sábado, 2 de fevereiro de 2013

QUAL É A COR DE YEMANJÁ?


http://conversadepreto.blogspot.com.br/

QUAL É A COR DE YEMANJÁ?




Por Walter Passos.
Historiador.


Skype: lindoebano

Facebook: Walter Passos


Há muitos anos, participei de alguns seminários no Olodum, um dos blocos afro mais conhecidos no Brasil e no mundo, sobre o Tema: “Qual é a Cor de Deus?”, oportunidades nas quais comecei a trazer ao público discussões acerca da Teologia Preta. Em um desses encontros, ocorrido na Casa de Benin (Salvador-BA), questionei a iconografia de Yemanjá, representada à época como uma mulher branca. Questionado, veementemente, por uma conhecida escritora branca, que afirmou ser correta a representação de Yemanjá porque as sereias são de origem mediterrânica, fui “agraciado” por vaias do público, muitos deles pertencentes às religiões de matriz africana.
Hoje, ao acordar e como de hábito, fui olhar às mensagens do Facebook. E deparai-me com uma organização importante na Bahia que ainda veiculava uma imagem caucasiana de Yemanjá, mesmo após tantos anos e conquistas da população preta.
No dia 02 de fevereiro, a cidade de Salvador se torna mais cosmopolita quando milhares de pessoas vão à praia do Rio Vermelho oferecer seus presentes e oferendas, reencontrar amigos, e participar da parte profana da festa com muito samba e cervejas.  Alegria contagiante de soteropolitanos e turistas, porque estamos em pleno período turístico em Salvador, sendo essa a última festa que antecede o carnaval.
No passado, sabemos que os nossos ancestrais praticaram um paralelismo religioso com o cristianismo para manter viva a fé trazida da África.  Aquilo para muitas pessoas se tornou um sincretismo - no qual observamos a difusão de afirmações equivocadas -, a exemplo da confusão entre o Senhor do Bonfim e Oxalá.  Sabemos, entretanto, que não há elementos em comum nas duas representações religiosas, inclusive em suas histórias dentro da comunidade preta baiana. 
A iconografia das forças de natureza de matriz africana quando antropomorfizadas deveriam seguir a cor epitelial das civilizações que as criaram e dos descendentes que mantém viva as tradições, reflexo constante da luta árdua e da respeitabilidade em uma sociedade que trata as expressões de fé de origem africana como demoníacas e primitivas.
No Brasil, a mulher branca é simbolizada como a representação da beleza, pureza e santidade. Ao revés, as mulheres pretas, vitimada com todas as formas de violência nessa sociedade, são representadas na mídia e literatura como as menos valorizadas da nossa sociedade, de devassas a idiotizadas, fato que ainda persiste em programas de televisão e no ideário das mentes colonizadas.  
Apesar de livre a manifestação artística é evidente que o padrão de beleza branco está nas mentes e pinceis de artistas para representar a imagem de poder das águas salgadas, à luz do racialismo brasileiro. Torna-se, portanto, uma questão primaz de resistência e respeitabilidade do povo preto que a iconografia tenha bom senso e respeito às civilizações africanas. Yemanjá, obviamente, uma mulher preta, fato este que corrobora com sua origem e pertencimento a ancestralidade.
Neste caminho que estamos de formação de crianças e jovens pretos a imagem tem um poder muito forte de quebras de paradigmas criados pelo racismo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário