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Documentário sobre raízes africanas do Tango exibido em Cabo Verde
"Tango Negro" – Raízes Africanas do Tango" é um intenso e
controverso documentário de Dom Pedro que chega esta semana a Cabo Verde
para mostrar de forma transparente e melódica a forte influência negra
do tango argentino.
Com este documentário, o realizador angolano residente
em França há 40 anos desconstrói os mitos à volta das origens do Tango e
traz ao de cima as fortes raízes africanas veemente negadas e até
desconhecidas desta música que se tornou o símbolo da Argentina – embora
teses sólidas apontem que nasceu no Uruguai. Dom Pedro mostra com este
documentário a contribuição dos escravos levados da África Central para a
América Latina na criação do Tango. A narrativa vai de intensas
interpretações do tango: tocado, dançado e cantado e estende-se com
testemunhos legitimados por personagens directamente ligados ao mundo
musical argentino: músicos, académicos e construtores de instrumentos,
numa arrebatadora harmonia que mais parece um casal a dançar o tango. Já
foi apresentado na Praia e vai ser projectado em São Vicente.
“Tango Negro” foi esta terça-feira à noite exibido na
Livraria Pedro Cardoso, Fazenda, Praia, numa sala bem composta onde os
olhos mantiveram-se fixos na tela a desfrutar os depoimentos e da
autêntica aula da cultura negra argentina. Um filme de 93 minutos,
lançado em 2013 e que levou 10 anos a ser concretizado. Ganhou, com a
participação do conhecido pianista Juan Carlos Caceres que canta, toca e
conta a história do tango, uma dinâmica que tornou a coisa numa
autêntica aula desta música "caliente". Vai até às raízes
afro-argentinas e traz à tona uma interessante história contada na
primeira pessoa por um variado leque de personagens directamente
envolvidas no tango argentino. Conta a história do tango e mostra a sua
evolução alicerçada na negação/desconhecimento das suas bases negras sem
esquecer os outros importantes "inputs" levados pelos migrantes
europeus, principalmente italianos e espanhóis.
Não obstante ser ainda um filme "novo" (2013), este
trabalho já foi premiado e tem percorrido vários países: Levou o Prémio
do Festival Internacional de Cinema de Luanda em 2013; maior filme
documentário do festival de Montreal, Canadá. Foi ainda eleito pelos
jornalistas africanos a trabalhar na Europa, como o melhor filme
africano de 2013 e ganhou aquele que é, até agora, o mais importante
para o realizador: “Resistência, Liberdade e Herança” da UNESCO,
inserido no programa da rota dos escravos. "É maravilhoso ver o meu
filme reconhecido e premiado pelos experts da UNESCO", disse
visivelmente satisfeito Dom Pedro, à saída da exibição do filme,
precedida por uma tertúlia.
Com este trabalho, Dom Pedro quis, como tem vindo a
fazer no seu vasto leque de filmes, realçar o “orgulho negro”. “É
necessário que façamos um trabalho de correcção para sermos capazes de
contar a nossa história nós próprios e trazer ao de cima as verdades”.
Este é o caminho que Dom Pedro quer continuar a percorrer, papel que
realça necessitar de mais apologistas africanos “para que tudo o que é o
bom africano seja mostrado com orgulho”. Para este realizador angolano,
que já vive há mais de 40 anos em França, é necessário que se reconheça
a importância da imagem para a educação de um continente em que a
iliteracia é ainda elevada.
Tango Negro chega a Cabo Verde no âmbito da comemoração
do 20º aniversário do projecto "A Rota dos Escravos: Lições do Passado,
Valores para o Futuro" da UNESCO que tem como objectivo fazer falar o
silêncio à volta da maior vergonha da humanidade: A escravatura.
Depois da Cidade da Praia, está a ser exibido em São
Vicente, ontem no Centro Cultural do Mindelo e hoje, 06, será a vez da
Uni-Mindelo às 19 horas. Vale a pena ir assistir a esta aula de tango.
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