http://conversadepreto.blogspot.com.br/
QUAL É A COR DE YEMANJÁ?
Por Walter
Passos.
Historiador.
E-mail:
walterpassos21@yahoo.com.br
Skype:
lindoebano
Facebook:
Walter Passos
Há muitos anos, participei de
alguns seminários no Olodum, um dos blocos afro mais conhecidos no Brasil e no
mundo, sobre o Tema: “Qual é a Cor de Deus?”, oportunidades nas quais comecei a
trazer ao público discussões acerca da Teologia Preta. Em um desses encontros,
ocorrido na Casa de Benin (Salvador-BA), questionei a iconografia de Yemanjá, representada
à época como uma mulher branca. Questionado, veementemente, por uma conhecida
escritora branca, que afirmou ser correta a representação de Yemanjá porque as
sereias são de origem mediterrânica, fui “agraciado” por vaias do público, muitos
deles pertencentes às religiões de matriz africana.
Hoje, ao acordar e como de hábito,
fui olhar às mensagens do Facebook. E deparai-me com uma organização importante
na Bahia que ainda veiculava uma imagem caucasiana de Yemanjá, mesmo após
tantos anos e conquistas da população preta.
No dia 02 de fevereiro, a cidade
de Salvador se torna mais cosmopolita quando milhares de pessoas vão à praia do
Rio Vermelho oferecer seus presentes e oferendas, reencontrar amigos, e
participar da parte profana da festa com muito samba e cervejas. Alegria contagiante de soteropolitanos e
turistas, porque estamos em pleno período turístico em Salvador, sendo essa a
última festa que antecede o carnaval.
No passado, sabemos que os nossos
ancestrais praticaram um paralelismo religioso com o cristianismo para manter viva
a fé trazida da África. Aquilo para
muitas pessoas se tornou um sincretismo - no qual observamos a difusão de
afirmações equivocadas -, a exemplo da confusão entre o Senhor do Bonfim e
Oxalá. Sabemos, entretanto, que não há elementos
em comum nas duas representações religiosas, inclusive em suas histórias dentro
da comunidade preta baiana.
A
iconografia das forças de natureza de matriz africana quando antropomorfizadas deveriam
seguir a cor epitelial das civilizações que as criaram e dos descendentes que
mantém viva as tradições, reflexo constante da luta árdua e da respeitabilidade
em uma sociedade que trata as expressões de fé de origem africana como
demoníacas e primitivas.
No Brasil, a mulher branca é
simbolizada como a representação da beleza, pureza e santidade. Ao revés, as
mulheres pretas, vitimada com todas as formas de violência nessa sociedade, são
representadas na mídia e literatura como as menos valorizadas da nossa
sociedade, de devassas a idiotizadas, fato que ainda persiste em programas de
televisão e no ideário das mentes colonizadas.
Apesar de livre a manifestação
artística é evidente que o padrão de beleza branco está nas mentes e pinceis de
artistas para representar a imagem de poder das águas salgadas, à luz do
racialismo brasileiro. Torna-se, portanto, uma questão primaz de resistência e
respeitabilidade do povo preto que a iconografia tenha bom
senso e respeito às civilizações africanas. Yemanjá, obviamente, uma mulher preta, fato este que corrobora com sua origem e
pertencimento a ancestralidade.
Neste caminho que estamos de
formação de crianças e jovens pretos a imagem tem um poder muito forte de
quebras de paradigmas criados pelo racismo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário