quarta-feira, 30 de julho de 2014

II Marcha Nacional contra o genocídio do Povo Negro

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II Marcha Nacional contra o genocídio do Povo Negro



 Publicado a 14 horas atrás, em 30 de julho de 2014 » Atualizado às 9:01
Categoria » Violência Racial e Policial
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reaja
Enviado para o Portal Geledés
Nota da Campanha Reaja ou Será Morta, Reaja ou Será Morto, organizadora da II Marcha Internacional contra o Genocídio do Povo Negro, sobre publicação da matéria “Juventude Negra organiza marcha contra as discriminações raciais”, no dia 26 de Julho de 2014, na página da ONG Geledes – Instituto da Mulher Negra, que contém reportagem da EBC.
A II Marcha Internacional Contra o Genocídio do Povo Negro está sendo gestada pela Campanha Reaja ou Será Morta, Reaja ou Será Morto em comitês independentes organizados e compostos por negras e negros de todo o Brasil com adesão de negros e negras de mais de 17 estados brasileiros e participação de 15 países contra o Genocídio do povo negro no Brasil. Não é uma marcha contra o “extermínio da juventude” ou contra “discriminações raciais”, mas contra o que reconhecemos como a prática genocida contra o povo negro. O temas extermínio da juventude negra e discriminações raciais são temas do governo indiferente a ação da Campanha Reaja ou Será Morta, Reaja ou Será Morto que desde 2005 vem pautando e combatendo o racismo no interior das instituições de justiça.
Nenhum conselheiro, servidor de governo ou parlamentar tem autorização para nos representar. Uma das palavras de ordem de nossa Marcha é “queremos tomar nossa voz de volta” e o governo e suas instituição não podem e não vão nos pautar. Quando acharmos que devemos nós pautaremos o governo … “o carro não pode passar adiante dos bois!” Os governos e Estado que nos matam não podem fazer discursos sobre nós e nossas dores. Nós o faremos com autonomia e independência.
A Reaja ou Será Morta, Reaja ou Será Morto lamenta a invisibilidade quem tem sido dada as nossas iniciativas que não se pautam por qualquer barganha eleitoreira, partidária ou de símbolos governamentais que não respeitam nossa autonomia.
Nenhum representante de grupo, movimento ou conselho de estado, poderá substituir a fala de quem constrói essa marcha com autonomia e fora dos holofotes das festas dos palácios. Não fazemos uma marcha reivindicativa. Os governos fecharam seus ouvidos para nossas exigências, criando programas sem nenhuma força para parecer que há um combate efetivo de nossa desgraça. Quem tem lutado por nós somos nós mesmos, sem esse medo e essa covardia, esse silêncio e essa cooptação que tem caracterizado a conjuntura atual. Dhay Borges de fato é um valoroso militante e articulador dessa Marcha e assim ele e as mulheres que constroem essa marcha em Brasília e em todo território nacional não precisam de porta voz para falar de nossas dores.
Não buscamos audiência com a presidenta ou com qualquer governador, com prefeitos ou parlamentares que estão mais ocupados com o ano eleitoral que de quatro em quatro anos desmobiliza setores importantes do movimento, cobrando sua fatura por projetos pessoais.

II MARCHA NACIONAL CONTRA O GENOCÍDIO DO POVO NEGRO

A Luta Transnacional Contra o Racismo, a Diáspora Negra Contra o Genocídio.
A Campanha Reaja ou será Morta, Reaja ou Será Morto, diante da conjuntura de brutalidade, violência, superencarceramento e morte da população negra; diante do confinamento de comunidades inteiras em campos de concentração batizados de UPPs ou Bases de Segurança; diante das remoções forçadas de famílias inteiras para o benefício do capitalismo cujos defensores são os maiores investidores nos chamados jogos internacionais (Copa e Olimpíadas); diante do Estado de exceção constituído por leis que suprimem a própria lei garantindo execuções sumárias e extrajudiciais, prisões sem fundamentos e a barbárie generalizada no espaço urbano militarizado e perigoso para nossas vidas desprotegidas de iniciativas legais, ou submetidas a iniciativas legais de nosso abate; diante de instituições que deveriam garantir a efetivação de direitos que se calam e ajoelham frente aos nossos algoze diante da nossa eliminação;. Diante da nossa execração quando mulheres são arrastadas por carros, jovens são amarrados em postes e linchados, suspeitos baleados agonizam em frente a policiais, comunidades inteiras submetidas a uma politica de controle, como se isso não bastasse para comprovar que estamos em uma guerra de genocídio racial; diante do silêncio de parte do movimento social, incluindo de negros e negras que está atrelado aos governo federal e locais que pautam os movimentos sociais com seus garotos de recado constrangidos fazendo seu trabalho em ano eleitoral, ao mesmo tempo em que os governos matam e humilham a população negra, elaborando e apresentando programas ineficazes e sem dotação orçamentaria e mandam seus mediadores e porta-vozes acalmar as vozes das ruas. Assim, diante do exposto, a Campanha Reaja ou Será Morta, Reaja ou Será Morto, em diálogo com irmãos e irmãs em todo território nacional, em diálogo com irmãos e irmãs da Europa e Estados Unidos, da Colômbia e Barcelona, convoca, convida, conclama as organizações negras em particular e as organizações do movimento social, de um modo geral, a tomarem sua voz de volta e REAGIREM. Façamos a II Marcha Contra o Genocídio do Povo Negro tomando nossa voz de volta, dando um salto de unidade e autonomia, de solidariedade e luta contra o racismo e pela vida.
Esse texto é uma orientação geral quanto aos princípio que animam quem almeja, de verdade, construir essa II Marcha Nacional Contra o genocídio do Povo Negro.
Chamamos todas e todos para essa II Marcha Nacional Contra o Genocídio do Povo Negro de forma autônoma, independente e revolucionaria. Eis nossos princípios inegociáveis:
• A II Marcha Nacional Contra o Genocídio do Povo Negro tem como tema: A luta Transnacional Contra o Racismo, a Diáspora Negra Contra o Genocídio.
• A II Marcha Nacional Contra o Genocídio do Povo Negro reconhece e respeita a autonomia histórica das mulheres negras que tem reagido e resistido a opressão dirigida as nossas comunidades e criado instituições poderosas de luta, solidariedade e humanidade do povo negro em todas os continentes , as mulheres negras são a linha de frente dessa Marcha Nacional Contra o Genocídio do Povo Negro, as coordenadoras e impulsionadoras de nossa ação nas ruas do país;
• A II Marcha Nacional Contra o Genocídio do Povo Negro é uma ação politica independente e centrada na luta contra o racismo e o genocídio, na qual os negros e negras terão sua vozes para falarem de si próprios, sem mediadores ou acadêmicos bem intencionados para serem porta vozes de nossa luta;
• A II Marcha Nacional Contra o Genocídio do Povo Negro deve ser organizada nas bases, nas comunidades, nas favelas e prisões, nos quilombos e aldeias, nas fábricas e nas ruas , nos terreiros de candomblé, nas casas de batuque, de xangôs, de tambor de mina, nas posses e quebradas e devem ter essas coletividades como sujeitos e não como objeto de estudo ou barganha em articulações politicas;
• A II Marcha Nacional Contra o Genocídio do Povo Negro repudia o uso eleitoreiro de nossa desgraça seja por qualquer partido ou grupo politico-eleitoral, pois nossas demandas não cabem nas urnas ou em projetos alheios a autonomia preta, pan-africanista e favelada;
• A II Marcha Nacional Contra o Genocídio do Povo Negro usará as cores do Panafricanismo e terá caráter internacional na luta negra;
• Fora desses princípios qualquer iniciativa não poderá ser apresentada como II Marcha Nacional Contra o Genocídio do Povo Negro sob pena de desafiar nosso repúdio Nacional e Internacional;
• A II Marcha Nacional Contra o Genocídio do Povo Negro não terá qualquer vínculo partidário ou eleitoral, e quem assim o fizer estará fazendo outra coisa não a II Marcha Nacional Contra o Genocídio do Povo Negro
Contra o Genocídio do Povo Negro, Nenhum Passo Atrás
Campanha Reaja ou Será Morta, Reaja ou Será Morto.
Comissão nacional da Campanha
30/7/2014Geledés Instituto da Mulher Negra

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Mulher negra - maioria das v´timas de tráfico

http://www.bahianoticias.com.br/noticia/157986-maioria-das-vitimas-de-trafico-e-mulher-e-negra-aponta-relatorio.html

Maioria das vítimas de tráfico é mulher e negra, aponta relatório

Maioria das vítimas de tráfico é mulher e negra, aponta relatório
Foto: Reprodução

A maioria das vítimas de tráfico de pessoas no Brasil é mulher preta ou parda, de acordo com relatório elaborado em conjunto pelo Ministério da Justiça e pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UnoDC). Divulgado nesta segunda-feira (28), o Relatório Nacional sobre Tráfico de Pessoas no Brasil reúne, pela primeira vez, dados de sete órgãos do governo federal sobre o crime e contabiliza números de 2012. Entre 130 vítimas de tráfico de pessoas daquele ano, 104 eram do sexo feminino e 26 do masculino. As informações mostram que 65% das vítimas têm até 29 anos. Já as mulheres pretas ou pardas correspondiam a 42% do total. Foram computados 26 homens vítimas de tráfico e 57% deles eram pretos ou pardos. O documento observa que, em 2012, 43% das pessoas resgatadas eram crianças e adolescentes de até 19 anos.   

SAMORA MACHEL NO SEU MELHOR

Militarização de favelas é estado de sítio inconstitucional - Nilo Batista

http://www.anovademocracia.com.br/no-84/3788-entrevista-nilo-batista-qmilitarizacao-de-favelas-e-estado-de-sitio-inconstitucionalq

 Entrevista - Nilo Batista: "Militarização de favelas é estado de sítio inconstitucional"

No mês de novembro, a reportagem de AND, juntamente com a equipe da Agência de Notícias das Favelas, foi ao Instituto Carioca de Criminologia, sediado no tradicional bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro. Nossa tarefa era entrevistar seu fundador, o advogado e professor Nilo Batista. Em um breve bate-papo, o jurista condenou veemente a militarização das favelas do Rio de Janeiro e disse que a iniciativa é um atentado aos direitos constitucionais de seus moradores. Ainda segundo ele, essa nefasta política dita de segurança pública não seria viável sem o suporte publicitário do monopólio dos meios de comunicação.

Nilo Batista denuncia política fascista do gerenciamento de turno
Enquanto as UPPs avançam sobre uma das maiores favelas do mundo — a Rocinha — a população das regiões já militarizadas segue denunciando o regime de exceção instaurado pelo Estado nesses locais. O advogado criminalista Nilo Batista, ex-vice-governador do estado do Rio de Janeiro e fundador do Instituto Carioca de Criminologia, é um dos destacados denunciantes dessa obscura política nutrida pelos gerenciamentos Cabral, Paes e Roussef.
A UPP, antes de mais nada, é uma iniciativa completamente inconstitucional, que tem o apoio da grande mídia acrítica. A série de restrições a que os moradores dessas favelas são submetidos só seria possível se fosse decretado estado de sítio ou estado de defesa, consultado o conselho da república, o conselho de defesa e o congresso nacional. Só assim seria possível levar a cabo essas restrições em território brasileiro, porque ali, a constituição não está tendo vigência. A começar pelo simples direito de ambulação, do qual essa grande mídia costuma ser tão ciosa, esse direito de ir e vir, um direito tão elementar, é proibido porque acontecem toques de recolher. Outra questão são as festas e manifestações culturais serem tutelados por uma autoridade policial militar. Isso é absolutamente inconstitucional — garante o jurista, que em seguida aponta o monopólio dos meios de comunicação como mentores publicitários desse estado de sítio.
Se isso não estivesse ligado aos grandes lucros que virão dos megaeventos esportivos que acontecerão no Brasil, nos quais a mídia tem a fatia mais importantes, através dos milionários contratos de publicidade e patrocínio, já tinha ido para o ralo esse negócio de UPP. Porque os fracassos, os abusos já estão muito evidentes. Isso não é polícia de proximidade. Isso é polícia de conflito. É completamente irracional a segurança pública ser o eixo das outras políticas públicas. Pobres os locais onde a polícia é o veículo dos outros serviços — critica Nilo.
Nesse avanço do Estado de polícia, a pena virou uma divindade no Brasil, o que é muito ruim. E aí, eles dão voz aos explicáveis sentimentos de vingança das vítimas, alavancam isso tudo, procuram criar clamor popular, etc. Faça uma manifestação pedindo a descriminalização do crime de apologia, que é claramente inconstitucional diante da liberdade de manifestação prevista na constituição. Não vai haver uma nota nos jornais. Claro. Pois são jornais antipopulares, que só olham o povo com os olhos do choque de ordem, com os olhos do higienismo, com os olhos do ‘bota abaixo’, com os olhos das oligarquias sanguinárias, fascistas, que sempre mandaram nesse país e continuam mandando. Agora, faça uma manifestação para pedir pena. Se tiver pouca gente, eles vão usar ângulos de filmagem e fotografia mais fechados, vão dizer que estava cheio, que tinham muitas pessoas. Vão dar todo o espaço nas páginas dos jornais — protesta o advogado criminalista.
Em seguida, Nilo Batista criticou a ocupação dos Complexos dos Alemão e da Penha pelo exército e disse que a iniciativa configura um atentado à constituição.
O adestramento das forças armadas é feito para a guerra, que é um lugar de não-direito. O do policial é feito para o direito, para a legalidade. Na organização militar, a obediência, a ordem, devem ser vinculantes. A legalidade não está em questão. Até porque você está em um ambiente de não-legalidade. O policial tem o dever de checar a legalidade de uma ordem que lhe for atribuída. Coisa completamente diferente no âmbito militar. E essa aproximação entre o poder punitivo e suas agências e o poder militar é muito ruim para a democracia. Se você olhar para o século XX, que foi um século com muitos genocídios, perto de cada genocídio você vai encontrar, ou forças policiais militarizadas, ou forças militares com funções policiais. É com essa receita que, no Complexo do Alemão, nós estamos caminhando inadvertidamente — aponta o jurista.
Sobre a censura sofrida pelas reportagens de AND e ANF no Alemão, na ocasião em que soldados tentaram impedir os jornalistas de registrar imagens, Nilo diz ser mais um sinal desse estado de sítio inconstitucional.
Só com estado de sítio seria possível isso. É um sinal desse autoritarismo com o qual a gente convive e que essa grande mídia silencia porque ela é sócia dos lucros disso — diz.
O jurista também comentou a prisão de quatro operários do PAC, moradores do Complexo do Alemão, acusados de desacato por soldados do exército e encarcerados durante quatro dias em uma prisão estadual.
Ainda que eles fossem condenados pelo desacato, eles não cumpririam pena privativa de liberdade. A relação que nós observamos entre os desacatos lavrados em favelas com UPPs e os abusos de autoridade de policiais é a mesma relação que encontramos entre os homicídios e os autos de resistência nas favelas. Ou seja, atrás de cada desacato lavrado em favelas com UPP, na maioria dos casos, existe um crime de abuso de autoridade cometido pelo mesmo PM supostamente desacatado. Isso nunca é investigado, porque, quando arquivam o desacato, arquivam o abuso também. Uma vez, eu defendi uma senhora do morro dos Prazeres que questionou a atitude de um PM que agrediu o filho dela e foi presa por desacato — relata.
Essa é mais uma das consequências de um estado de sítio inconstitucional, que foi decretado por um secretário de segurança, por um governador de estado, contrariando a constituição. E a mídia silencia, porque nada pode atrapalhar os seus lucros que estão por vir. Essa política tem que ser um sucesso de qualquer maneira, nem que seja, sem trocadilho, na porrada, como está sendo — conclui Nilo Batista.


Nilo Batista é ex-vice-governador do Rio de Janeiro (na gestão de Leonel Brizola), jurista, fundador do Instituto Carioca de Criminologia, o ICC, professor do quadro permanente do Programa de Mestrado em Direito da Universidade Cândido Mendes, professor titular de Direito Penal na UERJ e na Faculdade Nacional de Direito da UFRJ.



Discriminação e racismo institucional-Brasil 2014.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

ELEGÂNCIA DA MULHER NIGERIANA!

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MANDELA DAY - BRASILIA


 https://www.facebook.com/PalmaresGovBr/photos/a.1386330024925426.1073741828.1384511931773902/1652322431659516/?type=1&theater


BRASÍLIA/DF | MANDELA DAY: Por um mundo melhor | UnB

Para integrar a campanha internacional para o Dia Internacional Nelson Mandela, a Universidade de Brasília (UnB) realizará no próximo dia 18/07, uma programação composta por diversas atividades visando a divulgação desse legado, a reflexão sobre o racismo no Brasil e a valorização da cultura de matriz africana. O evento acontecerá no Auditório da Fundação Cultural Palmares (FCP-MinC), em Brasília/DF, a partir das 14h

Leia mais: http://goo.gl/ncEaay

Participe!


 

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Genocídio da população negra: O que o nosso feminismo tem a ver com isso?



http://blogueirasnegras.org/2014/07/02/genocidio-da-populacao-negra-o-que-o-nosso-feminismo-tem-a-ver-com-isso/


Genocídio da população negra: O que o nosso feminismo tem a ver com isso?


A todxs Cláudias, Amarildos, e muitos outros irmãos que não deixaremos ser esquecidos.
Quando falamos do genocídio da população negra no Brasil, muitas vezes o assunto pode parecer uma pauta “geral” da sociedade, mas a verdade é que a luta pela preservação da vida e manutenção do povo negro mais do que nunca precisa ser uma pauta de nós feministas negras. Quando digo que o genocídio é da população negra e não o coloco de forma restrita apenas a juventude, embora reconheça que essa faixa etária é mais atingida por essa tragédia, o faço, pois cada vez que um jovem negro é morto pelo aparato social do Estado e seu braço armado uma mãe, uma irmã, uma companheira, uma comunidade morre também por dentro.
Quanto ao nosso feminismo negro, creio que este não pode perder a dimensão da importância da família, da vida em comunidade como pontos extremamente importantes para a população negra, já que é nesses espaços onde muitas vezes encontramos o único refúgio para almas e corações negros feridos pela total exclusão de outros setores da sociedade. É com essa perspectiva que afirmo que genocídio da população negra é sim uma pauta indispensável do nosso feminismo, embora o protagonismo nessa luta seja nosso como mulheres negras, essa luta não exclui a luta pela vida dos nossos homens negros, antes tenta incorporá-los a ela na tentativa de juntos combatermos o machismo também reproduzido por eles.
Quando falo do genocídio enxergo esse fenômeno como um último ponto de uma escala de dor que atinge mais diretamente os homens negros, e digo que de forma estratégica, mas que influi de forma direta em nossas vidas, como mulheres negras a possibilidade de estarmos em uma fila de visita no presídio ou reconhecendo o corpo de um irmão, amigo, pai, companheiro ou filho é aterrorizante e ao mesmo tempo real a cada dia que acordamos.
Somos irmãs, mães, companheiras de homens e mulheres de um povo que nasce com uma marca na pele que aumenta as chances de morrer precocemente.
Quando digo que o feminismo negro deve adotar como pauta o genocídio da população negra estou longe de transferir a nós mulheres toda a responsabilidade de preservação da vida e da cultura de nosso povo, acredito que se faz urgente o companheirismo e o fortalecimento dos irmãos negros a nossa luta diária. Acredito que assumirmos que esse genocídio é uma pauta geral e assim deve ser tratada é retirar do assunto à dimensão política dessa tragédia e a quem ela possa interessar, genocídio da população negra no Brasil tem gênero, raça e classe e sem assim não for percebido perdemos força contra o grande aparato estatal criado pra nos exterminar.
Reaja ou será morta, mulher negra essa luta é sua também!
Axé.

Imagem – Página Reaja ou será morto, Reaja ou será morta. Créditos: Fafá M. Araújo.

CULTURAS NEGRAS - 3a Edição do Ciclo de Palestras Conheça Mais


http://www.palmares.gov.br/?p=33432

3ª Edição do Ciclo de Palestras Conheça Mais tem início em agosto

sexta-feira, by juliana.silva

Desde 2012 o Ciclo de Palestras promove o debate sobre as culturas negras e de matriz africana pelo Brasil e tem como resultado uma publicação de apoio a Lei 10.639/2003
A terceira edição do ciclo de palestras Conheça Mais Cultura: Afro-brasileira, Nosso Patrimônio, tem início no próximo dia 22 de agosto e será realizado nas cidades de Rio Branco/AC, Florianópolis/SC, Cuiabá/MT, Maceió/AL e Macapá/AP. Trata-se de um espaço destinado para o debate sobre a diversidade e a necessidade de preservação da cultura negra brasileira.
As atividades do Ciclo estão programadas até o mês de outubro, com palestras que variam de acordo com as manifestações culturais mais representativas em cada um dos estados selecionados. Os temas apresentados serão Políticas Culturais e a Cultura Negra em Rio Branco; Sociedades Tradicionais; Memória, Juventude e Saberes Inter-geracionais no Vale do Jequitinhonha; Pagode Alagoano; e Culturas, Dançares e Cantares.
Coleção Conheça Mais: As exposições terão como resultado a publicação de livros da Coleção Conheça Mais, composto por artigos assinados pelos palestrantes, de acordo com seus respectivos temas. O material poderá ser distribuído em escolas, bibliotecas e para o público em geral, O objetivo é atender a demanda por material didático sobre a cultura afro-brasileira, para o cumprimento da lei 10.639/2003, que obriga o ensino da cultura negra e africana nas escolas públicas e privadas do país.
A iniciativa é da Fundação Cultural Palmares (FCP-MinC), por meio do Centro Nacional de Informação e Referência da Cultura Negra (CNIRC).
Agenda
RIO BRANCO/AC
DATA: 22/08/2014
TEMA: Políticas Culturais e a cultura negra em Rio Branco
Palestra - Políticas públicas para a cultura Afro-Brasileira
Palestrantes: Arthur Leandro (Representante da Cultura Afro Brasileira no Conselho Nacional de Cultura) e Jorge Fernandes
FLORIANÓPOLIS/SC
DATA: 26/08/2014
TEMA: Sociedades Tradicionais
Palestra   – Cultura popular e cidadania: O lugar das culturas tradicionais no Brasil Contemporâneo
Palestrante: Paulino de Jesus (UESC)
Palestra - Avandié de Souza: O Príncipe Negro de Santa Catarina.
Palestrante: Joselina da Silva (Fundação Cultural Palmares)
RIO CUIABÁ/MT
DATA: 03/09/2014
TEMA: Políticas Culturais
Palestra   – Cultura e culturalidades: Um reflexão afro-brasileira
Palestrante: Acildo Lopes da Silva (UFMA)
Palestra   – Cultura negra e identidade: algumas reflexões
Palestrante: Angela Maria dos Santos (CEDUC)
MACEIÓ/AL
DATA: 26/09/2014

TEMA: O pagode alagoano

Palestra   – Na roda: Mestra Hilda e o Pagode Comigo Ninguém Pode
Palestrante: Zeza Duarte do Coco (Mestra da cultura popular)
Palestra   – Pisa Miudinho… O trupé do Mestre Verdelinho
Palestrante: Josenildo de Assis Verdelinho (Cantador, ativista cultural)
Palestra   – O Pagode Alagoano
Palestrante: Rogério Dias (Ator, cantador e ativista cultural)
Palestra   – Jacinto Silva: o rei da fragmentação rítmica
Palestrante: Cosme Rogério Ferreira (PPGS-UFAL)
Palestra   – Cultura popular e a emergência de uma rede de valorização da afro-alagoanidade
Palestrante: Ábia Marpin (PPGS-UFAL)
MACAPÁ/AP
DATA: 02/10/2014
TEMA: Culturas, Dançares e cantares
Palestra   – ‘Mana, Vem Vê, Rezar e Cantar as Alvoradas e Folias Afro-Amapaenses’
Palestrante: Carlos Augusto Gomes (Representante da Banda Placa)
Palestra   – “Candombeiro vem de longe/ Caminhando devagar/ Eu cheguei nesse candombe/ Capitão dá licença
Palestrante: (UFMG)

Cadernos Negros - encontro discute publicação, em São Paulo


http://www.palmares.gov.br/?p=33311

Encontro discute a publicação Cadernos Negros, em São Paulo

quinta-feira, by Ascom
No próximo dia 19 de julho, a partir das 15 horas, acontece no Auditório da Funarte, em São Paulo, um bate-papo sobre a publicação Cadernos Negros, volume 36.  O objetivo do grupo paulistano de escritores Quilombhoje Literatura é colocar em debate o conteúdo da obra que nesta edição destaca os contos afro-brasileiros.
Para o evento, os organizadores têm a expectativa de 80 participantes. Os 14 autores que compuseram a edição sugerem a eles, a leitura do livro para fortalecer o debate. Os exemplares podem ser adquiridos na lojinha do Museu Afro, localizado no Ibirapuera, em São Paulo e, em Belo Horizonte, na Editora e Livraria Nandyala. Os interessados devem confirmar presença pelo e-mail quilombhoje@quilombhoje.com.br.
Cadernos Negros – A iniciativa partiu de um coletivo de escritores que passaram a publicar uma vez por ano, conjuntos de suas obras. O volume 36 de Cadernos Negros continua a história da série criada em 1978 por Cuti, Hugo Ferreira, Jamu Minka, além de outros autores. Desde sua criação, a série publica poesias nos anos pares e contos nos anos ímpares. Atualmente a publicação é coordenada por Marcio Barbosa e Esmeralda Ribeiro.
Autores da edição 36: Adilson Augusto, Cristiane Sobral, Cuti, Elizandra Souza, Fausto Antônio, Hildália Fernandes, Jairo Pinto, Lande Onawale, Lepê Correia, Michel Yakini, Serafina Machado, Sergio Ballouk, Silvana Martins, Valéria Lourenço.
Serviço:
O quê: Bate-papo Cadernos Negros – volume 36
Data: 19 de julho de 2014
Local: Auditório da Funarte/SP
Endereço: Alameda Nothmann, 1058 – Santa Cecília (próximo ao Metrô Santa Cecília) São Paulo/ SP
Horário: de 15h às 18h
Informações: (11) 2766-4300

domingo, 13 de julho de 2014

Bonecas negras vende mais que Barbie

http://www.gadoo.com.br/entretenimento/homem-cria-linha-de-bonecas-negras-para-combater-o-preconceito-na-nigeria-e-ultrapassa-vendas-da-barbie-pais/

Homem cria linha de bonecas negras para combater o preconceito na Nigéria e ultrapassa vendas da Barbie no país

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Um diretor executivo de uma empresa resolveu abandonar o negócio de seu pai para abrir seu próprio negócio. Morador da Nigéria, ele queria criar sua própria linha de bonecas negras, a fim de combater o preconceito existente inclusive nos brinquedos.
Taofik Okoya teve a ideia quando precisou comprar uma boneca para sua sobrinha. Ele percebeu que todas as bonecas que encontrava eram brancas e tinham um alto custo.
“Meu objetivo era mudar a realidade de milhares de crianças com brinquedos próximos de sua realidade”, contou. Foi então que seu projeto, nomeado de “Queens of Africa”, ganhou vida.
Trata-se de uma série de bonecas negras inspiradas em grandes mulheres da história africana. Elas vestem trajes locais relacionados à cultura continental.
Okoya afirma que se preocupava com o comportamento de sua filha, a qual tinha bonecas brancas e adorava apenas personagens brancas. Segundo o homem, ela disse um dia que preferia ser branca, fazendo com que, desde então, ele tentasse mostrar como existem vários tipos de cultura e pessoas diferentes que tornam o mundo um lugar maravilhoso.
Queens of Africa
Homem cria linha de bonecas negras na Nigéria para combater preconceito.
Atualmente, suas bonecas são mais vendidas na Nigéria do que as bonecas da Barbie. Ele possui versões que custam à partir de 5 dólares.
Segundo ele, seu maior ganho é ouvir comentários de crianças como: “Eu gosto dessa boneca, ela é negra como eu”.
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Fonte: Brasilpost

Besouro - O filme - Completo - 2009

Tenda dos Milagres - Nelson Pereira dos Santos (1977)

Atabaque Nzinga

quinta-feira, 10 de julho de 2014

A Legião Negra - 1932


http://www.geledes.org.br/legiao-negra-os-negros-na-revolucao-constitucionalista-de-1932/

A Legião Negra : Os Negros na Revolução Constitucionalista de 1932


Publicado a 1 dia atrás, em 9 de julho de 2014 » Atualizado às 20:10 
Categoria » Patrimônio Cultural
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Em 3 de outubro de 1930, Getúlio Vargas chega ao poder por meio de um golpe de Estado. Junto ao movimento tenentista, o “presidente” se mostra autoritário, caça adversários políticos e fecha instituições democráticas, instalando uma espécie de ditadura no Brasil. Para São Paulo, Vargas indicou o nordestino João Alberto para o cargo de governador. As elites paulistas não aceitaram a situação e passaram a defender a democratização do País. A pressão foi tanta que, João Alberto e mais três interventores nomeados por Vargas para “comandar” São Paulo foram derrubados.
constituiçao3
Aos poucos, a luta que começou nas elites paulistas ganhou a adesão de toda a população.
Em 25 de janeiro de 1932, um enorme comício juntou todas as forças da sociedade (até adversários políticos), afirmando que São Paulo iria até as últimas consequências pela democratização do Brasil. Em 23 de maio, uma greve mobilizou mais de 200 mil pessoas, que saíram às ruas para protestar. No conflito com policiais ligados à ditadura, quatro jovens estudantes foram mortos: Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo.
constituiçao5
Começava ali o movimento paulista de resistência à ditadura: o MMDC, que passou a alistar populares – de todas as profissões e classes sociais – para a Guerra Civil. Em 9 de julho de 1932, o Estado mais rico da Nação entra em conflito contra as forças federais comandadas por Getúlio Vargas. Todos são chamados para auxiliar, até as mulheres. E não seria diferente com os negros…
 – E m pouco tempo é formada uma comissão beneficente para arrecadar apoio material e humano entre a comunidade negra paulista. Surge a Legião Negra, que teve papel relevante na Revolução de 1932. O peso político do negro era grande, tanto que o próprio interventor de São Paulo, Pedro de Toledo, foi pessoalmente até a sede da Frente Brasileira Negra (a maior e mais respeitada entidade negra da época), pedir o apoio dos negros para a guerra. Porém, vários integrantes eram vanguardistas e operários (classe amplamente defendida por Vargas). Por isso, muitos negros não aderiram ao movimento constitucionalista.
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2  – Sem o apoio integral da Frente Brasileira Negra, a presença de negros na revolução foi marcante e a Legião Negra (conhecida como os Pérolas Negras), escreveriam para sempre sua passagem em nossa história. É válido destacar que seu fundador e defensor, Joaquim Guaraná de Santana, era inicialmente da Frente Negra Brasileira e rompeu com esta quando não conseguiu apoio absoluto dos companheiros para a Legião Negra. Guaraná fundou então um partido, o PRN (só de negros) e um jornal, o Brasil Novo, em que se autoproclamava como a maior liderança negra do Brasil, mas antes mesmo do fim da guerra ele foi afastado da Legião Negra e substituído pelo advogado negro José Bento
3 – A s principais frentes de combate da Legião Negra na guerra eram: Frente Leste (na divisa com o Rio de Janeiro); Frente Norte (divisa com Minas Gerais); Frente Oeste (divisa com Mato Grosso) e a Frente Sul (divisa com Paraná). Mas a participação dos negros na Revolução Constitucionalista não se fez apenas na Legião Negra, que contava com cerca de 2 mil homens. Havia outros negros – mais de 10 mil – espalhados por toda a força paulista. Vale lembrar que um dos principais comandantes da revolução era negro. Seu nome? Palimercio de Rezende.
4  – Mesmo com os paulistas bastante confiantes, a diferença de forças era brutal. São Paulo tinha cerca de 30 mil homens, enquanto as força federais contavam com o dobro desse contingente, além de ser melhor equipada, contando com aviões e todo o arsenal de guerra do Brasil. Com o conflito, a cidade de São Paulo se modificou. Hospitais e fábricas aumentaram a jornada de trabalho, as aulas nas escolas foram suspensas e o transporte prejudicado. A iluminação elétrica (em fase de instauração) ficou comprometida nos bairros mais distantes, causando transtornos para a população, principalmente aos pobres e negros da periferia.
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5 -  A pós quase 3 meses de luta, as forças constitucionalistas começaram a enfraquecer. O número de mortos e feridos na guerra crescia e o isolamento de São Paulo era total. Sem o apoio dos mineiros e dos gaúchos (que também apoiavam uma nova Constituição, mas não lutavam ao lado de São Paulo), a rendição – assinada em 1º de outubro de 1932 – foi inevitável. Os principais líderes da revolução tiveram seus direitos políticos cassados e foram deportados para Portugal. Valdomiro Lima, gaúcho e tio de Darcy Vargas (mulher de Getúlio) foi nomeado interventor militar em São Paulo e permaneceu no cargo até 1933. Mas a guerra não foi em vão, porque, tempos depois, São Paulo conseguiu muitas vitórias no campo político e econômico.
6  – Como em muitos episódios marcantes que fizeram a história do Brasil, os negros ficaram esquecidos, pois quase nada se falou da Legião Negra depois da Revolução de 1932 e de praticamente 1/3 dos soldados constitucionalistas negros que, há poucas décadas, haviam saído da escravidão. Do conflito, ficaram várias lições: quando pensamos que perdemos a guerra, estamos perdendo apenas uma batalha, porque todo o movimento foi fundamental para a redemocratização do Brasil. A outra lição é que não existe história, luta por liberdade e justiça neste país que não tenha a participação efetiva dos negros brasileiros.
9/7/2014Geledés Instituto da Mulher Negra

terça-feira, 8 de julho de 2014

Brasil vive "epidemia de homicídios":

http://www.revistaforum.com.br/rodrigovianna/plenos-poderes/brasil-vive-epidemia-de-homicidios-600-mil-assassinatos-em-10-anos.html

Brasil vive “epidemia de homicídios”: 600 mil assassinatos em 10 anos

publicada sexta-feira, 04/07/2014 às 10:23 e atualizada sexta-feira, 04/07/2014 às 10:23
Por Andre Barrocal, daCarta Capital
A esquerda costuma associar violência e desigualdade. O fato de as Américas serem ao mesmo tempo o continente mais injusto e mais violento do planeta reforça essa impressão. A direita atribui os índices de criminalidade à falta de repressão e de investimentos em segurança. Pede mais polícia, mais presídios e aplaude quem defende a tese de “bandido bom é bandido morto”. No Brasil, ex-policiais valentões são facilmente eleitos, pois ao menos 14% do eleitorado defende o olho por olho, dente por dente.
Sob qualquer ponto de vista, à esquerda ou à direita, o País tornou-se um paradoxo. Na última década e meia, houve sensível melhora das condições de vida. O desemprego caiu à metade, o salário subiu de forma constante, 36 milhões de cidadãos foram retirados da extrema pobreza. Ao mesmo tempo, a elevação dos gastos em segurança tem se mantido contínua há, no mínimo,  20 anos. Os estados investem em tecnologia, equipamentos, treinamento. A soma desses fatores deveria ter se refletido na queda dos índices de criminalidade. Não foi o que aconteceu. De forma resiliente, o Brasil registra, ano após ano, as maiores taxas de assassinatos em termos absolutos do mundo. Somos campeões de homicídios, título constrangedor para governantes, parlamentares, juízes, promotores, e causa do temor crescente dos cidadãos.
Em 2012, último dado disponível, o País registrou 56.337 assassinatos, segundo a prévia da versão 2014 do Mapa da Violência, divulgada em maio. A fonte do documento são as certidões de óbito emitidas pelo Sistema Único de Saúde, a mais confiável estatística disponível em território nacional. Isso representa uma morte a cada dez minutos. E uma taxa de 29 homicídios para cada 100 mil habitantes, indicador mais utilizado por especialistas para medir o grau de violência letal em uma nação, pois leva em conta o tamanho da população. Uma década atrás, o índice não era muito diferente: 28,5. De lá para cá, morreram assassinados 555.884 brasileiros, ou aproximadamente 50 mil por ano. Jamais, contudo, o País contabilizara cifra tão elevada quanto aquela de 2012. E o dado pode até estar subestimado. Um estudo recente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada  (Ipea) estima que o volume de homicídios é maior e já teria ultrapassado a marca de 60 mil anuais. O aumento das mortes classificadas como “causa indeterminada”, desconfia-se, seria na verdade um subterfúgio de autoridades estaduais para maquiar a realidade.
Coautor do livro Violência Letal, Renda e Desigualdade no Brasil e coordenador do Laboratório de Análise da Violência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Ignacio Cano sustenta existir uma relação direta entre pobreza, desigualdade e violência em áreas específicas – dentro de uma cidade, por exemplo – e grupos específicos (entre os 20% mais pobres, no caso brasileiro). Mas não em um ambiente mais complexo como um país. Daí a pequena relação vista até o momento entre a redução da pobreza e os indicadores de violência. Existiriam fatores externos à dinâmica econômica, entre eles a morosidade judicial, o excesso de armas de fogo disponíveis ou a tal noção conservadora do “bandido bom é bandido morto”.
Uma iniciativa específica, sem relação com o quadro socioeconômico, causou ao menos um momento de queda consistente no índice de assassinatos nos últimos dez anos e aponta uma causa do problema. O Estatuto do Desarmamento, de dezembro de 2003, retirou revólveres e rifles de circulação ao incentivar os proprietários a entregar as armas às autoridades em troca de uma indenização que hoje chega a 300 reais. De lá para cá, foram recolhidas 650 mil unidades, grande parte no início da vigência da lei. Entre 2003 e 2004, a taxa de homicídios caiu de 28,9 por cem mil para 27. No ano seguinte, recuaria para 25,8. Depois, voltou a acelerar.
O mecanismo mais ousado do estatuto, a proibição da venda de armas, esbarrou em uma frente de setores conservadores da sociedade, responsáveis por uma poderosa campanha a favor do direito de se armar. Em um referendo realizado em 2005, como estava previsto na lei, 64% dos brasileiros reprovaram a proibição. Até hoje, comprar uma arma no Brasil é fácil. Na internet, é possível encomendar um revólver calibre 38 por algo em torno de 1,1 mil reais e uma bala por 5 reais.
Matar com arma de fogo é bem típico das Américas. Em nenhum outro lugar assassina-se tanto dessa maneira. De cada três homicídios na região, dois resultam de disparos, conforme o Estudo Global Sobre Homicídios de 2013, divulgado em abril pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes, o Unodc. O continente é o único onde as pistolas são a principal ferramenta dos homicidas. Nos demais, predominam objetos cortantes, facas e explosivos entre eles. A disponibilidade de armas é uma das razões para o continente ostentar o inglório título de área mais violenta do planeta. Dos 437 mil assassinatos em 2012 estimados pela ONU, 36% aconteceram em alguma nação americana, enquanto 31% foram na África, 28% na Ásia, 5% na Europa e 0,3% na Oceania. Dos 20 países com as mais altas taxas de homicídio, 15 ficam nas Américas.
A exemplo do Brasil, os assassinatos mantiveram-se elevados no continente mesmo durante um período no qual muitas nações, sobretudo sul-americanas e caribenhas, viram a pobreza e a desigualdade declinarem. Um caso extremo dessa situação é a Venezuela. A queda da desigualdade e da pobreza foi acentuada, a ponto de o país tornar-se o menos desigual na América Latina, segundo as Nações Unidas. O número de assassinatos disparou, porém. O país registra a segunda maior taxa relativa de homicídios do globo: 53,7 por 100 mil. A cifra só não é pior do que os espantosos 90 casos de Honduras. Em consequência, a violência esteve no centro da última eleição disputada por Hugo Chávez, em 2012. Presidente cujo governo comandou a distribuição de renda na Venezuela, Chávez sofreu na eleição os ataques do adversário direitista Henrique Capriles e sentiu-se obrigado a lançar às pressas um plano de segurança pública. Sem maiores efeitos.
Responsável pelo Mapa da Violência há mais de 30 anos e atual coordenador da área de Estudos sobre Violência da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz avalia que o comportamento da taxa de homicídios na última década no Brasil revela uma boa e uma má notícia. A boa: o País reduziu o ritmo desse crime. Nos anos 1980, a taxa por 100 mil habitantes dobrou. Na década de 1990, subiu 20%. De 2002 a 2012, cresceu “apenas” 2,1%, embora entre 2011 e 2012 a situação tenha destoado e saltado 7%. O lado ruim da história é que a sangria foi contida em um patamar absurdo.
Vivemos uma situação que merece ser descrita como uma “epidemia de homicídios”. Morreu mais gente assassinada no Brasil, diz Waiselfisz, do que em todas as principais guerras da década passada, incluídas as do Iraque e Afeganistão. O perfil médio das vítimas é de jovens entre 15 e 24 anos, negros, moradores da periferia e do sexo masculino, padrão mais ou menos tradicional. A novidade deu-se na geografia. Se nos anos 1980 e 1990 os casos concentravam-se nos grandes centros e nas capitais, na última década tomou conta de regiões menos desenvolvidas.
Em 2002, a lista dos cincos estados com as maiores taxas de homicídio era liderada e dominada pelo Sudeste: Rio de Janeiro, Espírito Santo, Pernambuco, Rondônia e São Paulo, pela ordem. Após uma década, é liderada e dominada pelo Nordeste: Alagoas, Espírito Santo, Ceará, Bahia e Goiás. Entre as explicações para o fenômeno estão a interiorização do desenvolvimento da economia, o que atrai migrantes e dinheiro para cidades com um aparato de segurança pública mais débil, e o próprio combate da violência nos grandes centros, como Rio e São Paulo, o que forçou certa “fuga” de delitos rumo a outras regiões.
Em Alagoas, que assumiu a embaraçosa dianteira, com taxa (64,6 casos por 100 mil habitantes) bem superior àquela do segundo colocado (Espírito Santo, com 47,3), as autoridades consideram inegável o impacto da migração da criminalidade. “Há oito, dez anos, quase não havia tráfico de drogas por aqui. Hoje, 90% dos homicídios são causados pelo tráfico, o pessoal do Centro-Sul invadiu Alagoas”, diz o secretário estadual de Segurança Pública, Diógenes Tenório.
A “invasão” de um dos estados mais pobres e dono de alguns dos piores indicadores sociais do País transformou sua capital, Maceió, na quinta cidade com mais assassinatos no mundo, tomando-se por base o estudo da ONU. A situação é tão grave que, desde 2012, a polícia local vale-se do apoio da Força Nacional de Segurança Pública no combate ao crime. Em 2013, o estado criou uma divisão policial especializada em homicídios para tentar melhorar as investigações e as possibilidades de punir os matadores.
A inoperância policial na averiguação de homicídios é um problema nacional e precisa ser atacada com urgência, na opinião dos estudiosos. E, diferentemente de outros serviços públicos como saúde e transporte coletivo, a causa não é orçamentária. Desde 2005, o Brasil investe perto de 1,3% do Produto Interno Bruto em segurança pública. É o mesmo porcentual aplicado pela França. Só no ano passado, foram 61 bilhões de reais, conforme o anuário estatístico do setor.
Para o Conselho Nacional do Ministério Público, o trabalho policial pouco qualificado dificulta o julgamento de suspeitos de assassinato. É necessário, diz Walter Agra, representante do CNMP na Estratégia Nacional de Segurança Pública, ter mais delegacias especializadas, laboratórios, perícia, inteligência, treinamento e integração entre as polícias. Sem provas, não dá para processar, o que gera uma sensação de impunidade a alimentar a disposição para matar. No Brasil, estima-se que o índice de elucidação de crimes varie de 5% a 8%, baixíssimo se comparado aos 65% dos Estados Unidos, para citar um caso. “O Ministério Público só tem o corpo e o atestado de óbito. Os inquéritos policiais são muito mal instruídos”, diz Agra.
Subsecretário de Planejamento e Integração Operacional da área de Segurança Pública do Rio de Janeiro, que em 2002 tinha a maior taxa estadual de homicídios e “perdeu” o posto na última década, Roberto Sá,  nega que a baixa efetividade policial seja um convite ao crime de homicídio. A polícia, afirma, melhorou e está mais produtiva. Linha-dura, ele sente falta de rigor contra o crime. Defende a redução da maioridade penal para 16 anos e penas mais duras. Segundo Sá, enquanto o Rio cortava pela metade sua taxa de homicídios, por meio de iniciativas como as Unidades de Polícia Pacificadora e delegacia especializada, registraram-se uma elevada reincidência (os detidos costumam ser os mesmos) e o aumento da participação de adolescentes. “O que temos feito no Rio nos permite inferir que há uma legislação branda para um povo violento.”
Os dados indicam uma grande responsabilidade dos policiais pela elevada taxa de homicídios. E não só por sua incompetência investigativa. No ano passado, a polícia matou cinco cidadãos por dia no Brasil, quatro vezes mais do que nos Estados Unidos e duas vezes e meia o índice registrado na Venezuela, segundo o anuário estatístico. “A polícia é parte do problema no Brasil. Matar cinco por dia é inaceitável”, afirma a socióloga Julita Lemgruber, coordenadora do Centro de Estudos e Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes e ex-diretora do sistema penitenciário fluminense. Com uma polícia que mata, poucas opções de lazer nas periferias, educação que avançou em matrículas, mas não em qualidade, e uma postura de “guerra às drogas” por parte do aparato de segurança, diz Julita Lemgruber, não dá para esperar resultados muito animadores contra os homicídios, em que pesem iniciativas estaduais específicas.
Para tentar acabar com uma tácita licença para matar concedida a policiais, tramita no Congresso um projeto de lei para mudar o Código de Processo Penal. O código atual autoriza a polícia a usar a força e os meios necessários contra alguém pego em flagrante ou que teve a prisão ordenada pela Justiça, situações chamadas de “autos de resistência”. O projeto em curso permite o uso “moderado” da força, designação que, subentende-se, exclui o uso de armas. E caso haja disparos a resultar em mortes, determina-se uma rigorosa análise do caso, com preservação da cena, perícia, coleta imediata de provas e abertura de inquérito. Apresentado por quatro deputados de partidos diferentes – Paulo Teixeira, do PT de São Paulo; Protógenes Queiroz, do PCdoB de São Paulo; Fabio Trad, do PMDB de Mato Grosso do Sul; e Miro Teixeira, do PROS do Rio –, enfrenta um poderoso lobby contrário. Partidos conservadores, inclusive da base governista, entre eles PR e PTB, e entidades ligadas a policiais, têm conseguido há um ano impedir a votação no plenário da Câmara.
No Senado, uma proposta do fim de 2013 também busca conter a violência policial, mas mexe na Constituição para promover uma verdadeira refundação da atividade no País. O texto propõe o fim da Polícia Militar, determina que a investigação de crimes seja conduzida do início ao fim por uma única força, e não de forma fatiada como acontece hoje, e cria ouvidorias em todas as polícias. Seguidas tais premissas, permite-se aos estados definir seus próprios modelos policiais, com base na realidade local, quebrando o modelo único existente hoje. O projeto é do senador Lindbergh Farias, do PT fluminense e candidato ao governo do estado, e foi idealizado pelo antropólogo Luiz Eduardo Soares, que esteve à frente das áreas se segurança pública do governo federal e do Rio de Janeiro.
Para além de mudanças pontuais na legislação, o combate aos homicídios carece, sobretudo, de uma radical alteração na postura por parte da sociedade e das autoridades. De um novo pacto civilizatório, afirma o sociólogo Renato Sérgio de Lima, da Escola de Direito da Fundação Getulio Vargas e um dos fundadores do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Segundo ele, no Brasil não há sanção moral, econômica ou judicial a assassinatos. A tese de que “bandido bom é bandido morto” encontra uma ressonância de Norte a Sul, balas e revólveres custam pouco, não se pega cadeia. “O Brasil é violento. A morte precisa ser um tabu.”
O País precisa urgentemente de um grande debate nacional e de prioridade no combate à violência e aos assassinatos, afirma Lima. Em todas as pesquisas de opinião, segurança pública e violência figuram entre os três principais problemas brasileiros, ao lado de saúde e educação. É, no entanto, um tema frequentemente evitado pelas principais lideranças políticas, pois os resultados nessa área são lentos e normalmente não rendem dividendos eleitorais. As eleições de outubro são uma boa oportunidade para o assunto ganhar espaço no debate público. Ele precisa, porém, permanecer na pauta nacional após o encerramento das urnas.
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