sábado, 23 de fevereiro de 2013

Yoani é favor do bloqueio a Cuba. Suplicy lhe dá apoio | Conversa Afiada

Yoani é favor do bloqueio a Cuba. Suplicy lhe dá apoio | Conversa Afiada

 ublicado em 19/02/2013

Yoani é favor do bloqueio a
Cuba. Suplicy lhe dá apoio

Vídeo sensacional: estudante da UJS dá lápis e papel e ela se recusa a assinar documento contra o bloqueio.

O amigo navegante André Tokarski postou vídeo muito interessante.

Na Bahia, um jovem da UJS perguntou à blogueira cubana quem paga a passagem dela – pergunta que o Leandro Fortes tambem se faz.

Depois, o mesmo jovem entregou lápis e papel à blogueira para assinar um documento em que se manifestaria contra o bloqueio americano a Cuba.

A blogueira faz o gesto de quem não vai assinar.

O jovem avisa à plateia: “ela não vai assinar !”

E pede: “assina !”.

Quem vem em socorro à blogueira ?

O Suplicy, aquele senador tucano filiado ao PT.

Eles se merecem: o senador tucano, a cubana e a Bláblárina.


Paulo Henrique Amorim

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

CONTRA O RACISMO E PELA ANCESTRALIDADE AFRICANA

http://carosamigos.terra.com.br/

Artigos e Debates

Contra o racismo e pela ancestralidade africana

Contra o racismo e em defesa da ancestralidade africana no Brasil
Por Silvany Euclênio
No dia 21 de janeiro de 2000, morria a Iyálorisa Gildásia dos Santos e Santos, vítima fatal da violência que incide sobre a ancestralidade africana no Brasil. Sua foto foi utilizada pelo jornal “Folha Universal”, edição nº 39, para ilustrar matéria com o título “Macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida dos clientes”, cujo conteúdo agredia violentamente as tradições de matriz africana, malevolamente mistificadas com práticas charlatãs. Com o choque, ela, que era hipertensa, sofreu um ataque cardíaco e faleceu.
Em uma justa homenagem a mais esta vítima do racismo, o ex-presidente Lula instituiu o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, com a aprovação da Lei nº 11.635/2007. Este ano, como vem acontecendo desde então, haverá por todo o país manifestações de repúdio às ações de desrespeito às práticas tradicionais africanas.

"Essas tradições passaram a ser vilipendiadas desde que aqui aportaram os primeiros africanos, como mão de obra compulsória para o hediondo sistema escravista"

No entanto, a palavra intolerância, embora amplamente utilizada a partir da Conferência de Durban (I Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e as Formas Conexas de Intolerância, ocorrida em 2001, em Durban, África do Sul) não dá conta da real dimensão da violência que incide cotidianamente sobre as tradições das matrizes africanas preservadas no Brasil e da qual o caso de Gildásia dos Santos e Santos se tornou referência.
Essas tradições passaram a ser vilipendiadas desde que aqui aportaram os primeiros africanos, como mão de obra compulsória para o hediondo sistema escravista. Portanto, tolerância não é exatamente o que resolverá este estado de denegação e reificação que recai sobre a população negra no Brasil e que se constitui como a faceta mais atroz do racismo, cuja sustentação está exatamente na valoração negativa da história, da cultura, do modo de ser e viver do grupo oprimido, negando a sua própria humanidade, posto que produzir cultura é um predicado essencialmente “humano”.
Resistência
Mas o povo negro resistiu e, a despeito de toda a ferocidade, criou os territórios tradicionais de matriz africana, espaços de afirmação da identidade e subjetividade histórica e cultural, na luta para sobreviver num ambiente de iniquidades e opressão racial.
Nesses locais foram preservados valores civilizatórios, idiomas, indumentárias, práticas alimentares e de relação com o sagrado, com o meio ambiente e com a sociedade do entorno, garantindo a preservação de um modo de viver marcado pelo acolhimento e pela solidariedade.
Racismo e Dominação
Sem a sua existência a população negra brasileira poderia ter sucumbido aos efeitos do racismo e de suas estratégias de dominação ao longo dos séculos, como o projeto de branqueamento encetado no país a partir da segunda metade do século 19. Assim como as muitas iniciativas de “modernização” e higienização étnica implementadas nos centros urbanos no início do século 20.

"É nesse patamar que são gerados os ataques violentos a símbolos, pessoas e casas, identificadas por extremistas como demoníacas, em referência a um ser maléfico inexistente nas tradições africanas"

Ou ainda, o mito da democracia racial e o processo de invisibilização da população negra; o avanço da especulação imobiliária sobre os territórios tradicionais; o vilipêndio cotidiano em diversos veículos de comunicação; dentre outras tentativas de aniquilação.
Esta insistência em continuar existindo, com relação à identidade e à subjetividade, resulta no aprofundamento da injúria, chegando ao ponto em que um toque de tambor, o uso de um Ileké (colar de conta) ou de um gele alarambara (torço colorido), a simples pronúncia de uma frase em yoruba, quimbundo, quicongo ou fon (idiomas africanos preservados no Brasil), remetem imediatamente ao imaginário racista brasileiro.
Ataques
É nesse patamar que são gerados os ataques violentos a símbolos, pessoas e casas, identificadas por extremistas como demoníacas, em referência a um ser maléfico inexistente nas tradições africanas. Como exemplos mais emblemáticos, lembramos o que ocorreu em Alagoas (fevereiro de 1912) e ficou conhecido como “Quebra de Xangô”. Na época, lideranças foram espancadas e mortas, casas foram depredadas e incendiadas, em uma ação liderada por políticos e veteranos de guerra e, incitada pela imprensa.
Um século depois, em julho de 2012, o assassinato de uma criança em Pernambuco foi perversamente relacionada às tradições de matriz africana, hipótese veiculada com insistência pela mídia impressa, falada, televisiva e virtual, provocando ataques a lideranças e territórios tradicionais, bem como a depredação de diversas casas.
A mesma estereotipia é remetida às características fenotípicas da população africana e sua descendência diaspórica, de maneira que, mesmo as pessoas negras que adotam outras práticas e modos de viver, despindo-se dos símbolos mais aparentes desta africanidade, continuam relegadas a uma subcidadania, a um lugar reservado para os considerados “não humanos” na hierarquia estabelecida pelo racismo brasileiro.
Dia Nacional
Portanto, no Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, pensemos mais amplamente: Contra o racismo e em defesa da ancestralidade africana no Brasil, já que o enfrentamento ao racismo passa necessariamente pelo combate à violência contra a ancestralidade africana, e vice-versa.
É necessário promover o reconhecimento das tradições de matriz africana como uma das formadoras da riqueza cultural material e imaterial do Brasil, garantindo o direito constitucional das pessoas vivenciarem livremente a sua cultura. Afinal, como disse Mestre Tolomi, “a ancestralidade é a nossa via de identidade histórica. Sem ela não sabemos quem somos, e nem o que pretendemos ser”.



Silvany Euclênio é secretária de Políticas das Comunidades Tradicionais da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir)

sábado, 16 de fevereiro de 2013

LEI 10.639/2003 - AÇÃO NO STF


http://cadaminuto.com.br/blog/raizes-da-africa


Sobre a Lei nº 10.639/03: “Com a omissão da presidenta Dilma, vamos propor essa ação no STF- diz Adami”.


A história do negro ainda está na periferia da história das terras de Cabral. Cabe a presidenta do Brasil Dilma Roussef , com a energia que lhe é peculiar, respeitar as normas da Lei nº 10.639/03 e estabelecer a política da pedagogia antirracista nas salas de aulas. Se uma presidenta não respeita uma lei quem o fará?
Instituto cobra cumprimento de lei para educação étnico-racial no STF
Ação será protocolada pelo Instituto de Advocacia Racial e Ambiental contra governo federal e a presidenta Dilma Rousseff por não fiscalizar e exigir a criação de disciplinas sobre o tema nem formação de professores.

Após completar uma década de aprovação, a Lei nº 10.639 não conseguiu garantir que o ensino de história e cultura afro-brasileira faça parte dos currículos da educação básica e da formação dos professores do País. O descumprimento das exigências da lei, agora, se tornará tema de ação a ser julgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
O Instituto de Advocacia Racial e Ambiental (Iara) vai protocolar um mandado de segurança no tribunal na manhã desta sexta-feira. Na ação, os representantes do instituto pedem suspensão da abertura de novos cursos de graduação e licenciatura destinados a formar profissionais em educação nas instituições públicas; suspensão de repasse de recursos financeiros reservados aos programas de formação para esse tema e mudanças nos critérios de avaliação dos cursos.
Entre os muitos alvos da ação, estão a presidenta Dilma Rousseff; o ministro, o secretário-executivo e o de Regulação e Supervisão da Educação Superior do Ministério da Educação; o presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE); o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep); o presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes); o presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE); o ministro da Controladoria-Geral da União, o procurador federal dos Direitos do Cidadão; reitores de 44 universidades federais e o advogado-Geral da União.
“Estamos cobrando judicialmente tudo o que eles não fizeram antes e encaminhamos a ação para o Supremo Tribunal Federal por conta de um ato omissivo da presidenta da República. Todo o trabalho de pesquisa feito pelo Iara mostra que a implementação da lei é um faz de conta”, afirma Humberto Adami, advogado que representa o instituto.
O advogado explica que o Iara fez um levantamento sobre a situação da aplicação da lei nas escolas e universidades. Há projetos isolados sobre o ensino da história e cultura africanas e afro-brasileiras nas escolas; as universidades não têm disciplinas específicas para tratar o tema na formação dos professores – quando há, não é obrigatória – e as verbas destinadas ao financiamento dos programas da área são pouco utilizadas.
Antes de decidir entrar com a ação no STF, o instituto pediu providências administrativas ao Ministério da Educação, em novembro do ano passado, “propondo representação por descumprimento da obrigatoriedade do estudo da história da África e dos afro-brasileiros, em relação aos órgãos responsáveis pela formação inicial, continuada, controle, fiscalização e avaliação das Políticas Públicas na estrutura da Educação”.
Sem resposta após 60 dias, o mesmo pedido foi feito à presidenta Dilma Rousseff. Adami diz que, baseado no descumprimento da lei, os autores da ação pediam o mesmo que consta agora no processo judicial: suspensão da abertura de novos cursos de graduação que formam professores; reavaliação dos cursos para diminuir os conceitos de qualidade das instituições que não oferecem a disciplina; suspensão de repasse dos recursos financeiros aos programas de formação e punir os responsáveis por não fiscalizar o cumprimento da lei.
 “Com a omissão da presidenta, vamos propor essa ação. Houve muita verba pública destinada à implementação dessa lei. Foram realizados cursinhos, seminários, festas. Mas, de fato, não se modificou a resistência ao conhecimento da cultura afro-brasileira e do estudo da história dos africanos no Brasil”, afirma ele.
Segundo Adami, a lei provocou mudanças nas escolas – mesmo que não tão numerosas – mas não nas universidades. “É difícil cobrar da escola, que muitas vezes consegue fazer medidas pontuais e que dependem do esforço de muitas pessoas, se as universidades que formam estão do mesmo jeito”, avalia.
Não existe prazo para que os ministros do STF julguem a ação. Mas, para Adami, discutir o tema na Suprema Corte será de grande valia. Na opinião do advogado, uma geração de jovens está sendo prejudicada com a falta do conteúdo debatida nas salas de aulas da educação básica e das universidades.

Fonte: Priscilla Borges - iG Brasília | 15/02/2013 05:00:04

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Por que nunca precisamos de cotas no futebol?


http://www.rodrigovianna.com.br/colunas/jogo-de-classe/por-que-nunca-precisamos-de-cotas-no-futebol.html


Por que nunca precisamos de cotas no futebol?

publicada quarta-feira, 21/11/2012 às 09:24 e atualizada quarta-feira, 21/11/2012 às 13:13
Por Felipe Carrilho, colunista do Escrevinhador
“Nós não temos um problema racial. No Brasil, os negros conhecem o seu lugar”, diz um sinistro ditado, que poderia servir de epígrafe para análises de intelectuais conservadores ou mesmo para ilustrar muitos comentários que se lê por aí nas redes sociais em tempos de implementação de políticas reparatórias por parte do governo federal.
Muitas são as janelas que permitem sondar a dinâmica social de um país. Esta coluna procura fazer isso por meio da história do futebol brasileiro. No mês da Consciência Negra, cabe indagar em que medida o processo de integração dos descendentes de africanos no esporte que se tornou uma verdadeira “instituição nacional” pode revelar o destino social que a população negra do Brasil teve no período pós-abolição do sistema escravocrata.
No final do sáculo 19, a intelectualidade do País estava empenhada em discutir a questão da nacionalidade brasileira que tinha na presença do negro, no seu entender, um problema crônico. Optou-se, então, por uma política de branqueamento, na qual o incentivo à imigração europeia para abastecer as lavouras de café e a produção da indústria era fundamental. Para Oliveira Viana, o apologista mais notório da arianização da nossa sociedade, o mestiço representava um atraso inevitável para o Brasil que só poderia ser amenizado com a diluição gradual e progressiva do elemento negro.
Nas décadas subsequentes, apartados do trabalho formal, os descendentes de africanos foram protagonistas no processo de democratização do futebol, cuja prática estava até então reservada para os filhos das nossas elites, encastelados nos clubes grã-finos das principais cidades. Atuando nos times de várzea, com bolas e uniformes muitas vezes improvisados, o negro mostrou competência esportiva e esteve no centro da luta pela profissionalização do futebol, que dava estatuto de trabalhador formal ao jogador.

Em seu livro Corações na Ponta da Chuteira, o historiador Fábio Franzini apresenta uma emblemática disputa ocorrida no dia 13 de maio de 1927. Um jogo que opunha duas seleções, a dos brancos, jogadores das maiores equipes paulistas da Associação Paulista de Esportes Atléticos, e a dos negros, que atuavam em divisões secundárias ou mesmo em clubes da liga amadora. O jogo terminou com a vitória da “seleção negra” por 3 a 2, e o sucesso de público fez com que o encontro fosse repetido por mais de 10 anos, com ampla maioria de vitórias dos negros.
É possível inferir muita coisa desse fato histórico. Primeiro que, apesar da demonstração de domínio das técnicas do jogo, o negro ainda encontrava-se na periferia do futebol, atuando em equipes menores. Depois, sob o pretexto de celebrar a abolição (13 de maio passou a ser a data oficial do evento), explicitava-se naturalmente a segregação dos campos de São Paulo. Mas o que interessa enfatizar aqui é o surgimento de um discuso de elogio às potencialidades do negro dentro de campo. Discurso com implicações variadas.
O mito do nascimento do estilo brasileiro de jogar conta que foi a partir da inclusão das classes populares, notadamente dos afro-descendentes, que nos apropriamos de fato daquele esporte surgido na Inglaterra em meados do século 19. Para Gilberto Freyre, a conversão do “jogo britanicamente apolíneo” em “dança dionisíaca”, por influência dos movimentos corporais do samba e da capoeira, seria resultado do processo de mestiçagem verificado no Brasil.
Estavam lançados os fundamentos da interpretação conservadora sobre a integração do povo brasileiro, a “fábula das três raças”, exemplificada no triângulo em que o branco ocupa do vértice de cima, sobrando para o negro e o índio os vértices da base. A “ausência” do racismo sendo explicitada pela interdependência dos vértices.
Na verdade, o elogio das potencialidades físicas do negro, ao mesmo tempo em que concorria para a formação positiva da identidade nacional brasileira dentro e fora das quatro linhas, também expressava a imposição de certa hierarquia social. Aos negros caberia ocupar os espaços do lazer, notadamente do samba, carnaval, capoeira e do futebol, longe da racionalidade dos postos de comando e de produção do conhecimento. O discurso elaborado pelo branco sobre as pré-disposições do negro pelas artes corporais, em última análise, aponta para o lugar subalterno que os afrodescendentes deveriam ocupar na sociedade. É por isso que não precisamos de cotas no futebol. Essa foi a parte que coube ao negro na hierarquia brasileira das raças.
Felipe Dias Carrilho é historiador e autor do livro “Futebol, uma janela para o Brasil – As relações entre o futebol e a sociedade brasileira”.
Leia outros textos de Jogo de Classe




12 Comentários

12 Comentários para “Por que nunca precisamos de cotas no futebol?”

  1.  Paulo Cezar de Mello disse:
    Essa ideologia racista light segue sendo disseminada pela mídia – o que muda é o formato, sempre atualizado. Basta ver as mais recentes novelas da Globo, que pretensamente mostram uma “nova” visão do Brasil ao deslocar suas câmeras para as comunidades (falando mais claro, favelas) do Rio. Fica evidente a diferença de comportamentos, trejeitos, modos de falar, de raciocinar entre os elegantes das casas nobres (onde rolam conflitos psicológicos, diálogos inteligentes, modos comedidos) e os habitantes do núcleo pobre e preto (corpos mais escancaradamente expostos, modos de andar e de falar agressivos, ingenuidade). Por aí a história do Brasil segue em frente.
  2.  fabio nogueira disse:
    Ontem estava em Niteroi(cidade da região metropolitana do Rj)na celebração do dia 20/11. Estava tudo lindo,ótimo. Lembrei-me de um comentário de uma pessoa dizendo que o negro deu uma boa contribuição a sociedade brasielira na area da cultura como futebol,dança e culinaria. Perguntei sobre a paricipação do negro no processo politico-social do país,o cidadão simplesmente respondeu que não se lembrava de nenhuma partcipação importante ou contribuição do negro no processo politico e social.
    Ou seja: no imaginário cultural sempre somos lembrados,por outro lado somos invisíveis no processo da construção do Brasil.
    Por isso que sou a favor das cotas raciais,temos de formar outras linhas de formadores de opinião para contra-dizer esses que querem negar nossa visibilidade na sociedade.É obrigação de todos os cotistas ou prounistas formar uma frente de opinião,poder contar nossas histórias sobre as nossas próprias palavras. Estamos fartos desses pesquisadores que vivem as custas do negro para ganhar dinheiro em cima de suas mazelas e quando o assunto e dividir o bolo da igualdade são os primeiros a dizer NÃO,a inclusão.
  3.  Anderson Passos disse:
    Rodrigo, precisamos de cota no futebol sim.
    Quantos treinadores negros existem??
  4.  Guillermo disse:
    Em compensação quantos técnicos negros nós temos atuando no Brasil?
  5.  carlos costa disse:
    na verdade também no futebol o espaço do negro é limitado a atuar dentro do campo, seja jogando ou cuidando do campo propriamente dito; fora do campo pode também mas como ropeiro, massagista, segurança e gandula; quando por descuido ensaiam mostrar habilidades exclusivas dos brancos sao rapidamente expurgados; andrade ex jogador negro ocupou interinamente o lugar de tecnico enquanto procuravam outro; so que foi campeao e logo depois, apesar do retrospecto positivo foi demitido e nunca mais conseguiu se colocar como tecnico na primeira divisao; procedimento igual repetiu-se agora com cristovao no vasco; apesar do protagonismo do negro no futebol o posto de tecnico é exclusivo dos brancos; negro so interino.
  6.  Sala Fério disse:
    Acho que na questão racial se omite propositalmente o fato de que o país é majoritariamente mestiço. Sim, há diferenças de inserção, como há em todas as sociedades, mas a tendência é que isso se dilua com o tempo. Afirma-se que a questão do preconceito é com relação à aparência, o tal do preconceito de marca: quando a maior parte da população for miscigenada – e hojejá é – esse problema tenderá a desaparecer rapidamente, já que quem tem parentes de várias etnias só pode ser racista por ignorância e insensibilidade totais. O racismo de fato é praticado por meios de comunicação, indústria cultural e publicitários que ainda insistem em colocar os afrodescendentes, puros ou mestiços, sempre em posições subalternas (como os criados em uniforme das novelas da Globo) ou ausentes. Isso realmente deve ser denunciado e
    divulgado. As cotas podem ser um meio de resolver isso, mas critérios não étnicos seriam mais equitativos: dar cota a quem precisa realmente, por critérios sociais. O critério social, defendido inclusive por alguns negros de renome, atende tanto aos afrodescendentes quanto a todo e qualquer cidadão excluído por quaisquer razões. A parte simbólica da questão pode ser resolvida com ações educativas e de resgate da cultura negra. O filho de um comerciante ou médico português, italiano, ou alemão, com uma afrodescendente, é branco ou negro? Precisa de cota?
    •  Wyllison disse:
      As cotas raciais devem existir sim, temporariamente, só por uns 300 anos, que foi o tempo de maior exploração e segregação do negro no Brasil.
  7.  Rogério Ferraz Alencar disse:
    Por ironia, o Fala Sério pôs um cachorro preto, raivoso, atacando um cachorrinho branco, indefeso.
    •  Sala Fério disse:
      Rogério, nenhuma conotação intencional. Como sabemos, o algoz israelense não é negro e suas vítimas palestinas não são brancas: ambos são de etnia semítica. Agradeço sua observação e a ajuda para despertar o interesse em meu modesto blog. rs (sou descendente de brancos, negros e índios)
  8.  Norberto disse:
    Nunca precisamos de cotas no futebol por que até um tempo atrás futebol era coisa de peão, da arraia miúda e não pagava salários milionários!…Com a mudança de status e pagamentos a quantidade de brancos aumentou! Para mim isso é visível!
  9.  thalita disse:
    lembrando a importância do clube de regatas vasco da gama que nos salvou de ser uma pátria aonde os fla X flus ocorreriam nas quadras de tênis ou badminton.

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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

LIVRO: MERCEDES BAPTISTA A criação da identidade Negra na Dança


MERCEDES BAPTISTA
A criação da identidade Negra na Dança

            Paulo Melgaço da Silva Júnior

 LINK PARA DOWNLOAD: http://sdrv.ms/UIZ2sK

 https://www.facebook.com/photo.php?fbid=495753907155426&set=a.299715136759305.77861.278535572210595&type=1&theater



https://skydrive.live.com/?cid=0de066a896716975&id=DE066A896716975!1422&authkey=!AD8h8yTVIAp2qmc


Prefácio

O trabalho de Mercedes Baptista marca uma guinada na dança
afro-brasileira ao imprimir-lhe uma nova consciência de suas origens,
uma linha de pesquisa e uma dimensão criativa própria. Assim
possibilitou-lhe sair dos moldes da simples reprodução e repetição
do folclore. A vida e a postura profissional dessa coreógrafa pioneira
ajudaram a constituir essa nova postura na dança afro-brasileira.
A trajetória pessoal de Mercedes é inseparável de sua atuação como
bailarina e coreógrafa.
       ver mais ....

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Israel estereliza mulheres etíopes de origem judaica



http://africas.com.br/portal/israel-admite-uso-de-contraceptivos-em-imigrantes-judeus-da-etiopia/#.URKVx_IT-X0



Israel admite uso de contraceptivos em imigrantes judeus da Etiópia

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Natalidade na comunidade etíope caiu 50% nos últimos dez anos
No início de dezembro, uma edição do programa Vácuo, transmitido pelo canal estatal israelense IETV provocou choque em Israel. Segundo a denúncia, diversas mulheres etíopes de origem judaica teriam sido submetidas, à revelia, a tratamentos contraceptivos que serviriam como pré-requisito para entrar no país. Inicialmente, o governo negou conhecimento ou incentivo à prática de forma veemente.
Neste domingo (27/01), no entanto, o jornal Haaretz revelou que, pela primeira vez, um membro do governo israelense admitiu a possibilidade de que essas mulheres tenham passado pelo tratamento sem consentimento.
Desde 2007, milhares de refugiados africanos chegam em Israel fugindo de conflitos e genocídios em seus países de origem. A maioria desses imigrantes provém do Sudão e da Eritréia,
De acordo com o Haaretz, a admissão foi feita por Ron Gamzu, diretor-geral do Ministério da Saúde. Gamzu enviou a todas as organizações de saúde de Israel um carta instruindo todos os ginecologistas a “não renovar prescrições de Depo-Provera [o remédio contraceptivo] a mulheres de origem etíope se por qualquer razão houver preocupação de que elas possam não entender as ramificações do tratamento”. Gamzu orientou os médicos, ainda segundo o Haaretz, a procurar a ajuda de tradutores caso achem isso necessário.
Há cinco anos, existem denúncias a respeito de tratamentos forçados, mas a edição de dezembro do programa Vácuo, que tentava descobrir por que a natalidade na comunidade etíope de Israel caiu 50% nos últimos dez anos, aprofundou a questão.
Diversas mulheres etíopes entrevistadas pelo programa disseram ter sido avisadas que, para emigrar para Israel, precisariam tomar as injeções a cada três meses, antes da viagem e depois da chegada ao país. A prática teria sido iniciada em campos de refugiados da região de Gondar, continuado em um campo transitório em Adis Abeba, capital da Etiópia, e em Israel. Muitas afirmaram não saber que o Depo-Provera era um contraceptivo forte, mas sim algum tipo de vacina.
De acordo com o relato do programa feito pelo jornal Times of Israel, muitos tratamentos teriam continuado em Israel mesmo com as mulheres apresentando efeitos colaterais, como dores de cabeça severas e dores abdominais, e osteoporose, condição que torna perigoso o uso do Depo-Provera.
De acordo com o mesmo jornal, uma câmera escondida em uma clínica mostrou uma enfermeira dizendo a uma mulher etíope que as injeções de Depo-Provera era dadas “primariamente às mulheres etíopes porque elas esquecem, não entendem, é difícil explicar para elas, então é melhor que tomem logo a injeção a cada três meses… basicamente elas não entendem nada”.
Em depoimento, Rachel Mangoli, diretora da Organização Feminina Sionista Internacional na cidade de Pardes Hanna, disse que, em 2006, criou um programa de acolhimento para crianças etíopes. Naquele ano, Rachel percebeu que nenhum bebê etíope nascera no centro. Segundo Rachel, um diretor de uma clínica local informou que as mulheres daquele abrigo receberam as injeções de contraceptivo pois não era possível confiar que elas tomariam as pílulas anticoncepcionais todos os dias.
Como ocorre em outros lugares do mundo, as mulheres da comunidade etíope poderiam estar mais preocupadas com a carreira do que com ter filhos ou ter entendido que é mais fácil criar uma família menor, mas o material mostrado pelo programa indica a existência de um ato orquestrado. Ainda em dezembro, o parlamentar Ilan Gilon pediu à procuradoria-geral israelense que inicie uma investigação sobre o caso.
* Fonte: Opera Mundo. Publicado na Carta Capital
l
Paulo Rogério / Veja a matéria completa CLIQUE AQUI

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

MONTEIRO LOBATO - LITERATURA ACIMA DO BEM E DO MAL?




or Lucimar Rosa Dias
 
 
 
04/02/2013 - 14:51
 

Monteiro Lobato. Literatura acima do bem e do mal?
Artigo
AA Maior | Menor

Ao longo dos últimos anos tenho me dedicado a estudar o impacto do racismo e da discriminação racial na constituição da identidade e no desenvolvimento da criança pequena, por isso, não poderia deixar de comentar com vocês um assunto que está em pauta na mídia nacional.
A professora Nilma Lino Gomes/UFMG, atualmente no Conselho Nacional de Educação, foi relatora do PARECER CNE/CEB Nº: 15/2010. Tal parecer trata da pertinência ou não do livro “Caçadas de Pedrinho”, de Monteiro Lobato, ser distribuído em escolas da rede do Distrito Federal, sem nenhuma orientação aos professores sobre como lidar com trechos da obra em que personagens demonstram atitudes racistas em relação a Tia Anastácia.
A polêmica instalou-se, notícias e artigos vêm sendo publicados nos principais jornais brasileiros, especialmente a Folha de São Paulo, na maioria das vezes com o intuito de questionar a validade de tal iniciativa, como quase sempre acontece com tudo que se propõe a promover a igualdade racial neste país. Até a Academia Brasileira de Letras, em geral muito calada, compenetrada, saiu do casulo e manifestou-se, contrariamente é óbvio.
A simplificação do conteúdo do parecer, qualificando-o como censura ou recomendação para banir o material da escola, acrescida do jornalismo faccioso que ouve somente um segmento sem que haja contraditório, sem que outros interlocutores possam falar, é estratégia bastante utilizada pelo racismo institucional brasileiro. Ignorou-se o conteúdo do parecer e o ponto de vista dos pesquisadores que na academia e na gestão pública vêm se debruçando sobre o papel da educação escolar na reprodução do racismo.
Se é fato que nossas crianças podem e devem ler Monteiro Lobato, também o é que os professores e professoras não podem deixar de problematizar as referências deste autor aos seus personagens negros, especialmente à Tia Nastácia, pois sabemos todos que a literatura contribui na construção de valores – não fosse assim não teríamos tantos projetos incentivando o gosto pela leitura. Em momento algum o parecer fala em banir os livros de Lobato, mas em preparar os educadores(as) para questioná-lo no que for pertinente ou, em último caso, não distribuí-lo. Evidentemente que a aposta está na preparação dos educadores. Assim, como questionamos muitas coisas construídas em nossa sociedade, a literatura é parte disso, seja produzida por Lobato ou por outro.
Para ilustrar o que estamos tratando, trago um trecho de uma de suas obras. O livro “Caçada de Pedrinho”, analisado pelo referido parecer, não é o único a trazer frases preconceituosas: em “Reinações de Narizinho” muitas são as referencias pejorativas aos caracteres negros de Anastácia.
"_ Corra Nastácia! venha ver este fenômeno...
A negra apareceu na sala, enxugando as mãos no avental.
_ Que é, sinhá? - perguntou.
_ A boneca de Narizinho está falando!...
A boa negra deu uma risada gostosa, com a beiçaria inteira."
Em outro trecho da mesma obra, numa conversa entre Narizinho e Emília, ocorre o seguinte diálogo:
"_ É, mas você comeu-a com espinho e tudo - e até lambeu os beiços.
_Lábios, aliás. Beiço é de boi. Comi porque quis, sabe? "
Diante destes textos, pergunto: o que estamos ensinando às nossas crianças, quando lemos trechos como estes sem problematizá-los? Além disso, Tia Anastácia, por vezes incontáveis tem seu nome substituído pelo seu pertecimento racial, em várias e várias referências a ela lemos tão somente “a negra”.
Inexiste, no entanto, qualquer referência de Lobato a Dona Benta tratando-a por “branca”. Tal diferenciação de tratamento é repleta de significados. Portanto, creio sim que o tema do parecer é pertinente, pois trata-se de nos perguntarmos que tipo de educação queremos para nossas crianças e qual formação indicamos aos educadores e educadoras que com elas convivem.
Obviamente não há uma relação direta entre ler Lobato e tornar-se racista, preconceituoso, etc, contudo nossa luta é para superar estes aspectos de nossas relações, ou não? Por que questionamos o tipo de publicidade voltada para as crianças, senão porque queremos construir uma sociedade diferente? A naturalização do racismo na sociedade brasileira é a garantia de sua manutenção. É necessário mexer no vespeiro.
Estou plenamente de acordo com quem argumenta que a leitura de Lobato deve ser feita e os professores têm de ter qualificação para discuti-la com seus educandos. É extremamente pertinente apostarmos na formação de professores como um caminho seguro para garantir uma educação de qualidade; no entanto, dificilmente alcançaríamos todos os leitores da obra de Lobato, por isso, a nota explicativa seria uma minúscula contribuição neste oceano que os pesquisadores do tema chamam de racismo institucional.
Não se trata, volto a dizer, de censura, mas de questionar/problematizar a produção, neste caso a literária, para que deste processo emanem princípios e valores que colaborem na construção de novos tempos. A arte nas suas mais variadas linguagens não é desprovida das concepções dos seus produtores sobre o mundo. A arte serve para sedimentar valores ou questioná-los, reforçar uma visão de mundo ou agir para superá-la. A arte é ideológica.
Li Lobato para o meu filho quando ele tinha 6 anos, mas em nenhum momento deixei de problematizar as expressões preconceituosas do autor, como faço com toda literatura que compartilhamos, afinal a arte serve também para produzir reflexão. Creio eu que o parecer reitera este aspecto do processo educativo e reafirma sem medo de questionar um ícone brasileiro, que não se deve ler para crianças sem adverti-las sobre os trechos preconceituosos.
Sabemos todos que este autor tem sido por muitos considerado controverso, ambíguo em muitas questões, a racial é uma delas. Um conto dele chamado Negrinha é para mim a melhor descrição dos impactos do racismo na constituição da identidade de uma criança. Quando a menina negra descobre no contato com meninas brancas que a ela é negada a possibilidade der ser criança, de brincar, simplesmente por ser negra, ela morre.
Outro instigante livro dele é o Presidente Negro. Lobato conhecia e discutia a questão racial, não era um ingênuo produzindo descompromissadamente. Então, não se trata de não ler Lobato, mas como ler Lobato, para quem ler Lobato e talvez qual Lobato ler. O que se segue?
Bem se vê que é preta e beiçuda! Não tem a menor filosofia, esta diaba. Sina é o seu nariz, sabe? Todos os viventes têm o mesmo direito à vida, e para mim matar um carneirinho é crime ainda maior do que matar um homem. (...) A boneca botou-lhe a língua. (Idem, p.132).
" Pois cá comigo – disse Emília – só aturo estas histórias como estudos da ignorância e burrice do povo. Prazer não sinto nenhum. Não são engraçadas, não têm humorismo. Parecem-me muito grosseiras e até bárbaras – coisa mesmo de negra beiçuda, como Tia Nastácia. Não gosto, não gosto, e não gosto ! (Monteiro Lobato, 1957, p. 30)
Difundir estes textos nas escolas desacompanhados de uma orientação crítica fere preceitos legais previstos na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, especialmente os arts. 26A e 79B, razão pela qual vemos com preocupação o ministro da Educação, Fernando Haddad, pressionado pelo conservadorismo da impressa e de certas instituições, anunciar que pedirá ao CNE que reveja o parecer que recomendou restrições à distribuição do livro "Caçadas de Pedrinho" em escolas públicas.
Parece que a produção literária de Lobato estaria acima do bem e do mal, e por isso estaríamos fadados a continuar a ouvindo Emília sendo repetida exaustivamente às crianças: “coisa mesmo de negra beiçuda, como Tia Nastácia.” Parafraseando a personagem do autor – Não gosto, não gosto e não gosto!
De saber que muitas e muitas professoras lerão Lobato para muitas e muitas crianças, inclusive negras - que ainda são alvos de chacotas, por seus caracteres físicos, cabelos, nariz, cor da pele - sem que haja uma visão crítica de narrativas como esta; daí porque nós pesquisadores e militantes esperamos que o Ministério da Educação não se furte ao seu papel de educador.


segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

DOCUMENTÁRIO - A HISTÓRIA DO RACISMO


http://www.geledes.org.br/esquecer-jamais/179-esquecer-jamais/17179-a-historia-do-racismo-documentario


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  • Esquecer? Jamais!

    A História do Racismo - documentário

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    Racismo Uma História. O filme aborda o cruel legado deixado pelo racismo ao longo dos séculos. Iniciando pelos EUA, berço da Ku Klux Klan, onde o pesquisador James Allen, possuidor de vasta coleção de material fotográfico e jornalístico sobre linchamentos, defende que há um movimento arquitetado para apagar a mácula racial da memória do país. A seguir, remonta à colonização belga do Congo, por Leopoldo II, onde os negros que não atingiam a quota diária de borracha tinham a mão direita decepada. O documentário trata ainda da problemática racial na África do Sul (Apartheid) e Grã-Bretanha, abordando a luta do Movimento pelos Direitos Civis nos EUA e a desconstituição do mito da existência de raças.

    RACISMO UMA HISTÓRIA

    O racismo surge realmente nos séculos XVI e XVII, sobretudo neste último. Os europeus praticavam a escravidão e há alguns séculos escravizavam pessoas na África e no Novo Mundo. A história do racismo no mundo ocidental é amplamente associada à escravidão como a forma primitiva do colonialismo. E é nesse contexto que algo chamado raça é criado o que significa essencialmente que certos povos definidos como não europeus são dominados e governados por europeus. Para as pessoas nos EUA, nos séculos XVII e XVIII a raça era um fato da vida, e creio que o racismo é algo que surge como interação necessária. Não se trata de pessoas criando racismo no laboratório ou no escritório para depois sair ao mundo para aplicá-lo. De certo modo, os brancos, os negros e os índios estabeleceram suas ideias de raça, em proximidade uns dos outros, através do contato. Os britânicos não se tornaram traficantes de escravos e escravizadores por serem racistas. To rnaram-se racistas porque usavam escravos para obter grande lucro nas Américas e criaram um conjunto de atitudes em relação aos negros para justificar o que faziam. A verdadeira força motriz detrás do sistema escravocrata era a economia.

    A COR DO DINHEIRO

    Os africanos eram produtos de comércio, para serem adquiridos, vendidos, arrendados, herdados. Eram como os outros bens de comércio. E quando isso foi instituído, tanto nos navios negreiros que zarpavam aos milhares dos portos britânicos como nas plantações assim que isso ficou instituído como base da expansão da riqueza britânica, como se pode argumentar que de uma maneira ou de outra que a grande inferioridade dos negros não é inerente aos valores culturais fundamentais dos britânicos? John Hokins foi talvez o primeiro comerciante inglês a raptar escravos do Tigrin, situado a alguns quilômetros de Freetown, e a retirar à força escravos da Serra Leoa. O triste é que este homem até se tornou cavalheiro. Quando na escola, lemos sobre o sargento Hokins, como se ele fosse uma boa pessoa, uma pessoa honrada, alguém que contribuiu positivamente para a criação do império britânico. Só muito mais tarde, alguns de nós aprendemos, com pesar, que de fato ele não apenas estava envolvido no comércio de escravos, mas ele realmente capturou escravos. Ele instalou locais ao longo do cais, ao longo do que hoje chamamos "Government Wharf".

    Ao longo do tempo, tornou-se uma indústria, muitos ingleses nos negociavam e muitos governantes da Serra Leoa, especialmente os próximos à costa, envolveram no comércio de escravos. E temos, por exemplo, várias ilhas ao longo da costa da Serra Leoa que eram importantes entrepostos de comércio negreiro. Como a ilha Bunce, por exemplo. Onde havia entrepostos ingleses, europeus e até americanos estavam envolvidos no comércio de escravos da ilha de Bunce. Quando um comerciante vinha comprar, eles eram numerados aqui. Se fossem do grupo A, levavam o grupo A e colocavam naquele espaço onde havia uma fogueira e eles eram marcados no ombro. Claro que sabemos como eram levados, capturados, amarrados, acorrentados e jogados dentro dos navios. Era uma experiência terrível para os escravos, do momento em que eram capturados até chegarem ao chamado Novo Mundo. E os que sobreviviam e que lá chegavam eram expostos à venda. E depois, quando eram comprados, sofriam todo tipo de indignidades. Uma mulher custava o preço de dois homens. À tarde, ela trabalhava nas plantações. À noite, elas voltava a trabalhar, para gerar os filhos dos patrões. Por isso, que se tinha que pagar o dobro por apenas uma mulher. Quando o navio chegava, eles as embarcavam e partiam. Elas não eram mais vistas.

    Numa estimativa conservadora, mais de 11 milhões de africanos foram transportados através do Atlântico. Acorrentados e amontoados como animais, pelo menos 2 milhões morreram durante a viagem infernal conhecida como "Passagem Atlântica". Os escravos eram vistos como pessoas sem raízes, pessoas sem terra, alienadas do seu país. Ou seja, não tinham direitos de nascimento. E eram considerados como pessoas que tinham sido arrancadas de outra sociedade sem serem socializadas na nova. Então, por assim dizer, estavam socialmente mortos. Eram vistos como pessoas sem honra, o que é uma condição degradante. Para o senhor de escravos, isso significava um poder absoluto sobre o escravo. Independente do que diziam as leis, tinham direitos de vida e morte. Chegou-se a uma situação em que milhares, dezenas de milhares, centenas de milhares de negros ou pessoas de pele escura eram mantidos sem qualquer direito e obrigados a trabalhar dia e noite por um sistema de vigilân cia com chicotes e alfanjes. Claro que havia o receio de que eles tentassem se rebelar, tentassem fugir, e, quando isso acontecia, matariam os senhores e os capatazes e suas esposas na sua cama. E qualquer branco era visto como um inimigo em potencial pelos negros.

    Assim, há um medo mútuo entre os dois grupos e isso tendia a consolidar o sentimento racial.

    O único modo de manter a sociedade escravocrata minimamente segura era armar todos os homens brancos e até mesmo algumas mulheres brancas. Você estava ali, na casa grande de sua plantação, no seu entreposto, pensando no que os nativos estariam fazendo, como nos filmes de época, que os nativos são inquietos. O que são esses tambores ao fundo? Havia a ideia que essas pessoas estavam se reunindo, que iriam invadir, nos atacar. Era uma espécie de projeção. Em outros termos, você invadiu os países deles. Você os subjugou.

    Há uma longa história de "perigos de cor". Há os peles-vermelha. Os índios. Os peles-amarela, os peles-negra. Há decididamente o outro não-branco. Que o outro não-branco está ameaçando, assustando, que talvez venha a atacar. Isso provavelmente provém de uma consciência pesada, de uma espécie de reconhecimento subconsciente do tipo de coisas que foram feitas com o outro não-branco. No começo do século XVI, desde o Chile, no sul, à Flórida, no norte, esses "outros não-brancos" não passavam de vermes a serem exterminados. O monge dominicano Bartolomé de Las Casas foi testemunha ocular de incontáveis atrocidades às populações nativas. Seus relatos parecem um catálogo de um genocídio.

    "Na terra da região conhecida por Flórida, "os espanhóis assassinaram muitos, como se fosse um costume, "a fim de incutir medo nessas pessoas. "Fizeram de suas vidas uma completa miséria, "tratando-as como animais de carga. "Numa outra cidade, os açougueiros assassinaram todos, "jovens e idosos, líderes e pessoas comuns."Nem as crianças foram poupadas. "O açougueiro-chefe fez com que grande número de nativos da área "tivessem seus narizes, lábios e queixos arrancados do rosto. "Eles estavam numa agonia indescritível e cobertos de sangue. "Seus atos são testemunhos vivos das grandes ações "e milagres sagrados feitos por esses missionários "da sagrada fé católica".

    As coisas que Las Casas testemunhou, em especial, na Península Ibérica ou em Cuba, estes crimes e ataques incríveis contra os índios, estripamentos, fogo, estupros, etc. Tenho certeza que esse nível de violência era algo que se podia presenciar em diferentes lugares nos séculos XVII e XVIII em outras partes do império espanhol. Mas foi particularmente um momento terrível que Las Casa presenciou a chegada dos espanhóis à América e a tentativa de forçar os índios a trabalhar. Os relatos de Las Casas causou bastante desconforto para o Conselho das Índias, a administração espanhola do Novo Mundo. Foi convocado um debate em Valhadolid, Espanha, em 1550.

    O debate consistia não apenas nos maus tratos aos índios, mas se podiam ser classificados como seres humanos. Debatendo com Las Casas, o defensor da população nativa, estava um jesuíta, Juan Ginés de Sepúlveda. Nessa época, a Espanha estava na América há cerca de 50 anos. E durante esse período as brutalidades cometidas pelos conquistadores atingiram tal monta que despertou algum alarme. E nesse contexto surgiu esse debate. De um lado, havia a ideia que os índios tinham alma, podiam ser catequizados, e deviam ser tratados não como servos, não como trabalhadores forçados, mas como pessoas sob a proteção dos espanhóis. Do outro lado do debate, estava a ideia de que talvez esses povos não tivessem alma, talvez eles fossem escravos naturais. E nesse contexto eles podiam ser coagidos a trabalhar. O que Las Casas queria fazer era mudar a política da Coroa Espanhola em relação aos índios. Paradoxalmente, ele conseguiu banir a escravização dos índios. Foi algo que a Coroa Espanhola proibiu, declarou ilegal. E em 1542, as leis foram alteradas para assegurar que não houvesse mais escravos índios. Mas Las Casas também sugeriu que a falta de mão de obra na América podia ser resolvida com escravos negros da África. Algo que mais tarde ele se arrependeu. Mais tarde na vida. É um momento chave, na medida em que a reflexão sobre o sistema que produz a ideia de raça está presente neste debate.

    É o sistema que produz a noção de raça que a definirá nos 200 a 300 anos seguintes. É esse o sistema colonial que pega essa ampla variedade de povos e os define como índios. Impõe essa classificação a eles. E é nesse contexto que se começa a ver duas coisas que andam de mãos dadas com o desenvolvimento do racismo. De um lado, as instituições que controlam populações exploradas, oprimidas. E nesse contexto os debates que foram feitos para definir que tipo de populações eram.

    Os debates começaram com advogados, passaram para antropólogos, e depois para biólogos. Sempre debatendo dentro deste contexto. Do colonialismo, que fixa tais pessoas como objeto de investigação. Terça-feira, 11 de outubro. Até agora, nada de terra. As próximas 12 horas irão decidir. O momento crucial na história racial de todo o mundo Atlântico e do mundo foi Cristóvão Colombo, mas não na 1ª viagem que tomo mundo conhece, mas na 3ª viagem em 1498.

    Colombo zarpou rumo ao sul, para Serra Leoa, onde ele notou que as pessoas eram muito negras, completamente negras. E ele rumou ao leste de Serra Leoa até chegar próximo à Trinidade, na costa norte da América do Sul. Ele registrou que a população era branca com cabelos loiros. E não deveria ser possível, segundo a predominante teoria da cor de pele em todo o mundo clássico e período medieval. O que houve com Colombo é que... as pessoas começaram a perceber que poderia permanecer na mesma latitude e obter cores de pele radicalmente diferentes. E se isso era verdade, então deveria haver outra explicação para a cor da pele além da... geografia! É aí que começam a surgir as teorias biológicas das diferenças de cor de pele. E isso acaba levando às teorias racistas das diferenças de cor de pele. Então surge a ideia, originalmente identificada como pré-adamismo. De que talvez haja múltiplas origens e que... seres humanos pouco civilizados e mais primitiv os têm uma origem não contemplada pela narrativa bíblica, mas estão próximos ao mundo animal. Essa visão então se desenvolve no poligenismo, isso quer dizer de múltiplas origens. Quando os europeus encontraram pela primeira vez os chimpanzés, ficaram surpresos pelas semelhanças entre os chimpanzés e os humanos. Mas eles denominaram os chimpanzés de dris.

    Uma das questões abordadas por Jonh Locke no "Ensaio sobre o Entendimento Humano", é a questão de se os humanos haviam cruzado com os macacos. A pergunta constantemente feita no século XVII era se os povos africanos podiam ser classificados como da mesma espécie dos europeus. E Locke tinha sérias dúvidas se eram da mesma espécie ou não. E uma das explicações para os povos africanos, que começa a ser ouvida em Barbados, por exemplo, na colônia inglesa em Barbados, no século XVII, era que os africanos negros eram produzidos pela relação sexual entre um chimpanzé e um ser humano. Então eles não são humanos. Eles são parte animal. Isso se soma a série de preconceitos acerca da animalidade dos africanos, sua bestialidade e sexualidade como animal. Até mesmo no século XX, tem-se a alegação do jazz ser animalístico. Esses são preconceitos que começam a estar presentes na cultura europeia no século XVII. No contexto do que achamos do ponto de vist a das grandes questões científicas e filosóficas. E também do ponto de vista literário.

    Em "A Tempestade", não importa como você interprete Calibã, o estranho mestiço de Shakespeare reforça a ideia de que os escravos não são completamente humanos. Shakespeare não sabia como resolver essa problemática. Seria ele da classe trabalhadora? Seria o proletário? Seria africano? Seria o selvagem? Shakespeare não sabia como criar Calibã. Ó escravo venenoso, pelo próprio diabo gerado em tua mãe maldita. Apresente-se! Em "A Tempestade", parece claro que Shakespeare imaginou Calibã como um escravo negro. Ele tinha mãe africana e como pai, um demônio negro. Em certo aspecto, Calibã é a primeira representação do rebelde, sexualmente obcecado, violento e ignorante escravo negro. Sujo como és, tratei-te como gente, alojando-te em minha própria cela, até quando ousaste querer desonrar minha filha. Quisera tê-lo feito. Mas me impediste. Eu teria povoado a ilha com Calibãs. Shakespeare o retrata como alguém que podia ser enganado com algumas b olhas. Nada de metanfetamina ou crack,mas por algumas bugigangas e algumas bebidas.

    Muitos Calibãs eram encontrados nas plantações inglesas da América. De fato "A Tempestade" foi parcialmente inspirada na história do navio que encalhou nas Bermudas, com a tripulação amotinada. O Sea Venture rumava para as plantações da Virgínia, uma colônia escravagista onde Shakespeare tinha investimentos. A noção econômica da plantação como um grande lugar de agronegócios e de grande cooperação de trabalho humano para o campo agricultável começou na Irlanda, começou em Ulster. Claro que era uma casa de comércio londrina que queria fabricar laticínios e iniciar plantações em Ulsterna época que... na época de Shakespeare, no fim da vida de Shakespeare, a Virginia Company estava fundando uma colônia na Virgínia.

    A ideia de que os grandes dias de glória da Inglaterra começaram com Elizabeth... não houve colônia inglesa bem sucedida no reinado de Elizabeth. As grandes vitórias imperiais agressivas inglesas começaram no século XVII sob o governo de Cromwell, com a expansão do império e a conquista da Jamaica. É aí que os ingleses também começam a se ver como parte da raça branca superior. Oliver Cromwell é um personagem corajoso, poderoso e revolucionário. Ele foi um grande general e comandante do capitalismo, que transformou o Atlântico, se não o mundo inteiro. Esta visão poderosa que ele tinha de estar fazendo o trabalho de Deus começou no interior da Inglaterra onde as grandes estruturas hidráulicas de Vermuyden da Holanda foram instaladas para drenar os campos. Ele teve papel nisso. De privar ou de retirar as pessoas de suas terras habituais a fim de produzir as riquezas das planícies aluviais de Lincolnshire e Northbrook. Ele então transforma isso numa int er-relação, digamos, entre a água e a terra, cruzando o Atlântico para fundar as plantações de açúcar. Ele não fez isso sozinho, é claro. Ele fez com uma classe de pessoas. Por isso chamamos de classe capitalista porque ela esperava capitalizar a terra, transformá-la em mercadoria e então em capital, fazendo isso através da plantação de açúcar na década de 1 na época da Revolução Inglesa, da guerra civil inglesa. É uma incrível história de conquista, crueldade e Deus.

    Se observarmos os estados do sul dos EUA, até a altura da guerra civil, a maior fonte de riqueza na América era a posse de escravos e do trabalho escravo. Isto é monstruoso. E é nesse processo de ser capaz de comandar os recursos de outras partes do mundo, extraí-los para suas indústrias e comandar a mão de obra que se cria esta enorme desigualdade estrutural. Os britânicos ficaram abastados graças à escravidão. Liverpool e Bristol crescem a níveis extraordinários de bem-estar material e urbano por causa do sistema escravocrata. O Lloyd's of London, o Banco da Inglaterra, o Banco Barings, o Banco Barclays, Lorde Harwoods da Casa Harwoods instituições imponentes que existem por todo lado estão completamente enraizadas no sistema escravocrata. Mas é um sistema que precisa de uma justificação. Esse é o elemento racista que ele contém, mas a sua verdadeira razão era o lucro. É uma espécie de lavagem do lucro da escravidão ao invés de sua simples apl icação em empresas econômicas é, ao meu ver, uma parte importante do desenvolvimento moderno da Grã-Bretanha. Por exemplo, sempre penso em Bristol no crescimento de Clifton e por aí adiante, completamente ligado ao lucro com a escravidão, com o comércio negreiro do século XVIII início do XIX.

    A escravidão tal como existia em algumas partes da Europa, anteriormente a este período do comércio negreiro Atlântico, não estava especialmente ligada à cor. Sim, os escravos na Europa Ocidental podiam ser eslavos, mas tinham a mesma cor de pele e você não podia dizer só de olhar para alguém, se era escravo ou não.

    Quando surge as Índias Ocidentais por volta de 1700, você pode dizer só de olhar para alguém se ele é escravo ou não. Os povos antigos, no geral, não sofreram dessa forma de identificação de raça e escravidão baseada na raça. Mas tinham sua própria visão, que era que todos os estrangeiros todos os não-gregos, todos os forasteiros, em princípio, podiam ser legitimamente escravizados, porque eram inferiores. Não eram apenas os não-gregos que eram considerados inferiores desta forma absoluta. Os homens gregos consideravam as mulheres gregas do mesmo modo. Por isso se fosse homem e grego pertencia só por este fato a categorias superiores.

    Para começar, o sentimento racial pode assumir simplesmente a forma de aversão, de desagrado. Mas no caso da escravidão do Novo Mundo, assume a forma de dominação, de exploração. Algo mais coerente, mais planejado. Não é apenas um preconceito casual contra pessoas diferentes de nós. É a determinação de usar estas pessoas diferentes de nós. E é isso que cria o sentimento racial mais intenso que surge na adoção generalizada da escravidão nas plantações das Américas.

    Na antiguidade, os defensores da instituição da escravidão não se fiavam nas ideias de inferioridade racial ou cor da pele para justificá-la. Mas as ideias de um dos grandes pensadores da antiguidade, que foi muito citado no debate de Valhadolid, seriam adotadas no contexto da escravidão do Novo Mundo.

    Aristóteles, se é que posso usar uma expressão terrível, foi o algoz pois suas ideias eram consideradas desde o final do período medieval e citadas porque Aristóteles era considerado, embora não afortunado, não era cristão, viveu demasiado cedo, no entanto, tinha muita reputação. E se ele dissesse que a escravidão era um fenômeno natural, então provavelmente era verdade. Mas é muito importante esclarecer que Aristóteles não falava em termos das características raciais externas da cor.

    Gênesis, capítulo 9, versículo 25. "E Noé começou a ser um marido... Uma autoridade ainda maior que Aristóteles foi invocada para justificar a escravidão. Deus e a Bíblia.

    Gênesis, capítulo 9, versículo 2 era interpretado pelos cristãos como a autorização divina para traficar escravos e possuir as plantações.

    É uma espécie de história engraçada e da nossa perspectiva parece ridícula. Mas foi levada muito a sério. Após o Dilúvio, Noé sai da Arca, ainda há água por toda parte, ele decide que vai criar um vinhedo. Noé se embebeda. Ele tem 3 filhos: Jafet, Sem e Cam. Cam vai à tenda do pai, onde ele está deitado inebriado. Ele retira o lençol, olha para Noé e depois chamou seus irmãos. "E Cam, o pai de Canaã, viu a nudez de seu pai..." Ele disse: "Olhem para nosso pai, ele está nu." E tentou fazer com que os irmãos rissem. Quando Noé desperta de sua letargia, fica furioso e roga uma praga nos descendentes de Cam. "Ele disse: Maldito seja Canaã, "que ele seja o último dos escravos de seus irmãos!" Ele diz que o filho de Cam, chamado Canaã, está a partir daquele instante amaldiçoado para sempre. E ele será escravo dos irmãos, Sem e Jafet.

    A maldição de Cam não foi especificamente negra. Um escritor medieval, representando os lordes senhoriais, que escreveu: "Os camponeses são descendentes de Cam, e por isso devem servir." A palavra "escravo" surgiu do termo "eslavo". Pessoas que tinham sido capturadas nas fronteiras orientais da Europa.

    Só por volta do século XV quando os portugueses no noroeste da África começaram a identificar especificamente os africanos como maldição. Mas a ideia de que um ramo da família humana tinha sido escravizado por causa desta maldição é muito útil para os opressores. É uma versão que agrada a todos os opressores pois se pode escolher qualquer grupo que se queira escravizar ou oprimir como sendo descendente de Cam. Assim, tem-se uma justificação bíblica para maltratá-lo.

    O cristianismo faz coisas diferentes em épocas diferentes. Em outros termos, há certamente uma corrente de pensamento na qual as pessoas justificam a escravidão, argumentando que ela convertia as pessoas da África ao cristianismo. O cristianismo é apenas um aspecto de um número de diferentes sistemas de pensamento que criaram as bases coloniais para os tipos de conhecimento que serão utilizados para definir populações não-europeias.

    Passamos do cristianismo para o liberalismo, para noções de humanitarismo, para o capitalismo. Todos esses tipos de intervenções para tentar gerenciar e explicar o empreendimento colonial. Sem questionar o empreendimento colonial. Sem questionar o que é a escravidão atlântica. O papel do cristianismo na escravidão é muito complexo. Em boa parte de sua história aceitou a escravidão como parte da ordem natural das coisas.

    Se quisermos traçar um paralelo, seria a atitude que temos em relação a um sem-teto hoje. Não vemos isso como um pecado ou algo maléfico, mas como uma situação infeliz. E isso prosseguiu até meados do século XVIII quando houve uma mudança verdadeiramente radical na qual alguns pensadores cristãos começaram a ver a escravidão como um pecado.

    A escravização dos nativos da América do Norte nunca foi uma política europeia. Mas isso não facilitou a vida desses povos indígenas cuja a relação com os colonos acabaria por vitimar ou matar a maioria deles. Se analisarmos a partir da perspectiva dos nativos americanos, quando os brancos chegaram foi uma perturbação. Eles eram chocantes e surpreendentes de todas as formas. Mas, para muitos índios, eram vistos apenas como mais um grupo rival. E é um dos fatos interessantes da história americana do século XVII.

    Na perspectiva dos índios, os brancos eram semelhantes a outras nações indígenas rivais. Talvez se negociassem ou se fizessem guerra com os brancos, talvez se aliassem aos brancos contra outra nação indígena. Os índios não viam as coisas em termos de "brancos" e "vermelhos", se quisermos expressar assim. Porque os assentamentos brancos não eram tão poderosos. Isso só aconteceu muito mais tarde nos séculos XVII e XVIII. Eles não viam como uma invasão, como uma forma de genocídio, a ponto de se unirem como índios contra brancos.

    Os modos e pensamentos do homem branco são estranhos. Mas apesar de nossas peles terem tons diferentes, somos amigos, Chingachgook!Podemos falar do século XVIII como um período de 100 anos no qual os índios começaram a perceber que a batalha era entre eles e o branco.E em 1763, quando ficou claro para grupos diferentes de índios do centro-oeste de que os ventos estavam mudando, eles iniciaram uma rebelião. Ela foi liderada por um índio ottawa chamado Pontiac que cercou o forte britânico em Detroit. Ele não conseguiu destruir o forte, mas assustou as pessoas de lá. E fez com que Londres tomasse ciência do problema de lidar com os índios, especialmente os do centro-oeste.

    Uma das coisas mais extraordinárias que aconteceram é que George III declarou, no outono de 1763, uma linha de proclamação, como foi chamada.Uma linha de proclamação que proibia que qualquer colono branco se fixasse além das montanhas dos Apalaches sem a sua autorização. Efetivamente, a ideia era frear os assentamentos brancos para preservar as relações comerciais britânicas com os índios. Mas a ironia é que havia muitos colonos brancos viajando para a América à procura de terras. Assim, em 1763, essa proclamação real cria uma nova tensão entre os colonos brancos na América e a Coroa. Esse foi um dos fatores da Revolução Americana.

    Os colonos brancos passaram a acreditar, depois de 1763, que o governo britânico não os apoiava, mas aos índios. Após a Revolução Americana, ou no processo da Revolução, os americanos brancos ficaram aguerridos. E os novos EUA deixaram de ser uma nação amiga dos índios. Os nativos americanos estavam numa situação difícil. Se eles se aliassem aos britânicos, cuja base era o forte Detroit, arriscavam a sofrer a ira dos rebeldes sediados em forte Pitt. Se aliassem a esses americanos e aos seus milicianos, estariam pedindo uma reação implacável dos britânicos. E quanto a tentarem ficar neutros, mesmo que estivessem na Pensilvânia, um estado fundado pelos quakers sob os princípios do amor cristão, também sofreriam consequências fatais. Um grupo que permaneceu neutro foi o dos índios cristãos moravian, que estavam reunidos em 3 pequenas comunidades, e a mais importante delas Gnadenhutten. Como moravian cristãos, devia haver de 100 a 150, tentaram ficar fora da guerra. Não eram índios hostis. Tinham adotado muitos dos costumes, equipamentos e tecnologia dos brancos. Liam a Bíblia, entoavam os hinos. Eram para todos os efeitos o modelo para pessoas, que no século XVII, queriam converter e civilizar os índios. Então um grupo de milicianos da Pensilvânia chegou. Quando eles recolheram tudo que poderia servir como arma, ferramentas, machados, o que quer que os índios tivessem que pudesse ser usado contra eles, os milicianos se reuniram e decidiram matar todos eles. Cada um dos índios, na verdade a maioria era de mulheres e crianças, creio que havia cerca de 30 homens, os outros cerca de 60 ou mais eram de mulheres e crianças, foram massacrados. Foram levados aos pares para uma cabana onde recebiam um golpe com um martelo. Os miolos saltavam, sem considerar que eles não eram guerreiros. Ao fim do massacre, os milicianos brancos desapareceram. Nunca foi tomada qualquer medida legal contra eles. E o argumento foi que esses índios tinham ferramentas com inscrições,tinham livros e implementos que só podiam ter roubado dos brancos. É essa a tragédia ou ironia de tudo isto. De certo modo, os pertences que demonstravam que os índios cristãos eram civilizados foram usados contra eles. Os milicianos não acreditaram que eram deles.

    Creio que é uma história muito evocativa para a Pensilvânia, porque o que começou como uma experiência nobre com brancos e índios vivendo juntos tinha ser transformado numa espécie de guerra racial atroz, na qual a distinção entre o bom e o mau índio foi completamente apagada. Isso remete a um dos problemas dos colonos brancos americanos: O que significa ser americano? O que existe na América enquanto local, que define as pessoas que aqui vivem? Quando a Festa do Chá de Boston ocorreu em dezembro de 1773, como protesto contra os impostos sobre o chá fixados por Londres, temos os patriotas, correndo para os navios da Companhia Britânica das Índias Orientais e jogando o chá no mar, vestidos de índios. Para mim, isto é muito interessante porque se vestiram de índios para provar que eram americanos. Quando se passa a fase de dominação militar dos índios, eles se tornaram bastante úteis culturalmente ao articular o americanismo, a ideia de ser americano. Por isso há motivo para haver carros chamado Cherokee e Pontiac. Se listarmos os principais chefes índios ou as principais tribos indígenas é provável encontrarmos um veículo ou uma arma batizados em nome deles. O helicóptero Apache, o míssil Tomahawk, não precisamos ir longe para achar essa ligação. Como muita gente cita, o índio aparece na moeda de cinco centavos, mas o africano não aparece em nenhuma. O índio era uma espécie de símbolo do estilo americano. O destino da América era ser civilizada e os índios tinham que se civilizar ou desaparecer. Mas eles continuavam a ser mais identificados ao estilo americano do que os africanos podiam ser. A única coisa que nos vem à mente, considerando um longo período, é que uma das principais marcas distintivas das relações entre brancos e negros nos EUA foi a ideia da "Lei da Única Gota", a pureza de sangue. Para ser branco não podia ter um antepassado negro conhecido. Nem sempre isso era imposto, mas era a lei. O casamento inter-racial com os índios, que remonta a John Rolfe e Pocahontas, não era tabu. Quando Oklahoma se tornou um estado, na sua constituição, um grupo de índios se envolveu na instalação do governo estadual em 1910. E a lei dizia que não podia haver casamentos entre brancos e negros, e entre índios e negros. Mas deixaram os índios e brancos livres para casar.

    A metade do século XVIII é considerada o momento histórico perfeito, quando o sonho iluminista da irmandade universal capitaneado por filósofos como David Hume, Voltaire, Rousseau e os enciclopedistas se fez presente. Este período deu azo aos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. Princípios que fomentaram as Revoluções Americana e Francesa. Mas estes princípios democráticos não foram aplicados universalmente. Escolha qualquer intelectual de vulto do Iluminismo e, quase sem exceção, encontrará um proponente da igualdade de direitos que acredita que realmente alguns homens são mais iguais que outros. Kant é considerado um dos filósofos mais importantes do período moderno dos últimos cem anos. E é certamente considerado o filósofo moral mais importante, onde a ideia crucial é a da pessoalidade, de respeitar o próximo, de não desdenhá-lo. Contudo, simultaneamente Kant também tem artigos em antropologia e em geografia física no quais ele desc reve uma espécie de nível de quatro camadas de seres humanos. Essa é uma visão racista e restritiva da pessoalidade, onde o pré-requisito para a pessoalidade é ser branco. Apenas a camada europeia, a primeira camada, que tem o necessário para serem pessoas completas. Os asiáticos estão abaixo dos europeus, e os negros abaixo dos ameríndios. Essas são as camadas. E mesmo sendo seres humanos, não são pessoas completas.

    O Iluminismo é uma faca de dois gumes. Ele forneceu as bases para o argumento da igualdade social e política de todos os homens, mas ao mesmo tempo forneceu oportunidade para olhar para os seres humanos não como filhos de Deus, mas como variedades de um animal. Se decidir que certos seres humanos não são humanos, que não pertencem a mesma espécie. Então eles não terão qualquer direito de assinar contratos e não podem fazer parte do contrato social que forma nosso sistema político. E é exatamente isso que acontece nessas primeiras democracias. Os negros não tinham direito ao voto. Muitos dos filósofos que escreveram neste período tiveram um papel racionalista crucial em justificar o imperialismo europeu e a justificar o domínio dos brancos sobre as pessoas de cor. Então por que estas coisas não são mais conhecidas? Por que os seguidores de Kant não o abordaram nessa questão? A sua marginalização de certa forma se coaduna com a visão higienizadora do s filósofos das principais correntes de modo a saber que representa Locke, Kant e Hegel. Representa-os de forma a não remeter para a espécie de dimensões racistas do seu pensamento. E isso contribui para uma imagem do período moderno da qual a raça foi apagada.
    Em nome de suas majestades Fernando e Isabel, rei e rainha de Castela, Leão e Aragão, tomo posse desta terra e a batizo de São Salvador. Apesar das atrocidades perpetradas por espanhóis e portugueses após o descobrimento do Novo Mundo, os colonizadores acabaram desenvolvendo uma sociedade na qual os europeus se misturaram com os índios numa escala inimaginável na América do Norte franco-inglesa. Mas no sul isso era conveniente para os colonos, eles tinham de se multiplicar ou seriam extintos, pois não havia muitos deles. Os espanhóis viam os índios de uma forma diferente dos britânicos.
    Acho que desde a colonização, os espanhóis tenderam a ver os índios como pessoas que podiam se encaixar em seu sistema social. Não porque os espanhóis necessariamente fossem bons, mas porque por inúmeras razões havia menos brancos na América espanhola. Porque a Espanha nunca colonizou a América com o mesmo número de colonos trazidos da Grã-Bretanha e da Inglaterra. O número de espanhóis peninsulares, como eram conhecidas as pessoas da Península Ibérica que vieram para a América Latina, foi muito menor. Emerge no período do Iluminismo, no final do século XVIII, à medida que o abolicionismo começa a chegar a esta parte do mundo, uma forma muito mais vigorosa de interação racial mista da encontrada em outras parte do mundo. É uma tradição diferente que surge da colonização sul-europeia. Portugueses de um lado. Espanhóis do outro. E dessa grande disposição em se empenhar em formas de interação mista e relações sexuais mistas. E identificarem e reconhecerem o surgimento de populações mistas.

    Desta mistura obtém-se, nos últimos 30 anos, de 1760 a 1790, no México, na Cidade do México em especial, mas também variações no Peru e em outras partes, o que se chama pintura de castas, ou de mistura de raças. Pintura de castas, como queira chamar, que se caracteriza em termos classificatórios explícitos. E a classificação é uma forma emergente de racionalizar o pensamento iluminista. A pintura de castas engloba a descendência que surge de tipos de misturas. A mistura do que chamam espanhol e índio por um lado, e espanhol e negro pelo outro. Em relação aos europeus ou brancos com outras formas raciais, indiana e africana, e depois mistura as misturas das misturas por assim dizer. Assim, obtêm-se várias gradações, ou podemos chamá-las de degradações de mistura racial, que vão do mestiço adiante. As linhas de cor não foram definidas entre essas duas raças. Mas tem-se, ao menos, uma raça intermediária. Os mulatos ou pessoas morenas. A presença do mulato nestas colônias e no Brasil, como grupo intermediário, e os mestiços nas colônias espanholas com grande população indígena é algo que acho que as distingue dos EUA com este sistema básico de duas categorias, onde ou se é branco ou se é negro.

    A América do Sul é muito complexa e fascinante. É diferente mas não necessariamente melhor. É fácil ser enganado pelo sistema porque lá se vê negros e brancos misturados entre os pobres, mas isso não ocorre nos EUA. Porque o que os EUA fizeram com a "Lei da Única Gota" foi encorajar um sentido de solidariedade entre os brancos como forma de separá-los dos negros. E a razão pela qual nunca houve solidariedade entre a classe operária na América, foi pela "Lei da Única Gota", e o sistema binário de raças foi uma ferramenta poderosa para dividir as classes operárias e os brancos dos negros. E quando mais nos aprofundamos no sistema, quanto mais economicamente vulnerável e marginalizada a pessoa branca é, mais tende a ser racista porque é a única forma de ela ter algum status. Ela pensa: "Pelo menos não sou negro". Assim, o branco pobre e o negro pobre são totalmente contrários um ao outro. Torna-se um perfeito sistema de divisão. A socieda de latino americana é bem mais racista nas classes altas do que a dos EUA.

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    A História do Racismo



    Os chefes militares brasileiros são completamente brancos. A elite política brasileira foi, até recentemente, completamente branca. Nos EUA, quanto mais elevado se observa, por causa das leis dos Direitos Civis e etc, mais integrada é a população. E a elite política americana está completamente integrada. A Secretária de Estado é negra, o grupo de líderes negros no Congresso é muito poderoso. A razão provável para isso foi a forma pela qual os afro-americanos pegaram a "Lei da Única Gota" e a usaram para seus próprios fins, para mobilização e solidariedade. Enquanto o Brasil manteve a democracia racial, significando que o homem branco se deita com mulheres negras sem se sentir culpado, gerando crianças mestiças de grande beleza. Mas o sistema permanece perversamente desigual. O Brasil é a sociedade mais desigual do mundo ocidental. E os negros estão completamente no fundo da base. É um sistema pernicioso. É um Apartheid sem as leis do Apartheid. E no topo é absolutamente racista. Se as democracias contemporâneas podem ser chamadas de racistas, então não deveria surpreender que há mais de 200 anos, uma experiência democrática precoce na Serra Leoa tenha falhado.

    Freetown se tornou o lar dos negros legalistas, ex-escravos que conquistaram a liberdade ao lutar ao lado dos britânicos na guerra de independência americana. Mas a sua liberdade se mostrou bastante limitada, devido às ordens dos seus antigos donos britânicos. Até certo ponto o que é interessante em Serra Leoa é a forma como toda esta história é acidental. As pessoas se tornaram refugiadas, pois tinham se tornado britânicas ao cruzarem as linhas de combate durante a Revolução Americana para lutar pelos britânicos. Em 1775, o governador britânico da Virgínia disse que: "Se os negros, que eram escravos, cruzassem as linhas de combate, "deixassem as plantações e os americanos "e lutassem pelos britânicos, ganhariam a liberdade." Mas os britânicos não estavam muito comprometidos, Durante a Revolução Americana, com a igualdade racial nem emancipação. Foi uma jogada militar estratégica. Quando esta colônia foi fundada em 1787, era para ser livre , mas por inúmeras razões não foi assim que funcionou. Os problemas com os habitantes coloniais ficaram em primeiro plano com a chegada dos colonos da Nova Escócia, que eram negros que auxiliaram os britânicos durante a guerra de independência americana e tinham como promessa uma terra na Nova Escócia.Eram chamados os legalistas negros. Muitas das promessas dos britânicos não foram cumpridas.

    A tragédia da Serra Leoa em 1790 é a dificuldade, a impossibilidade, eu acho, dos brancos deixarem os negros administrarem a colônia. Ela era constantemente comandada ou supervisionada por brancos, e os negros não pensaram que as coisas seriam assim. Eles imaginavam que iriam ter muito mais poder e autoridade. Não seriam meros policiais, iriam governar e isso não ocorreu. Os colonos da Nova Escócia que chegaram aqui tinham todos os recursos para se autogovernarem como um povo independente. Tinham pastores e políticos negros que os tinham mobilizado no Canadá para virem à Serra Leoa. Por isso tinham o recurso humano para se autogovernarem como um povo livre e independente. Há uma visão que surge ao mesmo tempo e alimenta o abolicionismo, para afirmar que todos aqueles que não são europeus ou de descendência europeia são historicamente imaturos em contraste com aqueles que são europeus ou colonos europeus.

    Os europeus consideram como se tivessem a obrigação, o fardo de civilizar. Algo que ainda nos acompanha hoje. Como vemos em relação à invasão do Iraque por exemplo. Iremos ensiná-los a se governar, porque ainda não foram capazes de se autogovernar. Foi mesmo uma grande oportunidade perdida, porque se tivessem dado a essas pessoas a oportunidade para se autogovernarem, é possível que talvez, Serra Leoa não tivesse sido literalmente colonizada. E Serra Leoa poderia ter sido o primeiro país africano negro a se libertar do domínio colonial.

    Creio que há muitos fatos em minha vida que não se passaram com muitas pessoas. Olaudah Equiano cujo primeiro nome escravo foi Gustavus Vassa obtém a sua liberdade em Londres e vira uma figura essencial no movimento abolicionista. Sua autobiografia realmente se torna o documento político transformador para o movimento abolicionista. Olaudah Equiano é um dos grandes abolicionistas que ficaram legados à margem da história. Enquanto William Wilberforce é retratado como o grande herói que aboliu a escravidão. Contudo, não importa que grande abolicionista se escolha, encontraremos forças ainda maiores por trás deles.
    Do cristianismo radical dos quackers aos operários, formando o que seria o sindicalismo. Outra coisa sobre Equiano. Foi ele quem uniu os artesãos da Sociedade Londrina de Correspondência. Em 1792, ele os reuniu aos trabalhadores do aço, aos mineiros de carvão e aos operários das fábricas de Sheffield. E é esta união do proletariado industrial e dos artesãos de Londres que os historiadores comumente veem como o início da classe operária inglesa como um todo. Mas foi Olaudah Equiano que os reuniu. O período em que se vê mais solidariedade entre os africanos escravizados e a classe operária branca, ao menos na Grã-Bretanha, foi nos primeiros anos do movimento abolicionista. Iniciando em 1780 quando milhares de britânicos assinaram petições dirigidas ao Parlamento contra o comércio de escravos. E surpreendentemente muitas dessas petições vinham de operários. Havia 769 metalúrgicos em Sheffield que assinaram uma petição memorável dirigida ao Parlament o que dizia: "Deviam esperar que fôssemos favoráveis ao comércio escravo "porque vendemos muitos dos artigos que fabricamos "aos capitães dos navios negreiros que os usam como mercadoria "de troca por escravos na África, mas queremos expressar "nossa solidariedade com os nossos irmãos africanos "e sabemos que eles não desejam ser escravos." É um movimento muito lento, uma espécie de descolamento das placas tectônicas da vida ocidental, no final no século XVIII. E esse descolamento é a escrita do Iluminismo que mudaria as visões teológicas. Mas essas pequenas mudanças tectônicas produziram enormes mudanças na superfície. E uma das coisas que fizeram foi questionar a própria existência do comércio escravo e da escravidão. O fato decisivo que afetou toda a cultura na época e foi a primeira revolta de escravos bem sucedida na história humana e o primeiro rompimento com os poderes imperiais europeus, foi a guerra pela independência do Haiti que começou em agosto de 1791. Uma ilha originalmente colonizada por espanhóis que efetivamente abandona a parte ocidental da ilha ocupada pelos franceses e acaba criando sua própria colônia, chamada Santo Domingo. Devo lembrar que esta era a colônia mais bem sucedida das Américas. Hoje pensamos nela como a nação mais pobre das Américas, ela sempre é falada nestes termos. Naquela época, ela era a colônia mais rica das Américas. A produtividade era enorme. Por isso todos os impérios nas Américas estavam de olho nela. Adorariam poder controlar aquele setor da economia. O início da revolução ocorreu na planície norte de Santo Domingo, que era uma zona altamente industrializada, na qual havia enormes plantações de açúcar. Foi aí que a revolução começou e acho importante também lembrar que essas plantações, que ficavam em um dos locais mais industrializados do mundo à época, em termos de combinação da agricultura e da produção, geraram esta rev olução. Ela surgiu destas plantações.

    No primeiro estágio da revolução de 1791, os escravos assumiram essencialmente o controle das plantações e transformaram essas ricas plantações em acampamentos. Uma das coisas mais interessantes que os grupos africanos sugeriram sobre a revolução era que uma das razões para o sucesso foi o fato de haver muitos homens que tinham sido soldados na África. Tinham sido escravizados após participarem de guerras na África. E eles levaram sua experiência militar para Santo Domingo.
    Em 1793, a Grã-Bretanha e a França entraram em guerra. E a Grã-Bretanha viu a chance de matar 2 coelhos com uma só cajadada. De se apoderar deste território rico, longe da França, sua inimiga, e oprimir a revolta dos escravos antes que se espalhasse para a Jamaica, que ficava muito próximo. Uma enorme força britânica se dirigiu para Santo Domingo e durante 5 anos lutou contra os escravos rebeldes, que estavam sob a liderança de Toussaint L'Ouverture, o grande líder haitiano, e perderam. A tentativa de reprimir aquela revolta, envolveu centenas de milhares de jovens e homens ingleses que foram enviados para o Haiti. E ali, eles encontrariam do outro lado da baioneta, do machete, a indignação histórica dos escravos lutando pela liberdade. E foi um enorme trauma para o povo inglês. Foi um caso em que um exército de escravos rebeldes derrotou o exército da superpotência mundial, que também era a maior nação de comércio escravo. E foi um grande choque.

    O mesmo pode ser dito dos franceses, que mais tarde foram derrotados pelas mesmas tropas quando tentaram restaurar a escravidão. A derrota britânica foi um presságio da derrota das tropas de Napoleão que ocorreria poucos anos depois. Para muitos pensadores esta revolução parecia impensável. A ideia de que isto estava acontecendo. A ideia de que os escravos se tornariam generais e líderes de uma revolução e que derrotariam esses exércitos era difícil de encaixar no acreditavam e no que viam. Claro que muita gente pensou nisso e o trouxe para sua realidade. Mas acho que isso desafiou à época e continua a desafiar a noção sobre onde e como é feita a história e quem são os atores principais. Este foi um momento marcante na história, não apenas das Américas, politicamente, mas na ascensão do sentimento democrático da filosofia, do pensar sobre os direitos. Não apenas um desafio para as ideias racistas, que compele pessoas para as marchas da história ao invés de colocá-las no centro, como também repensar narrativas mais amplas sobre a história ocidental.

    O interessante sobre a Revolução Haitiana é que é a única revolução com a única Constituição que proíbe a escravidão e proíbe a discriminação com base na raça. Isso é histórico. Não está na Declaração de Direitos americana. Não está presente na Constituição consuetudinária imperial britânica. Mas é parte da história de oposição ao racismo que provém dos próprios escravos, e não dos chamados esforços humanitários do movimento abolicionista que não teria sido bem sucedido a menos que os próprios escravos não tornassem a escravidão instável. O preço que pagaram foi terrível. Porque houve um boicote internacional ao Haiti e no fim tiveram de pagar indenizações. Não foram indenizações pagas aos escravos. Pagaram indenizações aos franceses pelas propriedades expropriadas. E uma das razões pelas quais o Haiti é hoje o país mais pobre do hemisfério norte tem origem nisto, na realização deste feito histórico espantoso. Ali e stava a única revolução escrava bem sucedida da história. E disseram: "Vamos nos assegurar que seu exemplo contagioso "não chegue aos EUA, não chegue à América Latina. Vamos isolá-los. "Vamos pô-los em quarentena. Vamos fazê-los pagar." A escravidão só foi abolida nas ilhas britânicas em 1833. De fato ainda havia africanos sendo levados através do Atlântico para Cuba e o Brasil, ilegalmente mais de um milhão. E a escravidão só termina na América com a Guerra Civil. E em Cuba e no Brasil só acaba em 1888. É a triste verdade de muitas situações semelhantes a esta, onde há uma grande mudança no papel. Uma grande mudança no papel não altera as condições materiais de vida das pessoas. Pois o que houve foi que os escravos britânicos tornaram-se oficialmente livres em 1 de agosto de 1838. Mas, para quase todos eles, não havia trabalho à vista, além de continuar a cortar cana de açúcar. E agora, repentinamente, eles tinham de pagar aluguel para os plantadores pelas cabanas miseráveis em que viviam e impostos ao governo. E havia outras estratégias utilizadas para evitar que escravos tivessem acesso a terra, às cidades, às profissões e por aí adiante. Existia todo tipo de estratégias atreladas a uma ampla ordem racial, que também ostentava um certo tipo de subordinação sem a escravidão. Muitos dos abolicionistas podiam ver que era injusto e cruel perpetuar um sistema onde as pessoas eram escravizadas e degradadas, mas isso não significava necessariamente que vissem essas pessoas escravizadas e degradadascomo pessoas tão civilizadas quanto eles. Havia uma separação. E essa separação devia ser marcada e tinha de se atribuir significado, porque historicamente pensamos com frequência que o abolicionismo foi como um movimento antirracista. Ele não foi um movimento antirracista.

    A Grã-Bretanha saiu da escravidão para um império colonial mais profundo e vasto. Creio que é importante os britânicos tentarem moderar a visão que têm de si próprios e sobre o seu passado com a percepção de que sua história não são apenas fanfarras, não são apenas glórias, mas que há uma mancha obscura, um lado obscuro, do qual não dá para se vangloriar.

    Em 1740, a Grã-Bretanha dominava os mares, mas em 1740, os britânicos transportavam 40 mil africanos por ano através do Atlântico. "Nunca serão escravos. Os britânicos nunca serão escravos." Claro que o fim da escravidão abriu todo tipo de possibilidades de contestação que antes não havia. Por isso creio que a mudança foi crucial e os ex-escravos mobilizaram instituições políticas, legais e religiosas e foram capazes de avançar. Mas é notório que, de certa forma, a luta para acabar ou apagar completamente os feitos e legados da escravidão ainda continua.

    Fonte: BBC