplam: promover, de forma colaborativa com Estados, municípios, instituições de ensino superior e entidades, a formação de professores e a produção de material didático para atendimento da lei e criar mecanismos de supervisão, monitoramento e avaliação do plano de implementação da lei. Há experiências exitosas.”
Esforços individuais
A Lei 10.639, de janeiro de 2003, determinou que o conteúdo referente à história e à cultura afro-brasileira e africana seria assunto de todos os currículos escolares da educação básica, “especialmente” nas disciplinas de artes, literatura e história. Em 2008, a Lei 11.645 deu a mesma orientação para a temática indígena. O termo “especialmente”, no entanto, se tornou quase exclusivamente.
Nas universidades: Disciplina sobre educação étnico-racial não está nos currículos
Na prática, coordenadores e professores contam que o conteúdo só aparece nessas disciplinas. Quando aparece. Depende de iniciativas isoladas, de professores sensíveis ao tema. Em geral, negros. “Geralmente, a iniciativa parte de um professor negro. No imaginário social, quem tem de tratar de negro é negro. A lógica não pode ser essa”, afirma Ana Marques. A coordenadora do Distrito Federal acredita que falta muito para a lei se tornar realidade nas escolas.
“A aplicação da lei não aconteceu. As universidades não cumpriram as mudanças na formação e as escolas só falam do negro no Dia da Consciência Negra”, comenta Ana Marques. A data foi instituída pela lei 10.639 e é comemorada nesta terça, 20 de novembro. Para muitos professores, Ana ressalta, não há necessidade de debater o tema. “A primeira e maior dificuldade ainda é a ideia de que temos uma democracia racial”, diz.
Unanimidade: STF julga constitucionais as cotas raciais em universidades
Euterlúcia Souza e Shirley Cunha, professoras de história do Centro de Ensino Médio 1 do Gama, no Distrito Federal, concordam. No colégio, que tem uma das práticas mais duradouras na área, só as duas cuidam dos projetos que incorporam a lei. As duas são negras. “Nosso sonho é que essa fosse uma preocupação da escola e não de nós duas”, desabafa Euterlúcia.
No CEM 1, as três séries do ensino médio têm projetos sobre o tema. Mas a intensidade da conversa sobre essas relações cresce no 3º ano. Durante os dois anos anteriores, a tentativa das professoras, que contam com o apoio de alguns docentes da filosofia, português e artes, é trabalhar a identidade dos jovens. Eles são convidados a pensar em suas origens e seu futuro. No 3º ano, um grande seminário é promovido durante dois dias sobre o tema.
“Nós buscamos trazer conhecimento para a escola. Mas é muito difícil conseguir verba para o material, o lanche. Mas tem dado certo”, conta Shirley. Euterlúcia lembra que a escola se preocupa em não fazer do encontro apenas uma festa. “O trabalho não pode ser pontual. Precisa deixar um legado para esses estudantes e a escola”, ressalta.
Pelo jeito, o objetivo das professoras tem sido atingido. Estudantes do terceiro ano garantem que muita coisa mudou na vida deles depois do projeto. Arthur Dias Bernardo, 17, conta que não concordava com as cotas, carregava preconceitos, faltava informação. “Eu não tinha conhecimento e agora tenho”, diz.
Izabella Vieira, 16, defende que outras disciplinas também insiram o tema em suas aulas. Para Thaylinne Lima, 17, o assunto não deveria ganhar visibilidade só nessa época do ano e os seminários deveriam ser estendidos para as outras séries. “A gente deveria discutir preconceito e racismo desde a infância, para chegarmos mais maduros no ensino médio”, afirma Catrina Nonato, 17.
Em Brasília: UnB já formou mais de 1 mil universitários pelas cotas
Maria Clara Aragão Alves, 17, lembra que não só a escravidão conta a história dos negros. “Não se fala muito da cultura que eles nos deixaram. Por isso a lei também é importante”, diz.
A Secretaria de Educação do Distrito Federal criou, em dezembro de 2011, uma coordenação para cuidar do tema da diversidade. O grupo elaborou orientações para as escolas e tem realizado cursos de formação. A adesão, no entanto, ainda é baixa. De seis turmas abertas para um curso sobre o tema, apenas duas foram preenchidas este ano. “Eles reclamam de formação, de material, mas cada vez isso é mais oferecido. Esperamos avançar”, conta Ana.
Fonte: Priscilla Borges - iG Brasília | 20/11/2012 05:00:00 Priscilla Borges - iG Brasília | 20/11/2012 05:00:00

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

NEGROS - SALÁRIO MÉDIOD DE NEGRO É 61% DOS DEMAIS


Salário médio de negro é 61% dos demais em SP, diz Dieese
19 de novembro de 201212h37 atualizado 12h47



  • Os negros com trabalho na região metropolitana de São Paulo ganhavam em média 61,7% do salário dos não negros, em 2011, de acordo com estudo divulgado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) nesta segunda-feira. O Dia Nacional da Consciência Negra é celebrado na próxima terça-feira (20).

    Na análise de horas trabalhadas, Salvador e São Paulo se destacaram pela maior desigualdade, com os negros recebendo 60,9% e 61%, respectivamente, do rendimento médio dos demais. Fortaleza (73,3%) e Porto Alegre (70,6%) apresentaram um valor maior, porém ainda muito abaixo da igualdade, de acordo com a pesquisa.

    Para o Dieese, a situação ainda é mais discriminatória para mulheres negras. "Em todas as regiões analisadas, o rendimento médio real por hora trabalhada das mulheres negras ocupadas correspondeu no máximo a 58,3%, em Porto Alegre, e 58,6%, em Fortaleza, do valor auferido pelos homens não negros. No Distrito Federal e na Região Metropolitana de São Paulo, o valor da hora trabalhada das mulheres negras não representava 50% do recebido pelos homens não negros", afirmou o estudo.

    Desemprego
    A população negra também sofre mais com a falta de emprego. Segundo a análise, a proporção de negros entre os desempregados na maioria das regiões foi superior a 60%, exceto em Porto Alegre (18,2%) e São Paulo (40%). "A proporção de negros entre os desempregados é sempre superior à parcela de negros entre os ocupados e no conjunto da População Economicamente Ativa (PEA)", diz o Dieese.


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    domingo, 18 de novembro de 2012

    MinC e produtores culturais negros



    Os editais do MinC para produtores culturais negros em debate



    Em semana repleta de eventos da cultura afrodescendente, artistas discutem a medida e se dividem entre elogios e temores de ainda mais segregação

    Zózimo Bulbul, um dos principais ativistas do movimento negro na cultura brasileira Foto: Simone Marinho / Agência O Globo
    Zózimo Bulbul, um dos principais ativistas do movimento negro na cultura brasileiraSimone Marinho / Agência O Globo
    Rio - Desesperado com a falta de recursos, o imperador romano Vespasiano decidiu tributar o uso dos banheiros e cunhou a máxima “dinheiro não tem cheiro”. Como também escorre pelas mãos, dinheiro poderia até ser tomado por água, inodora e incolor que é. Mas dinheiro possui cor. É verde, quando dólar; é uma grana preta, quando alta. Mas nem todos veem a cor do dinheiro, em especial para custear a produção cultural. Ainda mais se forem negros.

    A ministra da Cultura, Marta Suplicy, calcula que os produtores culturais negros recebam menos de um décimo do dinheiro incentivado (com origem no orçamento público ou em recursos de empresas deduzidos do imposto de renda) que banca as artes no país, cerca de R$ 1,2 bilhão por ano.
    — Os projetos que os produtores negros mandam são muito poucos, porque o acesso aos meios são mais restritos. Quando conseguem formular projetos, não conseguem captar. Ninguém quer patrocinar. Eles não têm condição de obter patrocínio — justifica Marta, ao comentar a série de editais que lançará depois de amanhã para estimular a produção de artistas negros em todo o país.
    Na data em que se comemora o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, 20 de novembro, feriado em 780 cidades, o Ministério da Cultura lança uma série de editais direcionada aos produtores e criadores negros, em cerimônia no Museu Afro Brasil, no Ibirapuera, em São Paulo, às 11h.
    Com os editais, o Ministério da Cultura espera estimular a formação de novos escritores, elevar o número de pesquisadores negros e de publicações de autores negros, incentivar pontos de leitura de cultura negra em todo o país, premiar curtas dirigidos ou produzidos por jovens negros na faixa de 18 a 29 anos, investir em criação, produção e fazer com que artistas e produtores negros ocupem palcos, teatros, ruas, escolas e galerias de arte de todo o país.
    A dificuldade de organizar programas relacionados à cultura negra é relatada por produtores de eventos que começam nesta semana no Rio, que incluem desde um festival de música a um encontro de cinema afro, ambos com convidados internacionais, passando por palestras na Bahia e em São Paulo com ícones da cultura negra mundial, como a historiadora norte-americana Angela Davis, famosa por suas ligações nos anos 1970 com o grupo radical Panteras Negras, e a missionária Bernice King, filha de Martin Luther King, o líder da luta pelos direitos civis nos EUA.
    — Sou persistente. Bato na porta, não desisto. Como afrodescendente, se não me salientar, eu desapareço. Tenho de estar o tempo todo discutindo, debatendo. Se a Marta pegou o mote do ex-ministro Gilberto Gil de fortalecer a inclusão, só posso bater palmas para ela — diz o ator e cineasta Zózimo Bulbul, que organiza no Rio um festival de cinema com diretores da África e do Caribe que exibirá mais de 40 filmes.
    Recém-engalanado com o título de doutor honoris causa pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, por seu papel na valorização da cultura afro-brasileira, o pesquisador e compositor Nei Lopes, 70 anos, afirma que a exclusão dos negros nos “arraiás” da cultura é incontestável.
    — Quando aparecemos um pouquinho, é sempre como objetos e não como sujeitos da produção cultural. O “povo da cultura”, os que se beneficiam dos bons patrocínios e sabem dos famosos editais, são, de modo geral, gente com boas relações familiares, que vêm de berço; e aí fica tudo mais fácil. Se você vai fazer um filme e o filho do dono do banco estudou com você no colégio ou a filha do grande empresário foi sua namorada, as possibilidades de suporte financeiro são milhões de vezes mais tranquilas — analisa Nei.
    Discussão racial
    Para quem teme a intolerância na discussão racial, Bernice King recebe prêmio e ministra palestra em São Paulo amanhã e terça. Para quem acha que falta radicalidade, Angela Davis faz conferência na quarta, na Universidade Federal do Recôncavo Baiano, em Cruz das Almas, com o tema “Gênero, raça e classe, tríade inseparável no empoderamento da população negra”.
    Professor emérito da Escola de Comunicação da UFRJ, o escritor e comunicólogo Muniz Sodré, que lançou recentemente o livro “Reinventando a educação” e é tema de seminário em homenagem aos seus 70 anos, acredita que os editais em favor dos negros são necessários como forma de reparação.
    — Sou baiano e outro dia fui dar uma palestra em uma universidade de lá. A política de cotas modificou a cor da audiência. Antes não era assim. Se deixar a política de financiamento público das artes na mão dos grandes produtores, eles vão querer tudo para eles. É assim que pensam. Acham que cultura negra é folclore, um dinheirinho ali para capoeira, outro para quilombola. Mas não para concorrer com eles, grandes produtores, no cinema, por exemplo.
    O cineasta e pesquisador Joel Zito Araújo, cujo filme mais recente é “Raça”, a ser lançado em circuito em 2013, no qual mostra a rotina de cinco personalidades negras para abordar suas diferentes relações sociais em razão de renda, educação e atividades política e cultural, aponta a existência no panorama nacional do que chama de “censura branca”.
    — Nossa estética é colonizada, ideologicamente branqueada. O branco é a unidade, representa o ser humano. O negro é o subalterno e o gueto. Quando bato na porta atrás de patrocínio, elogiam meus filmes, o papel que exerço etc., mas, na hora de liberar o dinheiro, nada — reclama.
    Connie Lopes, diretora-geral do Back2Black, festival internacional de música com astros negros que ocorre de quinta a domingo na Estação Leopoldina, já na sua quarta edição, declara que foi muito difícil alinhavar cada uma delas:
    — A questão do patrocínio é sempre complicada. Uma luta que se vence a cada ano. É um evento orçado em R$ 3,5 milhões, com 4 mil pessoas por dia na plateia e 2 mil pessoas na organização. No começo, quando falávamos que faríamos um festival voltado para a arte negra, torciam o nariz.
    A crítica ao Back2Black é que a faixa de preços dos ingressos, entre R$ 75 e R$ 150, acabaria levando a uma plateia com mais brancos do que negros.
    — Já houve até gente panfletando essa crítica na porta. Não acho o ingresso tão caro, mas nosso custo é. Estamos trazendo, por exemplo, um grupo (Jupiter Okwess International) de Kinshasa, no Congo, país arrasado pela guerra. O cachê não é alto, mas o custo da logística para trazê-los é absurdo. Já pensamos em criar algum tipo de cota social, algum tipo de ingresso mais barato para negros. Mas é difícil definir quem tem direito a isso — comenta Connie.
    O cantor e compositor Seu Jorge, que lança esta semana o DVD “Músicas para churrasco vol. 1”, gravado no Dia da Consciência Negra de 2011, vê uma ponte se consolidando entre o drama mais profundo do passado e a situação redentora que projeta para o futuro.
    — Há um negro em construção, uma coisa nova surgindo no Brasil. Se você reparar, os Três Poderes são representados por segmentos importantes do povo brasileiro. No Legislativo temos um nordestino, no Executivo, uma mulher e, no Judiciário, um negro. Sampleando o discurso de posse do Lula, o Brasil está se reencontrando com o Brasil. E o negro está se reconstruindo aí, na batalha por isso.
    O medo da racialização
    O sociólogo Demétrio Magnoli, autor do livro “Gota de sangue — História do pensamento racial”, no qual procura demonstrar que o “mito da raça foi um engano inventado”, é um dos principais oponentes da política de cotas.
    — Os argumentos da ministra, risíveis, nem mesmo merecem contestação. As políticas raciais obedecem a uma doutrina de racialização e se valem dos mais diversos pretextos. A portaria ministerial nada tem a ver com um suposto preconceito contra produtores culturais “negros”. Ela se inscreve na lógica política que cria cotas raciais na graduação universitária (sob o pretexto de que estudantes “negros” têm desvantagens iniciais) e, agora, na pós-graduação, sob qual pretexto, mesmo? — critica.
    Para Magnoli, os editais seguem a lógica que cria cotas no funcionalismo público e as estimula no mercado de trabalho, produzindo segregações raciais entre trabalhadores das mesmas faixas de renda “sob o incrível pretexto de combater desigualdades sociais”, diz ele.
    O termo racialização surgiu na embate envolvendo a ação afirmativa e a política de cotas. Significa o reconhecimento da raça como elemento a ser pesado na distribuição de justiça e de bens ou privilégios de Estado em suas políticas.
    O futuro secretário municipal da Cultura do Rio de Janeiro, Sérgio Sá Leitão, também tem dúvida sobre a eficácia dos editais:
    — Há o risco de estimular a discriminação, em vez de combatê-la. Há outras formas de democratizar o acesso, promover a inclusão e valorizar a contribuição dos criadores afrodescendentes à cultura.
    Os militantes do movimento negro rebatem as críticas à possibilidade de os editais produzirem mais segregação.
    — Os perigos da racialização são muito menores do que o racismo brasileiro, que, apesar de o conceito de “raça” estar ultrapassado, está aí, existe e opera — analisa Nei Lopes.
    A arte negra em destaque
    Back2Black: Da próxima sexta a domingo, o festival reúne Lauryn Hill, Nneka, Martinho da Vila, Hugh Masekela, Naná Vasconcelos, Emicida, Gal Costa e outros na Leopoldina.
    Cinema Negro: O 6º Encontro Brasil, África & Américas vai de quarta ao dia 29 no Centro Afro Carioca de Cinema, na Lapa.
    Silas de Oliveira: Dona Ivone Lara, Monarco, Sombrinha e Dudu Nobre homenageiam o sambista, morto há 40 anos, terça no Imperator.
    Para Zumbi: Amanhã, Farofa Carioca, Elza Soares, Cláudio Zoli e Gabriel Moura fazem show na Fundição.
    Colaboraram Cristina Tardáguila e Leonardo Lichote


    Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/os-editais-do-minc-para-produtores-culturais-negros-em-debate-6759486#ixzz2Cd3d7baW
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    quinta-feira, 15 de novembro de 2012

    ÁFRICA -




    Arqueólogos identificam lanças de 500 mil anos na África

    15 de novembro de 2012 17h06 atualizado às 17h17
    Cientistas fizeram experimento com réplicas para descobrir se pedras eram usadas em pontas de lanças. Foto: Jayne Wilkins/DivulgaçãoCientistas fizeram experimento com réplicas para descobrir se pedras eram usadas em pontas de lanças
    Foto: Jayne Wilkins/Divulgação
    Matheus Pessel
    Pesquisadores das universidades de Toronto (Canadá), do Arizona (EUA) e da Cidade do Cabo (África do Sul) afirmam ter achado evidências da produção de lanças há 500 mil anos - cerca de 200 mil anos antes das mais antigas armas desse tipo conhecidas. A descoberta, afirmam os arqueólogos, pode mudar a forma que pensamos sobre as adaptações humanas e as capacidades antes mesmo do surgimento da nossa espécie. A pesquisa foi divulgada nesta quinta-feira na revista Science.
    "Esta descoberta demonstra uma série de comportamentos complexos em ancestrais humanos que viveram 500 mil anos atrás, que é mais cedo do que se pensava anteriormente. Fazendo uma lança de ponta de pedra requer pedra, madeira e materiais de ligação e de muito mais tempo do que apenas afiando uma lança de madeira. Esta é uma tecnologia complexa, que exige planejamento, preparação e tempo. Todos os materiais devem ser reunidos, preparados e montados muito antes de qualquer caça ocorrer", diz ao Terra Jayne Wilkins, do Departamento de Antropologia da universidade canadense.
    O método usado pelos pesquisadores já é bem conhecido e consiste em testar reproduções das pontas em uma lança que atinge a carcaça de um animal. As lâminas de pedra tiveram, após o impacto, certas características que são mais comuns quando arremessadas do que comparadas com outros usos. "Nós sabemos que são pontas de lanças porque, quando pontas de pedras são usadas em lanças, pequenas lascas e rachaduras aparecem na pedra, e algumas rachaduras são características de fortes impactos. Foi isso que nós encontramos em um experimento no qual replicamos as pontas de pedra, prendemos elas a lanças e atiramos em um animal morto com uma besta (arma similar ao arco) calibrada. O dano do experimento e o dano que vimos nas pontas de pedra de 500 mil anos são notavelmente similares", diz a pesquisadora.
    Quem usava essas lanças?
    Se o ser humano só surgiu - até onde sabemos - cerca de 300 mil anos depois, surge a dúvida: quem usava essas armas? Segundo Jayne, a taxonomia dos ancestrais humanos na África e Europa nessa época ainda não é bem entendida e nenhum fóssil foi descoberto ainda na região de Kathu Pan 1 - onde foram achadas as lâminas.
    "A idade da camada das pontas é de 500 mil anos e precede a primeira aparição dos neandertais, assim como a origem dos humanos modernos. Estudo genéticos recentes situaram o ancestral comum mais recente de neandertais humanos modernos em entre 400 mil e 800 mil anos atrás, então os produtores das lanças foram um ancestral, ou muito próximo, da divergência humanos-neandertais. A maioria dos estudiosos considera este ancestral como sendo o Homo heidelbergensis, cuja capacidade cranial estava dentro de 10% da nossa própria, mas ainda seria muito diferente do moderno Homo sapiens", diz a cientista.
    O uso das lanças
    Conforme a pesquisadora, as primeiras armas de pedra deveriam ser muito simples. Essa tecnologia seria muito difícil de ser identificada arqueologicamente. Contudo, usar pedra afiada na ponta de uma lança é um grande avanço, inclusive sobre simples lanças de madeira afiadas.
    "Prender uma ponta de pedra em uma lança essencialmente adiciona uma lâmina afiada para a ponta. Esta lâmina vai causar mais dano interno para matar a presa mais rápido, mas também cria um dano maior que vai levar a uma trilha de sangue, permitindo aos caçadores seguir o animal machucado e não perdê-lo na sua fuga. Pontas de pedra aumentavam a chance do sucesso da caça, e pensamos que isso teve um grande impacto na dieta de nossos ancestrais e é possível que esteja ligado ao crescimento do tamanho do cérebro que vemos nos registros fósseis nessa época."
    Como saber que não são pedras comuns?
    Outra dúvida que surge é: como os arqueólogos sabem que aqueles objetos não são pedras comuns? "Quando a pedra é modificada intencionalmente por humanos ela exibe certas características diagnósticas. Para fazer uma pedra, você acerta uma rocha - o 'núcleo' - com uma rocha mais dura - um 'martelo' - para desprender uma lâmina com várias extremidades afiadas. Essa lâmina tem características que a faz parecer diferente de uma rocha que quebra devido a um processo geológico natural. Como arqueólogos, nós passamos muito tempo olhando para ferramentas antigas assim como pedras ordinárias, sem modificações, e, após um pequeno treino, se torna muito claro quando ela foi quebrada intencionalmente."
    Terra
    1. Pesquisadores das universidades de Toronto (Canadá), do Arizona (EUA) e da Cidade do Cabo (África do Sul) afirmam ter achado evidências da produção de lanças há 500 mil anos - cerca de 200 mil anos antes das mais antigas armas desse tipo conhecidas. Na imagem, réplicas dos objetos  Foto: Jayne Wilkins/DivulgaçãoPesquisadores das universidades de Toronto (Canadá), do Arizona (EUA) e da Cidade do Cabo (África do Sul) afirmam ter achado evidências da produção de lanças há 500 mil anos - cerca de 200 mil anos antes das mais antigas armas desse tipo conhecidas. Na imagem, réplicas dos objetos

      Foto: Jayne Wilkins/Divulgação
    2. Ponta de pedra de 500 mil anos foi encontrada em Kathu Pan 1, na África do Sul - a barra de escala tem 1 cm. A descoberta, afirmam os arqueólogos, pode mudar a forma que pensamos sobre as adaptações humanas e as capacidades antes mesmo do surgimento da nossa espécie. A pesquisa foi divulgada nesta quinta-feira na revista Science  Foto: Jayne Wilkins/DivulgaçãoPonta de pedra de 500 mil anos foi encontrada em Kathu Pan 1, na África do Sul - a barra de escala tem 1 cm. A descoberta, afirmam os arqueólogos, pode mudar a forma que pensamos sobre as adaptações humanas e as capacidades antes mesmo do surgimento da nossa espécie. A pesquisa foi divulgada nesta quinta-feira na revista Science

      Foto: Jayne Wilkins/Divulgação
    3. Esta descoberta demonstra uma série de comportamentos complexos em ancestrais humanos que viveram 500 mil anos atrás, que é mais cedo do que se pensava anteriormente. Fazendo uma lança de ponta de pedra requer pedra, madeira e materiais de ligação e de muito mais tempo do que apenas afiando uma lança de madeira. Esta é uma tecnologia complexa, que exige planejamento, preparação e tempo, diz ao Terra Jayne Wilkins, do Departamento de Antropologia da universidade canadense  Foto: Jayne Wilkins/Divulgação"Esta descoberta demonstra uma série de comportamentos complexos em ancestrais humanos que viveram 500 mil anos atrás, que é mais cedo do que se pensava anteriormente. Fazendo uma lança de ponta de pedra requer pedra, madeira e materiais de ligação e de muito mais tempo do que apenas afiando uma lança de madeira. Esta é uma tecnologia complexa, que exige planejamento, preparação e tempo", diz ao Terra Jayne Wilkins, do Departamento de Antropologia da universidade canadense

      Foto: Jayne Wilkins/Divulgação
    4. Os pesquisadores analisaram lâminas de pedra descobertas no final dos anos 70 e início dos 80 na África do Sul. Eles explicam que na época os cientistas não tinham técnicas para datar esses objetos. Recentemente, os arqueólogos decidiram estudar as pedras encontradas e se interessaram pelo formato dos objetos  Foto: Simen Oestmo/DivulgaçãoOs pesquisadores analisaram lâminas de pedra descobertas no final dos anos 70 e início dos 80 na África do Sul. Eles explicam que na época os cientistas não tinham técnicas para datar esses objetos. Recentemente, os arqueólogos decidiram estudar as pedras encontradas e se interessaram pelo formato dos objetos

      Foto: Simen Oestmo/Divulgação
    5. Nós sabemos que são pontas de lanças porque, quando pontas de pedras são usadas em lanças, pequenas lascas e rachaduras aparecem na pedra, e algumas rachaduras são características de fortes impactos. Foi isso que nós encontramos em um experimento no qual replicamos as pontas de pedra, prendemos elas a lanças e atiramos em um animal morto com uma besta (arma similar ao arco) calibrada. O dano do experimento e o dano que vimos nas pontas de pedra de 500 mil anos são notavelmente similar  Foto: Benjamin Schoville/Divulgação"Nós sabemos que são pontas de lanças porque, quando pontas de pedras são usadas em lanças, pequenas lascas e rachaduras aparecem na pedra, e algumas rachaduras são características de fortes impactos. Foi isso que nós encontramos em um experimento no qual replicamos as pontas de pedra, prendemos elas a lanças e atiramos em um animal morto com uma besta (arma similar ao arco) calibrada. O dano do experimento e o dano que vimos nas pontas de pedra de 500 mil anos são notavelmente similar

      Foto: Benjamin Schoville/Divulgação
    6. Se o ser humano só surgiu - até onde sabemos - cerca de 300 mil anos depois, surge a dúvida: quem usava essas armas? Segundo Jayne, a taxonomia dos ancestrais humanos na África e Europa nessa época ainda não é bem entendida e nenhum fóssil foi descoberto ainda na região de Kathu Pan 1 - onde foram achadas as lâminas  Foto: Jayne Wilkins/DivulgaçãoSe o ser humano só surgiu - até onde sabemos - cerca de 300 mil anos depois, surge a dúvida: quem usava essas armas? Segundo Jayne, a taxonomia dos ancestrais humanos na África e Europa nessa época ainda não é bem entendida e nenhum fóssil foi descoberto ainda na região de Kathu Pan 1 - onde foram achadas as lâminas

      Foto: Jayne Wilkins/Divulgação
    7. A idade da camada das pontas é de 500 mil anos e precede a primeira aparição dos neandertais, assim como a origem dos humanos modernos. Estudo genéticos recentes situaram o ancestral comum mais recente de neandertais humanos modernos em entre 400 mil e 800 mil anos atrás, então os produtores das lanças foram um ancestral, ou muito próximo, da divergência humanos-neandertais. A maioria dos estudiosos considera este ancestral como sendo o Homo heidelbergensis, diz a cientista  Foto: Jayne Wilkins/Divulgação"A idade da camada das pontas é de 500 mil anos e precede a primeira aparição dos neandertais, assim como a origem dos humanos modernos. Estudo genéticos recentes situaram o ancestral comum mais recente de neandertais humanos modernos em entre 400 mil e 800 mil anos atrás, então os produtores das lanças foram um ancestral, ou muito próximo, da divergência humanos-neandertais. A maioria dos estudiosos considera este ancestral como sendo o Homo heidelbergensis", diz a cientista

      Foto: Jayne Wilkins/Divulgação
    8. As primeiras armas de pedra deveriam ser muito simples. Essa tecnologia seria muito difícil de ser identificada arqueologicamente. Contudo, usar pedra afiada na ponta de uma lança é um grande avanço. Mas como saber que não eram pedras comuns? E qual era a vantagem dessas armas? <a href= http://noticias.terra.com.br/ciencia/noticias/0,,OI6300665-EI8147,00-Arqueologos+identificam+lancas+de+mil+anos+na+Africa.html target=blank> Saiba mais sobre as lanças de 500 mil anos</a>   Foto: Jayne Wilkins/DivulgaçãoAs primeiras armas de pedra deveriam ser muito simples. Essa tecnologia seria muito difícil de ser identificada arqueologicamente. Contudo, usar pedra afiada na ponta de uma lança é um grande avanço. Mas como saber que não eram pedras comuns? E qual era a vantagem dessas armas? Saiba mais sobre as lanças de 500 mil anos

      Foto: Jayne Wilkins/Divulgação
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