quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

INACEITÁVEL, afirma UNICEF sobre assassinato de jovens no Brasil


http://www.brasil247.com/pt/247/favela247/168140/Inaceit%C3%A1vel-diz-Unicef-sobre-assassinato-de-jovens-no-Brasil.htm

Filmes para refletir sobre racismo

https://www.facebook.com/revistanovaescola/photos/a.203782682994805.52498.110225312350543/860131150693285/?type=1&theater

Consciência negra o ano todo!
A ONG AfroeducAÇÃO selecionou filmes para propor uma discussão sobre racismo. Confira: http://abr.ai/1tl6nJ9






Estudo que afirma que nascer em bairro pobre há prejuízo prejudica a ascensão social


http://www.diariodocentrodomundo.com.br/por-que-nascer-em-bairro-pobre-prejudica-a-ascensao-social-por-decadas-segundo-novo-estudo/

Por que nascer em bairro pobre prejudica a ascensão social por décadas



Young Afghan boys run along with bicycle tires at an impoverished loc
Publicado na BBC Brasil.
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Na hora de determinar nosso destino econômico, poucas coisas importam tanto como o bairro em que nascemos e crescemos.
Todos sabemos que viver em uma região mais pobre reduz as possibilidades materiais de seus habitantes. Por isso, muitos sonham ir para uma parte mais afluente da cidade onde vivem.
Mas um estudo recente dos pesquisadores americanos Douglas Massey, da Universidade de Princeton, e Jonathan Rothwell, do Instituto Brookings, vai além: traz novas evidências de que simplesmente se mudar de um bairro precário para um melhor não é suficiente.
De acordo com a pesquisa, o local específico da cidade onde uma pessoa passa os primeiros 16 anos de sua vida é determinante na renda que ela terá muitas décadas depois, mesmo que mude seu local de residência diversas vezes.
A conclusão é uma má notícia para os que acreditam na possibilidade de ascensão e mobilidade social. E pode fornecer mais argumentos às discussões sobre propostas polêmicas de vários países, incluindo alguns latino-americanos, de levar habitantes de bairros pobres para viver em regiões mais ricas das cidades.
“O bairro é o ponto crítico onde se bloqueiam as aspirações das pessoas para subir na vida”, disse Massey à BBC.

Para ele, as experiências vividas no local de nascimento também são uma herança da qual é difícil escapar.
“Os bairros pobres tendem a ter taxas mais altas de desordem social, crime e violência. As pesquisas mostram cada vez mais que a exposição a este tipo de violência não tem somente efeitos de curto prazo, mas também de longo prazo na saúde e na capacidade cognitiva de seus habitantes”, afirma o pesquisador.
“Esses efeitos não se apagam quando as pessoas crescem.”

Integração

A vida nos bairros mais carentes implica frequentar escolas de má qualidade, ficar mais longe das oportunidades de trabalho e mais perto dos focos de violência de nossas cidades.
Segundo o estudo de Massey e Rothwell, um americano deixa de ganhar, em média, cerca de US$ 900 mil, ao longo de sua vida se vive em um bairro pobre, comparado com o que recebe uma pessoa de um bairro de classe alta.
Segundo os pesquisadores, a tendência é que esse valor aumente.
“À medida em que a distribuição de renda fica mais desigual, ocorre o mesmo com a distribuição dos bairros. A concentração da riqueza e da pobreza aumentou. Os bairros pobres se tornaram mais pobres e ficou mais difícil escapar do status socioeconômico da pobreza”, afirma Massey.

Mas qual seria a solução para evitar que nascer em determinado bairro se transforme em uma sentença?
Massey acredita que é importante acabar com a segregação por bairros, a mesma que faz com que a vida de cidadãos de diferentes classes econômicas acabem tomando direções opostas em suas vidas.
O pesquisador recomenda “ajudar as pessoas a se mudar de regiões de muita pobreza para áreas de classe média e alta, onde tenham acesso às vantagens que as comunidades mais abastadas oferecem”.
Ele sugere construir moradias públicas subsidiadas em bairros mais ricos para que os pobres possam sair dos bairros marginalizados das cidades.
Oferecer aos jovens de classes sociais mais baixas a oportunidade de começar suas vidas em regiões mais ricas, diz Massey, pode ter um grande impacto positivo em suas trajetórias de vida.
Esse é um dos argumentos usados em capitais europeias como Londres, onde, após a Segunda Guerra Mundial, foram construídos conjuntos habitacionais estatais subsidiados em meio aos bairros mais ricos da cidade – que ainda existem.
Nos últimos meses, a proposta do prefeito de Bogotá, Gustavo Petro, de um programa piloto para levar habitantes pobres para viver em um conjunto de edifícios de um bairro rico causou polêmica na Colômbia.
A ideia foi chamada por opositores de medida populista e classificada como uso pouco eficiente de recursos públicos escassos. Eles afirmam que estes recursos deveriam ser usados para melhorar as condições dos bairros pobres onde vive a maioria dos habitantes da capital colombiana.

Estigmatização

O estudo de Massey e Rothwell se baseou em informações sobre bairros nos Estados Unidos, mas Massey insiste que os resultados encontrados na pesquisa se aplicam a qualquer outro país onde há altos níveis de segregação por causa de classe social.
“É um fenômeno que se observa frequentemente na América Latina”, afirma.
No entanto, a conclusão da pesquisa causou mais surpresa nos Estados Unidos.
“Os americanos não gostam de admitir, mas a classe social está se tornando uma prisão para as pessoas porque os bairros determinam nossa sorte. Nossa taxa de mobilidade social está ficando para trás em relação à de outros países industrializados”, explica Massey.
“Nos Estados Unidos gostamos de pensar que qualquer pessoa pode ir para onde quiser com base apenas em seus talentos e habilidades. Mas isso é cada vez menos o que acontece. O talento e a habilidade se contraem quando as pessoas estão presas em ambientes segregados.”
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terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Policial diz a jornalista negro - "Você não tem estilo de quem lê"

http://www.geledes.org.br/voce-nao-tem-o-estilo-de-quem-le-diz-policial-jornalista-negro/#axzz3Q56wYhuT

‘Você não tem o estilo de quem lê’, diz policial a jornalista negro

Publicado há 15 horas - em 27 de janeiro de 2015 » Atualizado às 9:37
Categoria » Violência Racial e Policial
frederico-wordpress
No vai e vem da agitada rua da Consolação, no centro de São Paulo, o jornalista Frederico, de 28 anos, foi parado por uma dupla de policiais militares na sexta-feira (23) por volta das 10h30. Acostumado com as revistas que sofre diariamente por ser negro, diz ele à autora deste blog, a abordagem daquele dia foi diferente.
Do meonthestreet
Frederico carregava nos braços o livro “Dexter – A Mão Esquerda de Deus”, sobre um assassino em série, que havia ganhado como presente de uma brincadeira de amigo secreto. A capa traz a imagem de uma mão usando luva cirúrgica segurando um bisturi escorrendo sangue.
dexter-mao-esquerda-de-deus
“Num tom de ironia os policiais queriam saber por que eu estava com aquele tipo de livro, se por acaso eu já tinha feito algo de errado”, afirma. “Eu não tenho passagem pela polícia, apresentei todos os meus documentos, respondi a uma série de perguntas sobre, por exemplo, de onde eu estava saindo e para onde eu ia, qual era meu trabalho, onde morava, mas eles insistiam na questão do livro para justificar uma abordagem que durou mais de 15 minutos”.
Os livros do autor Jeff Lindsay, pseudônimo do dramaturgo norte-americano Jeffry P. Freundlich, inspiraram a aclamada série televisiva Dexter, sobre um homem que trabalha para a Divisão de Homicídios do Departamento de Polícia de Miami como analista forense de manchas de sangue. Nos períodos de folga, Dexter é um serial killer que mata assassinos, estupradores e outros que ficaram impunes.
“O policial ainda debochou de mim dizendo que eu não tinha ‘estilo’ de quem lê livros. Quer dizer que se eu sou negro e ando como qualquer outra pessoa de camisa, bermuda e tênis, não posso ter o hábito de ler?”, diz. “Não sofri nenhuma violência física, mas me chateou demais o tom de voz, o deboche, aquele preconceito nas palavras”.
Questionado sobre quantas vezes já foi revistado pela polícia, o jovem diz que “é mais fácil responder quantas vezes não foi parado”. “Moro na Vila Madalena e lá a noite eu sou abordado direto, mas nunca sofri agressão”, afirma. “Eu me sinto um alvo, se eu vejo uma viatura da polícia eu já sei que eu vou ser parado e passar novamente por todo um constrangimento, uma humilhação. Em cartazes, propagandas, o estado fala para se confiar na polícia, mas você se sente como vítima”. O jovem afirma que não deu queixa sobre o caso pelo fato de não ter havido violência física e por temer represálias de PMs, por isso o sobrenome do jornalista não foi divulgado.
A Secretaria de Segurança Pública diz que sem o registro da ocorrência, que poderia ter sido registrada como injúria, não tem como apurar o caso.

Racismo - 13 palavras e expressões para parar de falar


http://www.modefica.com.br/expressoes-rascistas/

Tire O Racismo Do Seu Vocabulário: 13 Palavras E Expressões Para Parar De Falar Já


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Vire e mexe me perguntam como não ser racista. E, sinceramente, eu acho a resposta tão complicada, afinal somos educados para o inverso: o racismo é imposto e naturalizado, e, mesmo não querendo (existem casos que ele é sim intencional), muitos acabam reproduzindo o discurso opressivo para com negros.
Desconstruir esse discurso, até em expressões simples e que aparentemente não parecem ser ofensivas, mas no fundo são, é necessário e urgente. Pensando em quebrar esse ciclo, te mostro 13 exemplos de racismo cotidiano presente em expressões e palavras que ouvimos com freqüência, mas que devem ser eliminadas do vocabulário já.
1- “Amanhã é dia de branco”
Qualquer pesquisa rápida no Google mostrará mais de uma origem para essa expressão, e a maioria negando que ela tem algum cunho racista. Porém, vivemos em um país onde a escravidão do povo negro durou mais de 300 anos, e os escravos, mesmo sendo forçados a trabalhar, geralmente eram vistos como “vagabundos”.
As conseqüências disso duram até hoje, o negro é sempre visto como a pessoa que faz “corpo mole”, aquele “malandro” que não faz nada. Inclusive, entre as opiniões que mais afloram quando o assunto é cotas sociais para negros, a de que não existe esforço da nossa parte é a mais frequente. Tanto que podemos fazer um paralelo entre essa e a expressão seguinte.
2- “Serviço de preto”
Comum no nosso dia-a-dia, essa expressão é usada para desqualificar determinado esforço e/ou trabalho, ou seja, fazer “serviço de preto” é igual a ser desleixado. O negro sempre é associado a algo ruim, o “bom” trabalho seria o do branco. Não dá para ser ingênuo e achar que não existe o teor racista, ainda mais quando associamos a outras dessas expressões que colocam o negro como o oposto de positivo, como:
3- “A coisa tá preta”
A expressão “a coisa tá preta” fala por si só: se a coisa está preta, é porque ela não está agradável, ou seja, uma situação desconfortável é o mesmo que uma situação negra? Isso é racismo.
4- “Mercado negro”
O mercado negro é aquele que promove ações ilegais, e mais uma vez é a palavra negro sendo usada com conotação desfavorável. O negro, na expressão, significa ilícito.
5- “Denegrir”
Já a palavra “denegrir” é recorrente quando acreditamos que estamos sendo difamados, é uma palavra vista como pejorativa, porém seu real significado é “tornar negro”. Se tornar algo negro é maldoso, temos mais um caso de racismo.
6- “Inveja branca”
Finalizando a leva de palavras e expressões que associam negro e preto à comportamentos negativos, o exemplo 6, que mostra a “inveja branca” como sendo a inveja boa, “positiva”.
7- “Da cor do pecado”
Outra expressão que faz a mesma associação de que negro = negativo, só que de forma mais subliminar, não recorrendo a termos como negro ou preto. Geralmente essa expressão é usada como elogio, porém vivemos em uma sociedade pautada na religião, onde pecar não é nada positivo, ser pecador é errado, e ter a sua pele associada ao pecado significa que ela é ruim. Não é uma expressão que remete a um adjetivo positivo, é simplesmente uma ofensa racista mascarada de exaltação à estética e, quase sempre, direcionada a mulheres negras.
8- “Morena”, “mulata” ( por vim seguidos de tipo exportação).
Usado para mulheres e homens, mas mais comum serem usadas para descrever as mulheres, principalmente quando seguidas pelo termo “tipo exportação”. Aqui o objetivo é amenizar o que somos, “clareando” o negro. Não existe justificativa para negar que alguém é negro, possivelmente você pode estar incomodado em dizer “negro”, e se está é porque acredita que chamar alguém de negro é ofensivo, sendo assim embranquece a pessoa – transformando-a em “morena” ou “mulata”, e isso é racismo.
9- Negra “de beleza exótica” ou com “traços finos”
O 8 e 9 são próximos, quando se imagina que ser uma mulher negra bonita é ser “tipo exportação”, ter “traços finos” e assim poder ser a dona de uma “beleza exótica”. Ser negro e poder ser considerado bonito está relacionado a não ter traços negros, mas sim aqueles próximos ao que a branquitude pauta como belo, que é o padrão de beleza europeu. Sim, isso é racismo, e dos mais comuns que a gente vê por ai, estão nos hipersexualizando e exotificando quando usam essas expressões.
10- “Não sou tuas negas”
Facilmente explicável se lembrarmos de que quando se tratava do comportamento para com as mulheres negras escravizadas, assédios e estupros eram recorrentes. A frase deixa explícita que com as negras pode tudo, e com as demais não se pode fazer o mesmo, e no tudo está incluso desfazer, assediar, mal tratar, etc, etc.
11- “Cabelo ruim”, “Cabelo de Bombril”, “Cabelo duro” e, a mais desnecessária, “Quando não está preso está armado”
A questão da negação da nossa estética é sempre comum quando vão se referir aos nosso cabelo Afro. São falas racistas usadas, principalmente na fase da infância, pelos colegas, porém que se perpetuam em universidades, ambientes de trabalho e até em programas de televisão, com a presença negra aumentando na mídia. Falar mal das características dos cabelos dos negros também é racismo.
12- “Nasceu com um pé na cozinha”
Expressão que faz associação com as origens, “ter o pé na cozinha” é literalmente ter origens negras. A mulher negra é sempre associada aos serviços domésticos, já que as escravas podiam ficar dentro das casas grandes na parte da cozinha, onde, inclusive, dormiam no chão (sua presença dentro da casa grande facilitava o assédio e estupro por parte dos senhores). Pós-abolição, continuamos sendo estereotipadas como as mulheres da cozinha, já que somos maioria nos serviços domésticos, visto todas as políticas que tentaram e tentam barrar a ascensão negra.
13- “Barriga suja”
Outro termo que faz relação à origem é usado quando a mulher tem um filho negro. Se ela teve um filho negro, algo impuro – como uma “barriga suja” – explica esse fato. É uma das que mais me causa desconforto.
É claro que existem inúmeras outras expressões que apontam claramente o racismo no cotidiano, e, infelizmente, inúmeras pessoas, mesmo sabendo dos fatos e tendo acesso às explicações, vão dizer que tudo é pura banalidade e, provavelmente, continuar usando essas palavras e expressões.
Quando apontamos racismo, a tendência é ouvirmos algo como “não sou racista, tenho amigos e/ou parentes negros”, ou ainda “eu conheço um negro e ele não liga”. O mais irônico é que, quando um negro reproduz conceitos racistas, que vão desde achar que não existe racismo a não se incomodar de ser chamado de moreno, ou achar desnecessárias todas essas explicações aqui dadas, ele logo é taxado como sendo “um negro de alma branca”. Traduzindo: usam uma fala racista para “louvar” seu comportamento não questionador.
É necessário empatia e consciência para que essas palavras e expressões sejam abandonas de vez. O objetivo desse texto é simples: ENEGRECER ideias.
Ilustração: Ana Maria Sena
Texto Por: Stephanie Ribeiro
Stephanie Ribeiro é militante feminista interseccional, apaixonada pela natureza e acredita na troca de energia com ela, principalmente quando está na água e pisando na terra. Adora escrever, por isso colabora com vários portais e mantém um caderninho preto de bolinhas, que combina com seu vestido preferido, onde escreve e desenha para se sentir feliz, que nem era quando criança. Você pode acompanhá-la por aqui.

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Mais uma agressão - a boneca "neguinha do espanador", da estrela fere a dignidade das crianças negras

http://www.geledes.org.br/neguinha-espanador-boneca-da-estrela-fere-dignidade-das-criancas-negras/#axzz3Pvb9u4zs

Neguinha-do-espanador
Luana Tolentino: “Choque, repulsa, raiva, meu sangue ferveu. Foi o que eu senti quando vi a foto da boneca, com a participação do MuBe e da Estrela. “
por Conceição Lemes no Viomundo
Muitos dos leitores assíduos do Viomundo  já conhecem um pouco Luana Tolentino, sua história, leram seus textos aqui.
Para quem está chegando aqui agora Luana teve uma infância e adolescência difíceis, como toda criança e adolescente pobre e negra. Foi faxineira, babá. Num desses empregos, a filha da patroa deu-lhe pão mofado para comer, enquanto a menininha mimada comia pão fresco e quentinho que Luana acabara de trazer da padaria..
Na raça, Luana deu a volta por cima. Hoje, aos 31 anos, é historiadora formada pela UN-BH e professora de História para o ensino fundamental numa escola pública de Belo Horizonte. É também ativista do movimento negro e de mulheres.
Pois a meia hora recebi de Luana um e-mail indignadíssimo com a boneca “Neguinha do Espanador”, que integra a exposição Mail Art Cupcake Surpresa, uma parceria do  MuBe — Museu Brasileiro de Escultura — e Brinquedos Estrela.
site do MuBe explica:
O Museu Brasileiro de Esculturas pediu para a Estrela, fabricante da Boneca Cupcake, fazer uma versão toda branca desta boneca. Elas foram mandadas, pelo correio, para vários artistas ou aspirantes ao redor do mundo, para que pudessem customizar a boneca da forma que quisessem (costurar, pintar, criar looks e cenários etc). O resultado é a concepção de uma série de obras com características particulares, dentre as quais vários toyarts, numa mistura de arte, moda e design, que o público vai poder conferir numa mostra de 80 bonecas.
Neste momento, a exposição Mail Art Cupcake Surpresa está no Shopping Market Place, em São Paulo, onde ficará até 8 de fevereiro.
“Na manhã de hoje, ao acessar o Faceboook, me deparei com a imagem da boneca ‘Neguinha do espanador’, compartilhada na página  Thaty Meneses“, conta. “Choque, repulsa, raiva, meu sangue ferveu. Foi o que eu senti quando vi a foto, participação do MuBe e da Estrela. ”
A  Thaty Meneses já tinha escrito no Face dela: 
a legenda da boneca negra diz tudo: Ela tem um espanador na mão. É assim que as crianças negras se vêem em todo lugar. Em pleno 2015, é assim que somos representados. – “Tem pouquíssimas bonecas negras e a maioria delas está estereotipada sim. apenas uma delas está representada como algo não folclórico ou subserviente . Se não é a Estrela a responsável pela criação das caracterizações, ela é responsável pela curadoria da exposição e deveria saber que é inadmissível essa “neguinha do espanador” . Porque ninguém teve o input criativo de caracterizar uma das bonecas brancas como a loirinha do espanador?
“Gostaria que antes de acusarem nós, negros, de sentirmos vergonha da nossa cor, de vermos racismo em tudo, as pessoas tentassem por um instante se colocar no nosso lugar. Gostaria também que imaginassem o sentimento de uma criança negra ao olhar para essa boneca”, atenta Luana.
“‘Neguinha do Espanador’ fere a dignidade das crianças negras, contribui para a negação do pertencimento racial  e a baixa auto-estima delas”, denuncia Luana.
– Por que não a boneca lourinha com o espanador? 
“Porque  a ideologia racista incutiu na maioria da população brasileira a ideia de que homens e mulheres negras estão fadados a ocupações de menor prestígio-socioeconômico, como domésticas, faxineiras, cozinheiras, porteiros”, detona Luana.
“Nós, negras e negros, não aceitamos que nossas crianças sejam representadas como seres inferiores, destituídos de beleza e associados somente à profissões de menor prestígio social”, vai mais fundo Luana. “É sabido que no Brasil o emprego doméstico é ocupado majoritariamente por mulheres negras, na maioria das vezes, em situação degradante, com baixos salários, carga horária extensa e sem o recebimento de direitos trabalhistas.”
Na avaliação de Luana Tolentino, a boneca “Neguinha do Espanador” é ato de racismo explícito.
Por isso, já enviou à Ouvidoria da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial — a Seppir, da Presidência da República, esta denúncia:
Venho por meio desta denunciar a fabricante de Brinquedos Estrela.
Em exposição realizada no Shopping Market Place, na cidade de São Paulo, foi exposta a boneca “Neguinha do Espanador”, criada por Rita Caruso.
O brinquedo representa as crianças negras de maneira inferiorizada e ainda associa o povo negro às profissões de menor prestígio.
É sabido que o emprego doméstico é ocupado majoritariamente por mulheres negras, e na maioria das vezes em situação degradante, com extensa carga horária e sem direitos trabalhistas.
Acredito que a boneca fere a dignidade das crianças. Contribuiu para a negação do pertencimento racial  e para a baixa auto-estima. Acredito ainda que as crianças podem ser alvo de xingamentos e discriminação em função da boneca.
Encaminho uma foto para endossar a minha denúncia.
Certa de que providências serão tomadas, agradeço.
Luana solicita aos leitores que façam o mesmo. Basta enviar uma mensagem para ouvidoria@seppir.gov.br, com a imagem da boneca, o nome completo, identidade, CPF e o endereço do denunciante.
26/1/2015Geledés Instituto da Mulher Negra

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sábado, 24 de janeiro de 2015

A violência no Brasil tem cor


https://anistia.org.br/tragedia-de-ferguson-e-rotina-brasil/

A violência no Brasil tem cor

Atila Roque
Diretor executivo da Anistia Internacional Brasil
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©AF Rodrigues
Artigo publicado na revista Carta Capital em 9 de janeiro de 2015
Cinco jovens foram assassinados em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense: um com 12 anos, um com 14, um com 15 e dois com 18. Um sexto jovem, com 12 anos, sobreviveu à tentativa de homicídio. Eram seis jovens, mas este crime não mereceu destaque em nenhum jornal, tampouco o pronunciamento de nenhuma autoridade.
O assassinato de Michael Brown, em agosto, ocorreu num subúrbio negro e pobre dos Estados Unidos. O mesmo acontece todos os dias no Brasil. Os jovens negros são os mais afetados pela violência e sabemos que uma parte destes homicídios é decorrente de intervenção policial. Tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil há uma herança de exclusão social e discriminação associada a juventude negra, que deve ser amplamente discutida e repudiada. A diferença é que no caso dos Estados Unidos, a morte desse jovem pela polícia provocou comoção e revolta, enquanto no Brasil raramente chega aos ouvidos da maioria da população. A sociedade convive com isso como se a morte violenta fosse o destino inevitável desses jovens. Não é.
Um dos desafios de grandes pensadores do século XX foi tentar entender como tantos alemães tornaram rotina lidar com a brutalidade da tragédia que ocorria por lá durante o holocausto. Hannah Arendt descreveu esse fenômeno como a banalização do mal. A ideia contemporânea de Direitos Humanos surge daí. A sociedade, o Estado, todos devemos nos sensibilizar, nos chocar, quando se violam direitos, quando se produzem tragédias. Alguns pensam: “O mundo é mesmo um lugar violento”. Não. Violento mesmo é o Brasil. Em 30 anos foram cerca de 1 milhão de pessoas assassinadas. O Brasil é responsável por 10% dos homicídios do mundo! Mata-se mais por aqui do que somados os principais conflitos armados do planeta. Achar isso banal é entregar-se à epidemia da indiferença.
São 56 mil homicídios no Brasil por ano. Desse total, 30 mil tinham idade entre 15 e 29 anos. É razoável lidar com esta naturalidade com o homicídio em massa de jovens? E por quê? Não nos enganemos. Os que morrem são em sua maioria negros, são pobres, são invisíveis. Não pensamos que, por trás do número de um milhão de mortos, há um milhão de mães, de familiares, de vidas roubadas, histórias interrompidas. Tornamos tudo isso invisível.
Por isso a Anistia Internacional lançou recentemente a campanha “Jovem Negro Vivo”, com o objetivo de romper com o silêncio e a indiferença da sociedade e do estado em relação a essas mortes. A morte violenta não pode ser aceita como destino de tantos jovens.
E a curva de crescimento continua ascendente. Nos últimos dez anos, por exemplo, a violência letal entre os jovens brancos caiu 32,3% e entre os jovens negros aumentou 32,4%. Ou seja, os homicídios de jovens negros são um dos principais pilares que sustentam o aumento das mortes. O outro pilar é a indiferença com a qual a sociedade e o estado tratam essas mortes, como se já tivessem passado a fazer parte da paisagem natural de nossas cidades.
Há muitas causas para o problema dos homicídios no Brasil. Uma delas consiste no sistema de Justiça e Segurança Pública, que tem sido historicamente marcado por uma distribuição seletiva da justiça e da impunidade. Um sistema altamente ineficaz no combate à criminalidade, profundamente marcado pela violência policial e por prisões conhecidas por suas “condições medievais”, em palavras de José Eduardo Cardozo, Ministro da Justiça.
Uma parte significativa da letalidade decorre de ações das polícias. Não é exagero dizer que as polícias no Brasil se encontram entre as que mais matam e morrem no mundo. Os dados divulgados recentemente pelo Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que 490 policiais tiveram mortes violentas no ano de 2013. Nos últimos 5 anos (2009-2011) a soma é de 1.770 policiais vitimados. Cerca de 75,3% foram mortos fora do horário de serviço. No mesmo período, as polícias brasileiras mataram em serviço – em nome do Estado, ou seja, de cada um de nós – 11.197 pessoas, o equivalente ao que as polícias dos EUA mataram em 30 anos. Esse quadro é o resultado do fracasso de uma política de segurança que estabeleceu a guerra como paradigma de ação, onde os inimigos são, em grande medida, os jovens das favelas e das periferias de nossas cidades, em grande maioria negros.
Outro motivo é a impunidade. O Brasil prende muito e mal. Menos de 8% dos homicídios no Brasil resultam em processos criminais. Há uma deficiência na investigação, com a existência de duas polícias (Civil e Militar) que pouco dialogam, além de outras questões como a falta de perícia, pouco uso de inteligência, falta de dados, planejamento e coordenação institucional e federativa. Somos o 4º país em população carcerária, atrás apenas de Estados Unidos, China e Rússia. As condições são péssimas: de alojamento, de alimentação, de justiça. Superlotação, torturas, condições de higiene precárias, revistas vexatórias em familiares – incluindo crianças – e toda a sorte de punições para quem cometeu delitos são comuns.
Ferguson e Brasil têm muito em comum, mas os americanos estão um passo à frente para a resolução do problema. Eles admitem que há um problema em matar jovens, negros, desarmados. E estão nas ruas dizendo isso de maneira contundente para que o mundo possa ouvir. No Brasil ainda prevalece o silêncio cúmplice.
Não se resolve o problema da segurança pública com um passe de mágica, porém o primeiro passo é perceber que a tragédia não é banal, não pode ser uma nota escondida no jornal. É preciso romper com uma espécie de pacto de silêncio que se estabeleceu em relação a essas mortes, com raras exceções. A indiferença da sociedade com tantas vidas perdidas é uma das nossas maiores vergonhas. Todas as mortes representam uma tragédia e perda irreversíveis. A sociedade tem um papel estratégico na pressão para que esta realidade mude. Não queremos entrar para História como outra geração que tolerou o extermínio.
Entre em ação: Assine o manifesto da campanha Jovem Negro Vivo e diga chega de homicídios!
Atila Roque
Diretor executivo da Anistia Internacional Brasil
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Celso Antonio Bandeira de Mello - Brasilianas.org 12.01.2015

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Sou mulher, sou negra, sou da favela e hoje sou médica.

http://www.geledes.org.br/sou-mulher-sou-negrasou-da-favela-e-hoje-sou-medica/#axzz3PQT6IQhX

Sou mulher, sou negra,sou da favela e hoje sou médica

Publicado há 3 dias - em 18 de janeiro de 2015 » Atualizado às 9:29
Categoria » Mulher Negra
Sou mulher, sou negra,sou da favela e hoje sou médica
William Martins
Ariana Reis, 32 anos, chegou ao fim de 14 anos dedicados à universidade: três de preparação para as provas de acesso, cinco do curso de Pedagogia, seis do de Medicina. No convite para a cerimónia de formatura, terminava com o seguinte: “Sou mulher, sou negra, sou da favela e hoje sou médica.”
Porque “é difícil”. Porque Ariana é a grande excepção num Brasil onde é raro encontrarem-se médicos negros nos hospitais. A “caçula” de 12 irmãos foi a primeira a ir para a universidade. Era a única mulher negra da sua turma na Faculdade de Tecnologia e Ciências da Bahia. Em seis anos a estudar Medicina, cruzou-se com apenas duas estudantes negras de outros anos. “Nos hospitais sempre me confundem com a menina que limpa o chão. Se cai qualquer coisa: ‘Você vem aqui, pega o pano, limpa.’ Quantas vezes eu já ouvi isso? Muitas vezes. [Olham para mim]: ‘Ah, é a enfermeira, a técnica.’ Se estou sentada lá na mesa — sabem que é um médico que está ali na mesa — [perguntam]: ‘É você? Ah…’” E Ariana responde: “Vou chamar a pessoa responsável por isso.” Ou então mostra o distintivo na bata: “Está aqui, sou médica.”
Isto acontece com pacientes brancos e negros: “Na verdade, os brancos ficam mais impressionados. Os negros me abordam mais porque não estão acostumados a ver na sua comunidade pessoas em cargos assim de mais prestígio.” Ariana tenta mudar o olhar de quem a ofendeu: um negro não faz só limpezas, é possível que uma médica seja negra.
De facto, ela raramente se cruza com médicas negras — médicos ainda vai vendo, mas poucos. Cresceu a ouvir: “Negro não presta.” E por isso: “Cresci dizendo: ‘Meu Deus, eu sou negra e negro não presta.’ Não tinha orgulho de ser negra. Meu pai era o primeiro a dizer que negro não presta, que negro faz sempre coisa ruim e que não é para ter orgulho de ser negro — ele sendo negro.”
Mas o pai, pedreiro, morreu com orgulho da filha negra. Estava bastante doente, com Alzheimer, quando Ariana soube que tinha conseguido a bolsa para entrar em Medicina — cancelando assim o curso de Pedagogia que estava quase no fim. Chegou a casa, e contou: “Pai, passei em Medicina. Eu acho que ele entendeu. No outro dia faleceu. Isso é uma dor para mim. Ironia do destino, né? Filha passando em Medicina, pai falecendo no outro dia.”
Apesar de tudo, quando pedia dinheiro para livros, para a escola, ele dava. “Era o maior sacrifício.” Mas ele dava. Na época de aulas, tinha o costume de a esperar à noite nas paragens de autocarro, porque o bairro era perigoso e “tem que ficar olhando”. “Sempre me incentivou. Sempre.”
Ela cresceu a ouvir que negro não presta, mas cresceu também a dizer que queria ser médica. Aos 15 anos, estava num hospital com o sobrinho que tinha caído. Virou-se para o médico, até ali brincalhão, “dando risada”, e disse: “Olha, eu estudo muito para ser médica como você.’ Houve um silêncio da parte dele. Aquele que estava brincando, sorrindo, conversando com a gente se fechou. E aí, como eu falo muito baixo, [pensei] que ele não ouviu, falei mais alto: ‘Olha eu estudo muito porque quero ser médica como você, como o senhor.’ Aí ele virou, olhou para mim como se dissesse: ‘Ponha-se no seu lugar, você não vai conseguir.’ [Pausa] Saí dali arrasada. Arrasada.”
Tinha levado “um balde de água fria”. “Mas não desisti por isso, não.” Afinal, Ariana é conhecida por ser “do contra”: “Se tinha aquilo para fazer e ninguém conseguia, eu ficava, ficava, ficava até conseguir.”
Tentou Medicina, antes de entrar em Pedagogia, por três vezes. Numa delas, em que “não passou”, chegou a casa, à varanda de um apartamento numa favela, e “chorou, chorou, chorou”, lembra a mãe, no mesmo sítio, agora numa noite de Fevereiro, já com a filha formada. E o irmão a dizer-lhe: “Você vai alcançar, vai alcançar.”
O irmão não está em casa da mãe na noite em que lá vamos, mas estão algumas das irmãs, sobrinhas e sobrinhos. Os jovens sentam-se na sala, logo à entrada, agarrados aos telemóveis e a olhar para o ecrã da enorme televisão. Vê-se logo a fotografia da cerimónia de formatura de Ariana, em formato gigante: ela de bata, cabelo arranjado, maquilhada. Morro acima, vivem as irmãs, noutras casas. Foi naquela sala que ela estudou e continua a estudar Medicina, com gente a entrar e a sair. No edifício ao lado, fiéis de uma Igreja Evangélica cantam alto, batem palmas.
Quando entrou em Medicina, pagava três mil reais por mês (cerca de 920 euros) — mas tinha uma bolsa do ProUni, um programa do Ministério da Educação que paga 50% da mensalidade a alunos em instituições privadas. Quando estudou Pedagogia, fê-lo ao abrigo das cotas raciais, uma das políticas de acção afirmativa no Brasil que pretendem aumentar a percentagem de população negra nas universidades.
No segundo país com a maior população negra do mundo a seguir à Nigéria, ser negro é pertencer a uma maioria de 51% da população de 200 milhões. Mas o último Censos, de 2010, mostrava que apenas 26% dos universitários eram negros; e apenas 2,66% dos alunos que terminaram o curso de Medicina eram negros, num estudo feito pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais para o canal UOL. Estes números explicam-se, em parte, com a despesa da educação no Brasil: quem estuda em escolas privadas até ao fim do secundário tem mais hipóteses de entrar nas universidades públicas, as melhores.
Para conseguir pagar a universidade privada, Ariana fez uns trabalhos avulsos, como limpar a casa da irmã ou ajudar alguns colegas na faculdade. “É muito difícil. Consegui entrar na universidade porque cheguei num tempo em que meus irmãos já estavam trabalhando e puderam me ajudar também. As cotas ajudam e muito. Como é que a gente que vem da escola pública vai concorrer com esse pessoal da escola privada que não passou por greves de professores e de funcionários? É-lhes cobrado desde que nascem: ‘Vocês têm que ter um nível superior.’ Têm espelhos na família: médicos, engenheiros, professores. Nas famílias pobres, a maioria negras, a mãe é dona de casa, o pai é pedreiro, o pai está desempregado, o pai é bandido, o pai é ladrão.”
Ela estava entre os melhores da turma, diz. Em cirurgia, foi considerada a aluna-padrão. A diferença em relação aos outros é que tudo custava muito mais: saía de casa de madrugada para não apanhar engarrafamentos e garantir que estava nas aulas a tempo e horas, fazia “ginástica” ao dinheiro porque tinha de passar um dia inteiro fora de casa, tinha de comprar livros caríssimos, alguns a “mil, dois mil reais”…
Voltamos à história do convite. Queremos saber o significado daquela frase que ela colocou no final: “Mulher já é discriminada por si só, tem salários inferiores aos dos homens, se for negra ainda pior. Da favela, o pessoal acha que é ladrão. Virei médica: isso é possível.”
Para se ter uma ideia do que diz: com o mesmo nível de escolaridade, as mulheres brancas ganham 68,7% do salário dos homens brancos, enquanto os homens negros ganham metade e as mulheres negras menos ainda, 38,5% (dados retirados do estudo Igualdade Racial no Brasil: reflexões no Ano Internacional dos Afrodescendentes, 2013, IPEA).
Ariana está num hospital militar como voluntária (mas tem um salário). Quer fazer bancos em hospitais do interior para ganhar algum dinheiro e estudar para fazer a prova de cirurgia geral. “Vou cursar dois anos de cirurgia geral em hospitais e terminando os dois anos vou prestar novamente prova para fazer residência em cirurgia pediátrica durante três anos.” Cirurgia porquê? “Gosto de resolver. E cirurgião resolve muito.”

Fonte: Hoje Tem

domingo, 18 de janeiro de 2015

MODA - modelo plus size

https://www.facebook.com/Torrid/photos/a.153770258932.141355.10236898932/10152981820798933/?type=1&theater

Racismo nos EUA - crianças negras são vistas como ameaças ao brancos.

No Brasil, não é diferente!

http://www.brasil247.com/pt/247/revista_oasis/166470/Racismo-americano-Nos-EUA-crian%C3%A7as-negras-s%C3%A3o-vistas-como-amea%C3%A7as-aos-brancos.htm

domingo, 4 de janeiro de 2015

A história do holocausto negro


http://blogs.odia.ig.com.br/guia-das-comunidades/2014/11/03/a-historia-do-holocausto-negro/

A HISTÓRIA DO HOLOCAUSTO NEGRO


Aos pés da Providência, antigo cemitério de crianças escravas mortas em navios negreiros vira museu e preserva a memória do período
A casa de Merced Guimarães virou museu. FOTO: ESTEFAN RADOVICZ
A casa de Merced Guimarães virou museu. FOTO: ESTEFAN RADOVICZ
Um tapa na cara. Quem passa pelo número 36 da Rua Pedro Ernesto, na Gamboa, nos fundos da Providência, não faz ideia da histórica tristeza que o casarão abriga. Lá funcionou um cemitério de crianças escravizadas na África que chegavam mortas ao Brasil, após a longa travessia pelo Atlântico. Ao menos 50 mil ‘pretos novos’ (daí o nome) foram sepultados no terreno entre os séculos 18 e 19 — alguns vivos, segundo a história. Hoje o lugar se transformou num museu, formalmente conhecido como Instituto Pretos Novos. O antropólogo italiano André Cialo, 40 anos, é um dos mais de oito mil visitantes assíduos que o instituto recebe anualmente. “Estou fazendo minha tese de pós-doutorado baseado nos sindicatos de ex-trabalhadores de café. Então sempre passo por aqui procurando algum dado, alguma informação”, diz.
O que hoje é um centro de estudos tido como referência no mundo inteiro, foi uma triste mancha, um verdadeiro holocausto negro que acabou enterrado sob toneladas de cimento e transformado em habitação de senhores. Sua história é curiosa. Em 1990, a empresária Merced Guimarães e seu marido compraram a casa perto do Centro, para criar as filhas pequenas. Durante a reforma, descobriram várias ossadas e, após pesquisas, a revelação: estavam sobre um sítio arqueológico de triste memória.
Hoje, parte dos achados está espalhada aos pés dos visitantes, encravados no piso, onde foram escavados e protegidos por redomas de vidro. Tudo pode ser fotografado, tudo está ao alcance dos olhos.
“As crianças vinham nos navios negreiros, ficavam doentes e ninguém queria cuidar delas. Então, quando desembarcavam, jogavam aqui”, narra Merced. Jogar não é uma maneira informal de dizer: é exatamente o que acontecia. Tamanho é o espanto da equipe que Merced faz questão de apresentar a casa e documentos que comprovam as suas falas. Ela mostra o trecho de uma carta em que um missionário narra como eram os sepultamentos: “Causa horror ao mais indiferente passante. Sem esquife, muitas vezes sem a menor peça de roupa, são atirados numa cova que nem tem dois pés de profundidade. Dois negros conduzem o morto para a sepultura, em uma padiola ou rede presa a comprida vara, atiram-no no buraco, como a um cão morto, põem um pouco de terra solta por cima e então (…) socam-no com pesados tocos de madeira, de forma que acaba formando-se um horrível mingau de terra, sangue e excrementos”, narra C. Seidler (1834).
As lágrimas caem dos olhos de Merced. Anos se passaram, mas ela não se acostuma. “Impossível ficar indiferente, mesmo após tantos anos. As crianças eram consideradas menos que nada.” É difícil não chorar junto. Para quem quer entender um pouco do Brasil, do Rio e das favelas, uma passada pelo Museu dos Pretos Novos é fundamental. Lá, tudo é permitido — até chorar.
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