quinta-feira, 5 de março de 2015

Não, Alexandre Frota, estupro não é motivo de piada


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Não, Alexandre Frota, estupro não é motivo de piada



Postado em 04 mar 2015
Existe uma banalização da violência sexual no Brasil. E a entrevista do ex-ator a Rafinha Bastos, se gabando de abusar de uma mulher, é mais uma prova disso.

A entrevista de Alexandre Frota no programa Agora é Tarde, televisionada na última quarta-feira (25), foi, para muitos, no mínimo estarrecedora. Se você quiser ver, está aqui no vídeo acima.
O ex-ator contou — em tom de piada e com uma naturalidade assustadora — que manteve relações sexuais não consentidas com uma mãe de santo e chegou a apertar seu pescoço até que a mulher desmaiasse, deixando-a desacordada após o ato.
O apresentador e a platéia em peso riram da “piada” do entrevistado, e o programa continuou tranquilamente como se absolutamente nada fora da normalidade tivesse acontecido, abordando seus assuntos desinteressantes que refletem um Brasil que, honestamente, me envergonha.
Me envergonha mas não me assusta. É que as pessoas (especialmente a mídia e a internet) agiram com tamanho espanto, como se situações como estas não fossem — lamentavelmente! — corriqueiras no Brasil.
Não raro, o estupro e a violência contra a mulher é naturalizada em rede nacional.
Há duas semanas, por exemplo, uma revista de fofoca de alcance nacional teve como matéria de capa o resumo do capítulo vindouro de uma novela global: “Zé Alfredo invade UTI, tira a roupa de Cora e transa com a megera.”
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Quando a cena foi para o ar, na verdade não tinha nenhum estupro. Mas a revista noticiou como se tivesse e não houvesse problema algum nisso.
O próprio Rafinha Bastos — o entrevistador que riu e naturalizou a apologia ao estupro disfarçada de piada de Alexandre Frota — declarou, certa vez, o seguinte absurdo:
Toda mulher que eu vejo na rua reclamando que foi estuprada é feia… Tá reclamando do quê? Deveria dar graças a Deus. Isso pra você não foi um crime, e sim uma oportunidade. Homem que fez isso não merece cadeia, merece um abraço.
Poderia haver algo mais absurdo e repugnante? No entanto, Rafinha continua solto, rico, famoso e bem sucedido em seu novo programa de “humor” Agora é Tarde, ganhando (muito) dinheiro pra continuar distilando violência travestida de piada.
Em todos os casos — que são só uma pequena prova da naturalização do estupro no Brasil — o país assistiu e se divertiu com a violência escancarada. A mídia brasileira reflete, portanto, a mentalidade machista e violenta do brasileiro.
Gente como Rafinha Bastos e Alexandre Frota só continuam na mídia porque há quem os assista, quem os aplauda e quem ria de seu machismo violento — inclusive mulheres, para a minha total descrença.
Em vez de vaiar, o público riu
Em vez de vaiar, o público riu: lamentável
Felizmente, graças ao feminisno — esse mesmo feminismo rechaçado e ridicularizado por muitos nas redes sociais — atitudes como essas têm sido pouco a pouco reprimidas.
As críticas sofridas por Frota na internet ainda são muito menos do que ele merece mas, felizmente, graças à reação de gente que abriu os olhos e percebeu que estuprar não é engraçado, pessoas como Frota e Rafinha Bastos têm sentido, cada vez mais, que a violência sexual como forma de entretenimento não mais será tolerada.
Como se não acreditasse que o povo — especialmente o povo feminista — acordou, Rafinha se justificou na internet: “Era uma piada, ele não fez isso. Se tivesse feito, estaria na cadeia.”
Os internautas — que têm o meu total apoio e concordância — não recuaram. Verídica ou não, a naturalização do estupro precisa acabar! Parece que o “mimimi feminista” da internet tem surtido efeito: a cultura do estupro não passará. Os pseudohumoristas que se cuidem.
Agora é tarde, Rafinha.
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Nathali Macedo
Sobre o Autor
Atriz por vocação, escritora por amor e feminista em tempo integral. Adora rir de si mesma e costuma se dar ao luxo de passar os domingos de pijama vendo desenho animado. Apesar de tirar fotos olhando por cima do ombro, garante que é a simplicidade em pessoa. No mais, nunca foi santa. Escreve sobre tudo em: facebook.com/escritosnathalimacedo

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