segunda-feira, 25 de maio de 2015

Imagens raras da Bahia


http://atarde.uol.com.br/cultura/noticias/1681937-imagens-raras-da-bahia-vao-virar-dvd-e-livro-premium

             Imagens raras da Bahia vão virar DVD e livro

Verena Paranhos | Cachoeira, BA

  • Anacostia Museum, Smithsonian Institution, Washington, D.C. (EUA) | Divulgação
    Registro inédito de Menininha do Gantois (3ª da D p /E) e filhas de santo - Foto: Anacostia Museum, Smithsonian Institution, Washington, D.C. (EUA) | Divulgação
    Registro inédito de Menininha do Gantois (3ª da D p /E) e filhas de santo
Xavier Vatin  não imaginava o que poderia encontrar no acervo de gravações antropológicas da Universidade de Indiana (Estados Unidos), um dos maiores do mundo, quando resolveu fazer pós-doutorado na instituição.
Em sua pesquisa, o professor da Universidade Federal do Recôncavo  da Bahia (UFRB) se deparou com um tesouro desconhecido pelos brasileiros: 52 horas de gravações feitas  pelo linguista norte-americano  Lorenzo Turner entre 1940 e 1941, em  sua passagem pela Bahia, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Sergipe e Mato Grosso.
"Eu não conhecia Lorenzo Turner,  um  neto de escravos da Carolina do Norte,  o primeiro linguista a se formar em Havard e a  mostrar que existiam línguas criolas no país. Ele tem uma história de família incrível: em duas gerações foi da escravidão à excelência acadêmica".
A pesquisa de Vatin recentemente ganhou repercussão nacional por conta da descoberta de uma gravação rara que reproduz a voz do poeta Mário de Andrade (1893 - 1945), inexistente no Brasil.
Na época, a tecnologia era  cara e literalmente pesada: os equipamentos e discos de alumínio que guardavam as gravações totalizavam cerca de 250 quilos, um obstáculo a mais para quem viajava em navio a vapor. 
Expedição Bahia
No entanto, o que desperta o interesse do etnomusicólogo são as 17 horas gravadas  por Turner em terreiros de candomblé baianos durante sete meses, nos quais registrou filhos e filhas de santo e  sacerdotes  como Martiniano Eliseu do Bonfim, Manoel Falefá, Mãe Menininha do Gantois e  o jovem Joãozinho da Gomeia.
"Cada minuto é muito precioso. A primeira coisa que eu ouvi foi uma gravação de Mãe Menininha, aos 35 anos, isso me fez chorar. São centenas de cantigas e rezas, além de ritos funerários gravados em diversos terreiros de Salvador, Cachoeira, São Félix, Santo Amaro. O precioso para o povo de santo é que muitas dessas canções e rezas se perderam", explica.
Vatin percorreu 5.000 quilômetros nos Estados Unidos para reunir também as fotografias e anotações de Turner feitas na expedição baiana.
O repatriamento do material vai dar origem a  um CD duplo que será restituído aos terreiros, um livro e uma exposição fotográfica, cuja estreia está marcada para julho, no Museu Afro Brasil, em São Paulo.
"O que acho extraordinário, tanto na fotografia, como nas gravações sonoras, é que Turner traz  literalmente a presença dessas pessoas. Talvez por ser negro, ele deu voz ao povo de santo como ninguém fez", defende o estudioso da musicalidade do candomblé.
Segundo Vatin, Turner foi pioneiro na década em que a Bahia se tornou  referência para os estudos sobre a diáspora africana, antecedendo antropólogos como Pierre Verger, que aportou aqui em 1946.
Entre 1937 e 1946, importantes pesquisadores seguiram os vestígios quase que intactos de elementos africanos no estado. "Neste período, a Bahia foi laboratório de pesquisadores da cultura negra como Ruth Landers,  Verger, Melville Herskovits, Roger Bastide, Edson Carneiro, Arthur Ramos. O trabalho de Turner ficou 72 anos esquecido. Se esse homem não fosse negro, com certeza seria muito mais conhecido", opina o francês radicado na Bahia há 23 anos.
Turner pesquisava as línguas criolas faladas  no Sul dos EUA por descendentes de escravos africanos e foi atraído pela Bahia depois de saber que nos terreiros daqui as pessoas falavam fluentemente iorubá, kibungo e fon, entre outras línguas.
"Essas gravações são os únicos documentos que a gente tem que comprovam que  na década de 1940 as línguas africanas eram ainda faladas dentro dos terreiros. Além de uma mina de ouro para o povo de santo, esse material mostra que há muito tempo vem pessoas do mundo inteiro aqui para pesquisar essa cultura. Este trabalho é uma forma de reforçar a legitimidade da cultura afrobrasileira através da tradição do candomblé".

Quilombos Minas Gerais


http://www.mgquilombo.com.br/site/Artigos/bens-quilombolas-materias-e-imateriais/dia-da-dignidade-negra-mineira.html

DIA DA DIGNIDADE NEGRA MINEIRA Imprimir E-mail

Escrito por Tejota   
Ter, 19 de Agosto de 2014 21:29
A sete de setembro de 1759, no Quilombo da Pernaíba, junto às nascentes do córrego Feio, afluente direito do rio Dourados, morreu em batalha o negro Ambrósio, pai e rei de todos os quilombos do Campo Grande, confederação de vilarejos esparramados pelos atuais Centro, Centro-oeste, Alto São Francisco, Alto Paranaíba, Sudoeste e Triângulo mineiros.
A capital do Campo Grande, que até 1746 situava-se na região das atuais Arcos, Formiga, Pains e Cristais, após a Primeira Guerra Quilombola – apesar das tropas de Antônio João de Oliveira NÃO terem vencido os quilombolas e de ter o Rei Ambrósio saído ileso,  resolveu este a mudar sua capital para a região hoje situada entre Campos Altos e Ibiá.
Uma semana antes do ataque de 1759, vendo a superioridade das tropas comandadas por Bartolomeu Bueno do Prado, o Rei Ambrósio e sua corte se deslocaram para o acima citado Quilombo da Pernaíba, situado a nordeste da atual cidade de Patrocínio, também dentro do Triângulo Mineiro.
Nessa época o Triângulo não era mineiro. Percorrida pelos paulistas desde meados dos anos seiscentos a região entre os rios Grande e Paranaíba, até 1748, pertencia à Capitania de São Paulo. Extinta a capitania paulista (sim, a Capitania de São Paulo foi extinta em 1748), nesse mesmo ano foram simultaneamente criadas as capitanias autônomas de Mato Grosso e Goiás. O decreto real que criou a Capitania de Goiás já trouxe suas fronteiras sul até o rio Grande, ficando, assim, lhe pertencendo o Triângulo que era paulista e, assim, se tornou Goiano. Mas nunca fora Mineiro.
O governo português das Minas Gerais, sentindo grande vergonha por não ter conseguido derrotar o Rei Ambrósio em 1746, contratou Inácio Correia Pamplona – o maior mentiroso que já se viu nas Minas Gerais – para que este esparramasse mil versões falsas dizendo que o Rei Ambrósio fora morto em 1746 e que tanto essa guerra como a de 1759 teriam ocorrido dentro do Triângulo para, com essas mentiras, conseguir também roubar o Triângulo de Goiás e transferi-lo para Minas, fato que foi conseguido somente em 1816, sendo que as igrejas do Triângulo ainda continuaram a pertencer ao bispado de Goiás até inícios do século XX. Uma forma rápida de calar a boca dos falsos sabichões é mostrar-lhes mapas de Minas Gerais até 1815-1816 e pedir-lhes que expliquem, então, porque, nesses mapas, Minas não tinha “nariz”, ou seja, não tinha anexado ao seu território o nosso atual Triângulo Mineiro.
O Triângulo, hoje, sem dúvida é Mineiro. Mas não vale à pena continuar a mentir tanto para justificar esse esbulho que praticamos contra Goiás se, com essas mentiras, estamos também roubando a gloriosa História do Campo Grande e também a dignidade dos negros de Minas Gerais e de Goiás.
Sim, é por isso que o MGQUILOMBO está há anos divulgando pesquisas e estudos sérios que acusaram essa História de Minas Roubada do Povo, devolveram essa História ao Povo e, finalmente, mostraram quem roubou essa História do Povo.
O Quilombo do Campo Grande foi três vezes maior que Palmares em número de vilas. Até 1750 agregou pretos fugidos da escravidão, além de pretos forros, brancos pobres e seus ex-escravos, todos fugidos do terrível Sistema Tributário da Capitação. Em 1750, extinto esse tributo, o Rei Ambrósio que era negro livre e rico poderia ter voltado a viver nas vilas dos brancos. Mas, ao invés disso, preferiu continuar a liderar os escravos fugidos e proscritos para, com eles, nos ensinar a morrer, se preciso for, em defesa da honra, da dignidade e da liberdade que a Coroa portuguesa quis destruir nos negros que escravizou desde África.
Defendendo o quilombo

Assim, a dignidade negra ficou sublimada em 7 de setembro de 1759, quando o Rei Ambrósio e seus valentes tombaram em batalha terrível no Quilombo da Pernaíba. O MGQUILOMBO conclama os negros mineiros e goianos a que olhem para frente e para o alto com a dignidade de quem tem antepassados que nunca se renderam a qualquer opressão. A História emergiu das cinzas de velhos mapas e documentos e está VIVA. Quem tem história tem dignidade. Essa História é nossa. Reaprendam-na e a ensinem a seus filhos e netos.  Viva 7 de setembro! Viva o Rei Ambrósio!
Tarcísio José Martins
Membro Efetivo do IHGMG
Cad. nº 92 – Teodoro Sampaio

VEJA MAIS

Sobre a Primeira Guerra Quilombola, em 1746

Sobre a Segunda Guerra Quilombola, em 1759-1760
 Notícias Completas sobre as duas Guerras aos Quilombos do Campo Grande

Comunidade virtual para discutir violência contra jovens negros

http://www.seppir.gov.br/noticias/ultimas_noticias/2015/05/cpi-cria-comunidade-virtual-para-discutir-violencia-contra-jovens-negros

CPI cria comunidade virtual para discutir violência contra jovens negros

Data: 11/05/2015
A Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) está acompanhando de perto os trabalhos da Comissão de Inquérito Parlamentar (CPI) que investiga casos de violência contra jovens negros e pobres. A Comissão foi instalada em março de 2015 e tem até seis meses para apresentar seu parecer final. Ao longo desse período, qualquer cidadão poderá contribuir com o debate, por meio de uma comunidade virtual, criada para estimular a participação de toda a sociedade brasileira. Para acessar e integrar o Fórum, basta acessar o endereço http://edemocracia.camara.gov.br/web/public/comunidades

Além de acompanhar as audiências públicas que acontecem na Câmara dos Deputados, às terças e quintas-feiras, a Seppir está participando de algumas diligências que a Comissão  realiza fora de Brasília, em localidades que concentram os maiores índices de violência contra esses jovens, como é o caso da cidade do Rio de Janeiro. As audiências externas ocorrem às segundas-feiras, quando os integrantes da CPI se deslocam a outros estados para realizar diligências, levantar informações e diagnósticos que irão auxiliar o parecer final da Comissão.
 
A metodologia é defendida pela relatora da CPI, a deputada Rosângela Gomes (PRB/RJ), que afirma ser necessário ouvir a sociedade como um todo para produzir um documento relevante, que contribua para a superação efetiva desse tipo de violência.
 
Na audiência pública realizada na Assembleia Legislativa da Bahia, o jovem Geovan Bantu, que representa o Fórum Nacional de Juventude Negra de Salvador, destacou que o racismo tem sido a principal causa da morte de jovens negros, afirmando que ele próprio se encaixa no perfil de "suspeito padrão", ou seja, o negro com idade entre 15 e 29 anos e morador da periferia. Segundo Bantu, essa imagem está inserida na sociedade e nas instituições, principalmente na Polícia, que vê esse jovem como inimigo do Estado.
 
Geovan Bantu aproveitou a audiência para manifestar o repúdio do movimento baiano à proposta de redução da maioridade penal e cobrar providências das autoridades contra a banalização das mortes dos jovens negros. "O corpo de um negro no chão é visto como algo normal. Da mesma forma que parece natural um menino preto vendendo balas em um semáforo. As pessoas pensam que aquele menino faz parte da paisagem, daquele cenário”.
 
Entre as pessoas já convocadas pela CPI está o sociólogo e pesquisador Julio Jacobo Waiselfisz, autor do Mapa da Violência, documento que subsidiou a elaboração do Plano Juventude Viva e que está sendo utilizado pelos parlamentares da Comissão.  Em sua fala, o pesquisador afirmou que o alto índice de homicídios de jovens negros ocorre, sobretudo, pela elevada taxa de impunidade e pela ideia de que os negros da periferia são os grandes responsáveis pela criminalidade no país. O autor do Mapa da Violência se posicionou contrário à redução da maioridade penal e destacou que o Brasil precisa colocar em prática as leis já existentes, a exemplo do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que é reconhecido como exemplo pela comunidade internacional.
 
Já o deputado Davidson Magalhães (PCdoB/BA), que requisitou a presença do pesquisador, afirmou que essas mortes exigem a implementação imediata de políticas públicas. “Precisamos efetuar mudanças na legislação brasileira, que é mais rigorosa com os crimes contra o patrimônio do que com os crimes contra pessoas, além de intensificar a política de desarmamento no Brasil”.
 
Para o presidente da CPI, o deputado Reginaldo Lopes (PT/MG), o problema é grave e exige uma resposta efetiva do Estado. “O que está acontecendo no país é um genocídio em relação aos jovens negros e precisamos de ações específicas para combater essa violência.”
 
A expectativa é que, ao final dos trabalhos, a Comissão apresente sugestões concretas para que o Brasil enfrente e supere esse problema, respondendo a uma reivindicação antiga dos movimentos sociais, em especial do Movimento Negro.
 
As atividades da Comissão podem ser acompanhadas pelo site da Câmara dos Deputados no link http://migre.me/pOHpa
 
Juventude Viva - A Seppir, em parceria com a Secretaria Nacional de Juventude, coordena o Plano Juventude Viva, que foi instituído em 2012 com o objetivo de prevenir a violência contra a juventude negra. O Plano, que nesse momento passa por uma reestruturação, reúne ações de onze Ministérios, com foco na redução da vulnerabilidade dos jovens com idade entre 15 e 29 anos e criação de oportunidades de inclusão social e autonomia desse público.
 
A iniciativa prioriza 142 municípios brasileiros, distribuídos em 26 estados e no Distrito Federal, que em 2010 concentravam 70% dos homicídios de jovens negros, incluindo todas as capitais.  Ao todo são articuladas ações de 44 programas em 96 municípios. Até junho de 2014 foram empenhados R$ 600 milhões destinados ao Plano. Para saber mais acesse www.juventude.gov.br/juventudeviva
 
 

DIA DA ÁFRICA



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O dia 25 de maio de 1963 marca a criação da Organização da Unidade Africana (hoje União Africana), uma aliança pelo progresso dos estados africanos, motivada pelo grande número de países que conquistaram a independência em pouco tempo. Seu objetivo era promover a unidade e cooperação pela erradicação do colonialismo e enfrentamento da apropriação forçada de suas riquezas naturais e humanas. A data se tornou O Dia da África, a celebração da complexidade e da diversidade cultural de um continente ferido pelo etnocentrismo estrangeiro. #CanalCurta #DiadaÁfrica


sábado, 23 de maio de 2015

Por que matamos tantos jovens negros no Brasil?


http://www.cartacapital.com.br/sociedade/por-que-matamos-tantos-jovens-negros-no-brasil-2387.html

Violência Urbana

Por que matamos tantos jovens negros no Brasil?

por Ana Paula Pelegrino* — publicado 15/01/2015 08h57, última modificação 15/01/2015 16h03
O motivo é estarmos em guerra contra um inimigo definido, as drogas; para salvar a sociedade de seus efeitos adversos, assassinamos quem tentávamos defender
Moacyr Lopes Jr. / Folhapress
O ano de 2013 marcou os 20 anos de dois tristes episódios da história recente: as chacinas de Vigário Geral e da Candelária. O que elas tiveram em comum? Em rompantes de violência extrajudicial, policiais militares mataram inocentes, muitos deles jovens. Ambas são expoentes trágicos de um problema cotidiano.
São jovens brasileiros – em sua maioria homens e negros, moradores das periferias de áreas metropolitanas – os mais atingidos pela violência no País. De acordo com o Mapa da Violência 2014, enquanto a taxa de homicídios entre a população não jovem é de 14,9 a cada 100 mil habitantes, entre jovens de 15 a 29 anos ela chega a 42,9, durante o período 1980 a 2011. No mesmo intervalo, homicídios foram responsáveis por 28,5% das mortes de jovens no País, mas foi causa apenas de 2% dos óbitos da população não jovem. Foram mortos, no mesmo período, 20.852 jovens negros, um número três vezes maior que o número de homicídios de jovens brancos.
Mais preocupante ainda é a tendência que se anuncia: uma progressiva queda no número de homicídios de jovens brancos, acompanhada do aumento das mortes de jovens negros.
Infelizmente, essas estatísticas são velhas conhecidos da juventude brasileira. A questão começou a ser debatida no âmbito do Governo Federal quando foi lançado o Plano Juventude Viva, puxado pelas discussões do Conselho Nacional da Juventude (Conjuve). Estruturado em quatro eixos, o plano visa desconstruir a cultura da violência, transformando os territórios mais afetados nos municípios, adotando uma perspectiva de promoção de direitos da juventude e focando no aperfeiçoamento das instituições como escolas, hospitais, sistema penitenciário, judiciário e polícias para que se sensibilizem do problema. Mas ainda pouco se falava do que movia tal preconceito institucional.
Por que matamos tantos jovens homens negros no Brasil? Porque estamos em guerra. Claro, é uma guerra não declarada oficialmente. Mas, se considerarmos a classificação de conflitos como guerras a partir do critério de intensidade de mil mortos por ano, como não desconfiarmos da nossa paz? Só de janeiro a outubro de 2014, no município do Rio de Janeiro, ultrapassamos esse número de mortos.
Essa guerra tem um inimigo definido: as drogas. Sob o pretexto de salvar a sociedade – e principalmente nossos jovens – desse mal representado pelas substâncias proibidas, promoveu-se por anos políticas de drogas proibitivas, racistas e violentas. Para evitar os efeitos adversos do consumo de drogas, acabou-se matando quem se queria proteger. A juventude tem arcado com as maiores consequências dessa violência institucional. São jovens negros e pobres os que mais morrem, que mais vão presos e que menos têm acesso à atenção médica adequada. Tornaram-se alvos secundários dessa guerra.
É hora de acabar com a guerra às drogas, que volta-se contra nossa juventude. O Conselho Nacional da Juventude comprou essa causa e lançou uma carta em que pede uma urgente reinvenção da política de drogas no País. Nela, condena a política beligerante atual e chama a atenção para a necessidade de conhecer novas práticas que adotem direitos humanos como seu eixo central de atuação, focando a promoção da cidadania, além de apontar para a necessidade de investir em programas preventivos para acabar com esse vetor de promoção da violência contra a juventude.
É preciso saudar essa iniciativa, para que ela ganhe peso nas discussões de movimentos sociais e, principalmente, dentro das esferas do Governo Federal. Não há juventude viva sem uma reforma na política de drogas no País. O ano de 2013 ficará na memória pelas chacinas que foram lembradas. Que nos lembremos de 2014 como o ano em que se deu um passo definitivo para deixá-las apenas na memória.
*Ana Paula Pellegrino é coordenadora da Rede Pense Livre e pesquisadora do Instituto Igarapé.

O GENOCÍDIO ESQUECIDO – A REVOLTA DOS HEREROS E NAMA NA NAMÍBIA

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1021757021170879&set=a.300006716679250.84382.100000097727359&type=1&theater




O GENOCÍDIO ESQUECIDO – A REVOLTA DOS HEREROS E NAMA NA NAMÍBIA

Após a Conferência de Berlim, a Alemanha invadiu o continente africano e além de outras regiões anexou à Namíbia, enviando para a África invasores (colonos ou descobridores – denominações usadas pela historiografia branca) que pilharam as terras e riquezas da população nativa. Difundido a supremacia branca e comparando o povo herero a babuínos.
Os homens eram constantemente espancados até a morte e as mulheres vítimas de estupro e escravizadas sexuais dos colonos e soldados alemães.
Como consequência dessas violações, em 12 de janeiro de 1904, o povo Herero resolveu resistir ao invasor-colonizador-racista alemão, liderados por Samuel Maharero.....
Leia todo o artigo em Conversa DE PRETO:
https://www.facebook.com/pages/Conversa-De-PRETO/1531922447071169

terça-feira, 19 de maio de 2015

Professor desmonta tese da diminuição da maioridade penal


http://www.revistaforum.com.br/blog/2015/05/professor-desmonta-tese-da-diminuicao-da-maioridade-penal/



Professor desmonta tese da diminuição da maioridade penal

maio 19, 2015 10:43
Professor desmonta tese da diminuição da maioridade penal
Como em uma aula, Bohn Gass explica didaticamente os mitos que giram em torno da proposta e comprova a ineficiência da redução por meio de dados objetivos, como o de que apenas 0,01% dos jovens entre 12 e 17 anos cometem crimes violentos; assista
Por Redação
Começou a circular esta semana nas redes sociais a aula que o professor de História e deputado federal Elvino Bohn Gass (PT-RS) deu sobre a proposta de redução da maioridade penal (PEC 171/93) que tramita no Congresso Nacional.
Em um vídeo objetivo e didático, Bohn Gass busca desmontar os mitos que giram em torno da proposta e, por meio de dados da Unicef, mostra o quão ineficiente seria reduzir a maioridade penal dos 18 para os 16 anos.
Entre os dados utilizados pelo professor está o fato de que, por exemplo, apenas 0,01% dos jovens no país entre 12 e 17 anos cometem crimes violentos e que, por outro lado, 36% dos assassinatos cometidos têm os jovens como vítimas.
“Jovem é mais vítima do que agente da violência”, afirma.
Confira abaixo o vídeo:

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#NãoàRedução - as principais vítimas

https://www.facebook.com/direitoshumanosbrasil/photos/a.166798690068176.42983.165500080198037/847526011995437/?type=1&theater


O Mapa da Violência analisa a mortalidade por armas de fogo no Brasil no período de 1980 a 2012. A taxa de mortalidade juvenil por armas de fogo atingiu 47,6 para cada 100 mil habitantes, mais do que o dobro da registrada para a população total.

Isso significa dizer que os adolescentes são muito mais vítimas do que autores da violência. Saiba mais: http://bit.ly/1JtHQ13 #NãoÀRedução




Museu Afro Brasil - grande exposição sobre arte africana contemporânea


http://www.ceert.org.br/acontece/noticia.php?id=6920


Notícias

Museu Afro Brasil realiza grande exposição sobre arte africana contemporânea


Encontro Internacional sobre Arte Africana Contemporânea Encontro Internacional sobre Arte Africana Contemporânea
Publicada em 16:00 13/05/2015 - por: Da Redação

O Museu Afro Brasil promove a partir do dia 25 de maio, dia Internacional da África, a maior mostra de arte contemporânea africana já realizada no nosso país. Com programação que inclui instalações, pinturas, vídeos, esculturas, moda e um encontro para discussões com os artistas, o projeto Africa Africans, que conta com o patrocínio do Banco Itaú e da Odebrecht, traça um panorama da recente criação visual do continente por meio de obras de artistas de diversos países africanos. A entrada é gratuita e aberta para todas as idades
A exposição conta com cerca de 100 obras, de mais de 20 artistas, em diversos suportes e linguagens, além de outras obras de arte africana, pertencentes ao acervo do museu e à coleção particular de Emanoel Araujo, diretor curatorial do Museu.

A exposição tem foco na criação de artistas africanos, nascidos e residentes no continente ou fora dele, assim como artistas de origem africana que, mesmo tendo nascido fora da África, dialogam com a pluralidade de experiências estéticas e sociais presente nas diversas regiões do continente.

No Brasil, os fios que nos unem ao continente e que durante muito tempo ficaram esquecidos e escondidos pelo racismo cordial característico da sociedade brasileira nos impelem a buscar uma África que é, muitas vezes, criada pelo imaginário. A imagem da África veiculada pela mídia brasileira é frequentemente miserabilista ou então sonhada e idealizada, aquela das práticas culturais originárias de uma África que já não corresponde à atual.

A primeira etapa do Africa Africans aconteceu no último dia 17 de abril, parte do calendário da 39ª edição do São Paulo Fashion Week (SPFW), onde o museu teve a honra de receber a mostra Africa Africans Moda e apresentou os trabalhos de cinco estilistas africanos: Palesa Mokubung (África do Sul); Amaka “Maki” Osakwe (Nigéria); Jamil Walji’ (Quênia); Xuly Bët (Mali) e Imane Ayissi (Camarões). A mostra de moda ocorreu no espaço central do museu e teve a curadoria do nigeriano Andy Okoroafor, reconhecido editor e diretor de arte, clipes musicais e moda em Paris, França.

EXPOSIÇÃO
Uma das obras de maior destaque da Africa Africans será a colossal “The British Library”, do artista plástico nigeriano-britânico Yinka Shonibare MBE. Nascido em Londres em 1962, Shonibare foi criado na Nigéria e voltou para capital inglesa para estudar Artes, dando início à sua trajetória artística. Sua instalação é formada por 6.225 livros coloridos encapados por tecidos dutch wax – conhecidos como ‘tecidos africanos’, mas fabricados na Holanda com uso de técnicas inspiradas na arte milenar do batik indonesiano. O uso deste material é uma marca registrada do artista. Shonibare debate nesta obra questões que lhe são caras como colonialismo, pós-colonialismo e hibridismo e explora o impacto da imigração sobre todos os aspectos da cultura britânica, considerando as noções de território e lugar, identidade cultural, deslocamento e refúgio. A obra também usa recursos multimídia, a exemplo de iPads.

Também com presença confirmada está “Skylines”, de El Anatsui, ganês radicado na Nigéria. Nascido em 1944, ele é considerado o mais importante artista africano da atualidade, com grande prestígio na Europa e nos Estados Unidos e foi recém premiado, no dia 9 de maio de 2015, com um Leão de Ouro, na Bienal de Artes de Veneza.
Suas obras estão nas coleções públicas do Metropolitan Museum of Art em Nova York; Museum of Modern Art em Nova York; Los Angeles County Museum of Art; Indianapolis Museum of Art; British Museum em Londres; e Centre Pompidou em Paris, entre outras instituições.

Muitas das esculturas de El Anatsui possuem formas mutáveis e são concebidas para serem livres e flexíveis de modo que se adaptem visualmente em cada instalação. Ao trabalhar com madeira, barro, metal e, mais recentemente, tampas metálicas de garrafas de bebidas alcoólicas, Anatsui rompe com a tradicional adesão da escultura às formas fixas, embora faça visualmente referência à história da abstração na arte europeia e africana.

Outro destaque fica por conta da obra “Cloud Earth Twist”, do nigeriano Bright Ugochukwu Eke. A instalação que vem ao Africa Africans tem inspiração autobiográfica. Após sofrer uma infecção na pele decorrente de uma chuva ácida, Eke desenvolveu a obra que consiste em milhares de sacos plásticos cheios de água acidificada.

O trabalho de Eke tem sido exposto em cidades como Durban, Lagos, Londres, Nova York e Verona, entre outras. Bright Eke cria uma arte socialmente orientada, explorando os caminhos pelos quais as pessoas interagem com seu meio. Usando água como tema e meio, ele desafia o espectador a pensar sobre este precioso recurso, politicamente, eticamente e ecologicamente.

ENCONTRO COM OS ARTISTAS – O Museu Afro Brasil irá realizar ainda, no dia 26 de maio, um Encontro Internacional sobre o tema da exposição, trazendo os artistas convidados para um debate com o público acerca de sua produção e de questões levantadas pela exposição e pelos participantes.

Será produzido também um catálogo trilíngue (português-inglês-francês) sobre a exposição, a mostra de moda e o seminário.

SERVIÇO:

AFRICA AFRICANS
Exposição de Arte Africana Contemporânea

ABERTURA DA EXPOSIÇÃO
25 DE MAIO – 19H

Encontro Internacional sobre Arte Africana Contemporânea
26 DE MAIO – 10H

Museu Afro Brasil
Av. Pedro Álvares Cabral, s/n
Parque Ibirapuera - Portão 10
São Paulo / SP - 04094 050
Fone: 55 11 3320-8900
www.museuafrobrasil.org.br

O funcionamento do museu é de terça-feira a domingo, das 10 às 17hs, com permanência até às 18hs.
Durante o período de exposição, 25/05 a 30/08, a entrada será franca.

Informações para a imprensa – Museu Afro Brasil
Gabriel Cruz: 3320-8940 – gabriel.cruz@museuafrobrasil.org.br
Salvador Corrêa Neto: 3320–8951 – neto.correa@museuafrobrasil.org.br

Informações para a imprensa - Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo
Jamille Menezes – (11) 3339 8243 – jmferreira@sp.gov.br
Renata Beltrão – (11) 3339 8164 – rmbeltrao@sp.gov.br
Leia Também:

18 de Maio - Dia Nacional de Combate ao Abuso e exploração Sexual de Crianças e Adolescentes


https://www.facebook.com/minsaude/photos/a.205936522758305.51623.175330465818911/1003845596300723/?type=1&theater

Você sabia que o abuso e exploração de crianças e adolescentes é crime previsto no Código Penal Brasileiro? Caso haja conhecimento, cabe à sociedade denunciar às autoridades. http://www.blog.saude.gov.br/mym6vo

terça-feira, 12 de maio de 2015

Abdias Nascimento: 13 de maio uma mentira cívica


http://www.revistaforum.com.br/blog/2013/05/abdias-nascimento-13-de-maio-uma-mentira-civica/

Abdias Nascimento: 13 de maio uma mentira cívica

maio 13, 2013 18:39

Abdias Nascimento: 13 de maio uma mentira cívica
Há 15 anos, o ativista refletia sobre o significado da data e rechaçava a possibilidade de comemoração 
Do Geledés
Abdias Nascimento chamou o 13 de maio de “mentira cívica” em seu discurso no plenário do Senado (Foto: Divulgação)
Abdias Nascimento era senador no dia 13 de maio de 1998. O Brasil completava 110 anos de abolição da da escravidão. Neste dia, o então parlamentar subiu até o plenário e proferiu um discurso em que refuta a comemoração pela data e chama de “mentira cívia” o seu significado.
Confira na íntegra o discurso.
O SR. ABDIAS NASCIMENTO  (Bloco/PDT-RJ. Pronuncia o seguinte discurso.) – Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, sob a proteção de Olorum, inicio este meu pronunciamento.
Na data de hoje, 110 anos passados, a sociedade brasileira livrava-se de um problema que se tornava mais agudo com a proximidade do século XX, ao mesmo tempo em que criava condições para o estabelecimento das maiores questões com que continuamos a nos defrontar às vésperas do Terceiro Milênio. Assim, a 13 de Maio de 1888, a Princesa Isabel, então regente do trono em função do afastamento de seu pai, D. Pedro II, assinava a lei que extinguia a escravidão no Brasil, pondo fim a quatro séculos de exploração oficial da mão-de-obra de africanos e afro-descendentes nesta Nação, mais que qualquer outra, por eles construída.
Durante muito tempo, a propaganda oficial fez desse evento histórico um de seus maiores argumentos em defesa da suposta tolerância dos portugueses e dos brasileiros brancos em relação aos negros, apresentando a Abolição da Escravatura como fruto da bondade e do humanitarismo de uma princesa. Como se a história se fizesse por desígnios individuais, e não pelas ambições coletivas dos detentores do poder ou pela força inexorável das necessidades e aspirações de um povo.
A tentativa de vender a abolição como produto da benevolência de uma princesa branca é parte de um quadro maior, que inclui outras fantasias, como a “colonização doce” – suave apelido do massacre perpetrado pelos portugueses na África e nas Américas – e o “lusotropicalismo”, expressão que encerra a contribuição lusitana à construção de uma “civilização” tropical supostamente aberta e tolerante. Talvez do tipo daquela por eles edificada em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau, quando a humilhação e a tortura foram amplamente usadas como formas de manter a dominação física e psicológica de europeus sobre africanos.
Na verdade, o processo que resultou na abolição da escravatura pouco tem a ver com as razões humanitárias – embora essas, é claro, também se fizessem presentes. O que de fato empurrou a Coroa imperial a libertar os escravos foram, em primeiro lugar, as forças econômicas subjacentes à Revolução Industrial, capitaneadas por uma Inglaterra ávida de mercados para os seus produtos manufaturados. Explicam-se desse modo as pressões exercidas pela Grã-Bretanha sobre o Governo brasileiro, especialmente no que tange à proibição do tráfico, que acabaria minando os próprios alicerces da instituição escravista. Outro fator fundamental foi o recrudescimento da resistência negra, traduzido no pipocar de revoltas sangrentas, com a queima de engenhos e a destruição de fazendas, que se multiplicaram nas últimas décadas do século XIX, aumentando o custo e impossibilitando a manutenção do sistema.
Foi assim que chegamos ao 13 de maio de 1888, quando negros de todo o País – pelo menos nas regiões atingidas pelo telégrafo – puderam comemorar com euforia a liberdade recém-adquirida, apenas para acordar no dia 14 com a enorme ressaca produzida por uma dúvida atroz: o que fazer com esse tipo de liberdade? Para muitos, a resposta seria permanecer nas mesmas fazendas, realizando o mesmo trabalho, agora sob piores condições: não sendo mais um investimento, e sem qualquer proteção na esfera das leis, o negro agora era livre para escolher a ponte sob a qual preferia morrer. Sem terras para cultivar e enfrentando no mercado de trabalho a competição dos imigrantes europeus, em geral subsidiados por seus países de origem e incentivados pelo Governo brasileiro, preocupado em branquear física e culturalmente a nossa população, os brasileiros descendentes de africanos entraram numa nova etapa de sua via crucis. De escravos passaram a favelados, meninos de rua, vítimas preferenciais da violência policial, discriminados nas esferas da justiça e do mercado de trabalho, invisibilizados nos meios de comunicação, negados nos seus valores, na sua religião e na sua cultura. Cidadãos de uma curiosa “democracia racial” em que ocupam, predominantemente, lugar de destaque em todas as estatísticas que mapeiam a miséria e a destituição.
O mito da “democracia racial”, que teve em Gilberto Freyre seu formulador mais sofisticado, constitui, com efeito, o principal sustentáculo teórico da supremacia eurocêntrica neste País. Interpretando fatos históricos de maneira conveniente aos seus propósitos, deturpando aqui, inventando acolá, sofismando sempre, os apóstolos da “democracia racial” conseguiram construir um sólido e atraente edifício ideológico que até hoje engana não somente parte dos dominados, mas também os dominadores. Estes, sob o martelar do slogan, por vezes acreditaram sinceramente na inexistência de racismo no Brasil. Podiam, assim, oprimir sem remorso ou sentimento de culpa. Esse mesmo mito, com denominações variadas, como “raza cósmica” ou “café con leche”, também contamina as relações de raça na maioria do países da chamada América Latina, resultando, invariavelmente, na hegemonia dos brancos – ou daqueles que assim se consideram e são considerados – sobre os negros e os índios. É assim no México, na Colômbia, na Venezuela, no Equador, no Peru e nos países da América Central e do Caribe. Disso não escapa sequer a Cuba socialista, que pude visitar mais uma vez poucas semanas atrás e onde, a despeito do grande esforço de nivelamento social realizado pela Revolução, hábitos, costumes e linguagem continuam impregnados do perverso eurocentrismo ibérico.
Um dos efeitos mais cruéis desse tipo de ideologia é confundir e atomizar o grupo oprimido, impedindo-o de se organizar para defender seus interesses. Assim, por exemplo, se denuncia a discriminação racial de que é vítima, o negro se vê enquadrado nas categorias de “complexado”, “ressentido” ou mesmo de “perturbado mental”. Algum tempo atrás, poderíamos acrescentar as de “subversivo” ou “agente do comunismo internacional”, estigmas que as instituições repressoras de nosso País tentaram imprimir em minha própria pele e que me obrigaram a viver no exterior por mais de uma década.
Terríveis na sua capacidade de ocultar o óbvio ostensivo, todos esses instrumentos de coerção e imobilização não foram suficientes para impedir que parcelas da população afro-brasileira se tenham organizado, nesses 110 anos desde a abolição, a fim de lutar, por todos os meios possíveis, pela justiça e pela igualdade neste País edificado por seus antepassados. Já tive ocasião de celebrar, aqui mesmo nesta Casa, o aniversário de fundação da maior dentre todas as organizações afro-brasileiras deste século, a Frente Negra Brasileira, que assinalou, ainda na década de trinta, a existência de um pensamento e de uma ação: negros comprometidos em derrubar as barreiras construídas com base na origem africana. Transformada em partido político e fechada com o golpe do Estado Novo, a Frente Negra, em seus acertos e equívocos, balizou o caminho a ser percorrido pelas futuras organizações afro-brasileiras.
Em meados da década dos quarenta, criei no Rio de Janeiro, com ajuda de outros militantes, o Teatro Experimental do Negro, organização que fundia arte, cultura e política na conscientização dos afro-brasileiros, e dos brasileiros em geral, para as questões do racismo e da discriminação, assim como para a valorização da cultura de origem africana. Apesar dos obstáculos que lhe foram interpostos, incluindo a clássica acusação de “racismo às avessas”, o Teatro Experimental do Negro marcou sua trajetória, pelo volume e qualidade de sua atuação, no meio artístico e cultural daquela década e do decênio seguinte, como também no cenário político, sendo diretamente responsável pela primeira proposta de legislação antidiscriminatória no Brasil, mais tarde neutralizada pela malfadada Lei Afonso Arinos.
Minha militância acabaria me rendendo um exílio, do final dos anos sessenta ao início da década de oitenta. Pude então travar contato em primeira mão com toda uma liderança negra, na África, nos Estados Unidos e na Europa, em luta contra o imperialismo, o colonialismo e o racismo. As idéias e ações dessa liderança, que incluía Amílcar Cabral, Samora Machel, Agostinho Neto, Julius Nyerere, Jomo Kenyatta, Léopold Senghor, Wole Soyinka e Sam Nujomo, na África; Malcolm X, Martin Luther King, Amiri Baraka, Stokeley Carmichael e os Black Panthers, na América do Norte – para citar apenas alguns de seus mais destacados expoentes -, encontraram eco no Brasil, estimulando a antiga luta afro-brasileira, agora sob o rótulo de “Movimento Negro”.
Recuperando a tradição das antigas organizações, a exemplo da República dos Palmares, da Frente Negra e do Teatro Experimental do Negro, o Movimento Negro logo se espalhou pelo País, catalisando o idealismo de uma generosa juventude afro-descendente, com grande incidência dos escassos universitários que enfrentavam, na busca de se inserirem no mercado de trabalho, as cruéis contradições de nossa “democracia racial”.
O Sr. Ney Suassuna (PMDB-PB) – V. Exª me permite um aparte?
O SR. ABDIAS NASCIMENTO (Bloco/PDT-RJ) – Ouço V. Exª com muito prazer.
O Sr. Ney Suassuna (PMDB-PB) – Senador Abdias Nascimento, no dia 13 de maio gostaria de me solidarizar com V. Exª e com toda a raça da qual V. Exª faz parte, dizendo que a esta raça nós, brasileiros, devemos muito. Todos nós devemos estar conscientes de que deve haver cada vez mais igualdade e mais espaço para ela. Juntos haveremos de construir essa raça brasileira, que é a miscegenação de todas elas. Muito obrigado.
O SR. ABDIAS NASCIMENTO (Bloco/PDT-RJ) – Muito obrigado a V. Exª.
Continuo, Sr. Presidente:
Apesar de todas as dificuldades e resistências, o Movimento encontrava também o apoio de alguns políticos importantes. Dentre eles se destaca Leonel Brizola, responsável, como Governador do Rio de Janeiro, pela mais séria e ousada experiência de enfrentamento do racismo até hoje empreendida no plano do Estado: a criação da Secretaria Extraordinária de Defesa e Promoção das Populações Afro-Brasileiras, da qual tive a honra de ser o primeiro titular.
Uma das reivindicações do Movimento Negro no plano das políticas públicas tem sido a adoção da chamada “ação afirmativa” – que eu prefiro designar como “ação compensatória” -, objeto, nos últimos tempos, de algumas propostas no âmbito do Legislativo, incluindo o Projeto de Lei do Senado nº 75, de 1997, de minha autoria, atualmente tramitando nesta Casa. Trata-se este, na verdade, de um assunto sobre o qual muito se fala – quase sempre contra – mas do qual, geralmente, pouco se conhece.
“Ação afirmativa” ou “ação compensatória”, é, pois, um instrumento, ou conjunto de instrumentos, utilizado para promover a igualdade de oportunidades no emprego, na educação, no acesso à moradia e no mundo dos negócios. Por meio deles, o Estado, a universidade e as empresas podem não apenas remediar a discriminação passada e presente, mas também prevenir a discriminação futura, num esforço para se chegar a uma sociedade inclusiva, aberta à participação igualitária de todos os cidadãos. Ao contrário do que costumavam afirmar seus adversários, a ação compensatória recompensa o mérito e garante que todos sejam incluídos e considerados com justiça ao se candidatarem a empregos, matrículas ou contratos, independentemente de raça ou de gênero. São seus propósitos específicos: 1) aumentar a participação de pessoas qualificadas, pertencentes a segmentos historicamente discriminados, em todos os níveis e áreas do mercado de trabalho, reforçando suas oportunidades de serem contratadas e promovidas; 2) ampliar as oportunidades educacionais dessas pessoas, particularmente no que se refere à educação superior, expandir seus horizontes e envolvê-las em áreas nas quais tradicionalmente não têm sido representadas; 3) garantir a empresas de propriedade de pessoas desses grupos oportunidades de estabelecer contratos com o governo, em âmbito federal, estadual ou municipal, dos quais de outro modo estariam excluídas.
A ação compensatória na área do emprego implica o recrutamento ativo de mulheres e membros de grupos historicamente discriminados, buscando-se candidatos além das redes convencionais de relacionamento, tradicionalmente dominadas por homens brancos. Ela estimula, por exemplo, o uso de anúncios públicos de emprego para identificar candidatos em lugares em que os empregadores geralmente não iriam procurá-los.
Na área educacional, as medidas de ação compensatória adotadas em outros países, e que se pretende sejam adotadas aqui, são muitas vezes acusadas de constituírem preferências por alunos não-qualificados. Na verdade, porém, também nessa área o objetivo é recompensar o mérito. Recentes estudos de escores obtidos em testes e de notas tiradas no curso secundário – os padrões tradicionais e presumivelmente “objetivos” para mensurar as qualificações de estudantes – têm posto em questão a precisão desses instrumentos em predizer o desempenho futuro de todos os alunos, particularmente de mulheres e de membros de grupos discriminados. Poucos especialistas sustentariam racionalmente que, por si sós, esses escores e médias sejam capazes de medir objetivamente a capacidade e o potencial de um indivíduo. Qual a experiência de vida do candidato? Que obstáculos ele teve de superar? Quais são suas ambições e esperanças? Menos tangíveis do que números, esses padrões são mais precisos em prever o futuro desempenho educacional do que a origem familiar, herança ou outros atributos do privilégio.
Além do falido argumento meritocrático, também se costuma brandir contra a ação compensatória – como aconteceu nesta própria Casa – a tese da inconstitucionalidade. Seria inconstitucional estabelecer qualquer espécie de “discriminação positiva” – outro sinônimo de ação afirmativa – porque isso feriria o princípio da igualdade de todos perante a lei. A primeira resposta a esse argumento vai contra o seu caráter eminentemente conservador. Como se não tivéssemos a possibilidade, o direito, o dever, eu diria, de lutar por mudanças nos dispositivos constitucionais que não nos interessam. Ou como se a igualdade fosse apenas um princípio abstrato, e não algo a ser implementado por meio de medidas concretas. A verdade, porém, é que existem diversos precedentes jurídicos que abrem as portas à implantação da ação compensatória em favor dos afro-descendentes no Brasil. A igualdade de homens e mulheres perante a lei não impede, por exemplo, que estas tenham direito de se aposentar com menor tempo de serviço, nem que disponham de uma reserva de vagas nas listas de candidatura dos partidos. Há também a proteção especial aos portadores de deficiência, a famosa Lei dos Dois Terços – que estipulava uma preferência para trabalhadores brasileiros no quadro funcional das empresas -, sem falar no imposto de renda progressivo e na inversão do ônus da prova nas ações movidas por empregados contra empregadores. Todos casos em que a igualdade formal dá lugar à promoção da igualdade.
Vale ressaltar, neste ponto, que pelo menos três convenções internacionais de que o Brasil é signatário – e que portanto têm força de lei – contemplam a adoção de medidas compensatórias. Uma delas é a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, da Organização das Nações Unidas, cujo art. 1º, item 4, diz o seguinte: “Não serão consideradas discriminação racial as medidas especiais tomadas com o único objetivo de assegurar o progresso adequado de certos grupos raciais ou étnicos (…) que necessitem da proteção que possa ser necessária para proporcionar(…) igual gozo ou exercício de direitos humanos e liberdades fundamentais (…).”
Teor semelhante tem o art. 2º da Convenção 111 da OIT – Organização Internacional do Trabalho, concernente à discriminação em matéria de emprego e profissão, pelo qual cada signatário “compromete-se a formular e aplicar uma política nacional que tenha por fim promover (…) a igualdade de oportunidades e de tratamento em matéria de emprego e profissão, com o objetivo de eliminar toda discriminação nessa matéria”. E também o art. IV da Convenção Relativa à Luta Contra a Discriminação no Campo do Ensino, da UNESCO: “Os Estados Partes (…) comprometem-se (…) a formular, desenvolver e aplicar uma política nacional que vise a promover (…) a igualdade de oportunidade e tratamento me matéria de ensino.”
Outra postura contrária vem dos que, dando como exemplo a experiência de países socialistas, à ação compensatória costumam contrapor as políticas públicas de combate à pobreza e aos problemas a ela associados – as chamadas políticas redistributivas. Esse argumento, em geral oriundo da Esquerda, é duplamente falacioso. Primeiro porque ninguém, em sã consciência, poderia vislumbrar no horizonte próximo uma revolução socialista no Brasil – condição indispensável à adoção de reformas radicais como aquelas que possibilitaram a alguns daqueles países não acabar com o racismo, mas reduzir a um nível mínimo as desigualdades raciais (o que é diferente) nas áreas do trabalho, da educação, da saúde e da moradia. A outra falácia desse argumento é deixar implícito que se trata de opções mutuamente excludentes – ou ação compensatória, ou políticas redistributivas, quando, de fato, necessita-se de ambas. Com certeza, os afro-brasileiros seriam, por sua inserção social, os grandes beneficiários de quaisquer ações governamentais voltadas à melhoria das condições de vida das grandes massas destituídas. E continuariam precisando de proteção contra a discriminação, bem como de mecanismos capazes de lhes assegurar a igualdade de oportunidades.
Em entrevista publicada semana passada pela revista Veja, em que se discute a situação dos negros neste País, o Presidente Fernando Henrique Cardoso disse não ser contrário ao sistema de quotas, forma mais incisiva de ação compensatória, que constitui a essência do meu projeto de lei. O Presidente foi além dessa declaração e afirmou literalmente: “Havendo duas pessoas em condições iguais para nomear para determinado cargo, sendo uma negra, eu nomearia a negra”. Como é curioso, para dizer o mínimo, observar correligionários do Presidente aqui no Senado manifestando idéias e atitudes absolutamente contrárias às de seu suposto líder e utilizando, para isso, todo um arsenal de argumentos ou intempestivos, ou equivocados, ou desinformados – pois não quero acreditar que sejam maliciosos.
Ao mesmo tempo, pesquisa realizada pelo prestigioso instituto de pesquisa Datafolha, e publicada à página 46 do livro Racismo Cordial, revela não apenas que praticamente metade dos brasileiros de todas as origens étnicas aprova a ação compensatória, mas que essa aprovação chega a 52% entre aqueles que admitiram ter preconceito em relação aos negros. Muito significativo em função da cortina de desconhecimento que cerca o tema, esse resultado indica que o País está mudando, e mais rapidamente do que se quer admitir. E esta Casa, cujos membros têm o dever de acompanhar e até mesmo antecipar as mudanças que o País quer e necessita, não pode ficar se ancorando em velhos chavões para manter um estado de coisas que a maioria da sociedade quer ver superado. Sabemos, eu e meus companheiros de luta, que é árdua a batalha que temos pela frente, no confronto com o reacionarismo, a ignorância e o atraso. Mas estamos dispostos a levar nossa luta a todos os foros, nacionais e internacionais, e a conduzi-la, como alguém já disse, “por todos os meios necessários”.
Assim, neste 13 de Maio, fazemo-nos presentes nesta tribuna, não para comemorar, mas para denunciar uma vez mais a mentira cívica que essa data representa, parte central de uma estratégia mais ampla, elaborada com a finalidade de manter os negros no lugar que eles dizem ser o nosso. A comunidade afro-brasileira, porém, já mostrou claramente que não mais aceita a condição que nos querem impingir. Mais uma prova disso foi dada na madrugada de hoje, quando o Instituto do Negro Padre Batista, juntamente com dezenas de outras organizações, realizou em São Paulo a segunda Marcha pela Democracia Racial, desfraldando a bandeira da igualdade de oportunidades para os afro-descendentes. Assim, ao mesmo tempo em que denuncia as injustiças de que é vítima, nossa comunidade apresenta reivindicações consistentes e viáveis para a solução dos seculares problemas que enfrenta. Reivindicações, como a ação compensatória, capazes de contribuir para que venhamos a concretizar, com o apoio de nossos aliados sinceros, a segunda e verdadeira abolição.
Sr. Presidente, pulei vários trechos para abreviar meu pronunciamento, solicito que a publicação seja feita na íntegra.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
Axé!

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domingo, 10 de maio de 2015

CONTRA A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL

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