sábado, 2 de janeiro de 2016

Campanha #sentinapele - debate o racismo


https://br.noticias.yahoo.com/todas-as-pessoas-negras-pr%C3%B3ximas-a-mim-tinham-115552966.html

Todas as pessoas negras próximas a mim tinham histórias pesadas de racismo para contar, diz criador do  #sentinapele

2 de janeiro de 2016

Em 2015 o carioca Ernesto Xavier e amigos criaram a campanha #sentinapele nas redes socais. A ideia é estimular as pessoas a relatarem casos sofridos de racismo (veja aqui ). “Falar é uma forma de lidar melhor com o problema”, diz ele nesta entrevista ao blog. Para quem acha que não existe racismo no Brasil, Ernesto avisa: existe, e muito, e está na hora de reconhecê-lo para acabar com isso. Como escrevi bastante sobre preconceito racial brasileiro ao longo do ano, volto ao tema nesta virada de 2016. Acompanhe.
Rogério – Oi Ernesto, por favor me fale um pouco de você! Sua idade, profissão, o que faz da vida, onde mora…
Ernesto – Sou carioca, moro perto da praia e por incrível que pareça pouco coloco o pé na areia…Sou jornalista e ator profissional, tenho 31 anos. Minha grande paixão é escrever. Gosto de ficar imaginando histórias, analisando o ser humano, criando diálogos.
Rogério – O que te levou a criar, junto com um grupo de amigos, a campanha #sentinapele?
Ernesto – Tudo surgiu a partir da percepção de que todas as pessoas negras próximas a mim tinham alguma história pesada sobre racismo para contar. Na verdade, muitas histórias. Então vi que isso não poderia ficar escondido, que mais pessoas deveriam saber disso e poderiam tomar coragem para relatarem suas experiências também. Acredito na teoria de que falar liberta. A partir do momento em que expomos o que está guardado, passamos a lidar melhor com aquilo.
Rogério – Muita gente acha que no Brasil não existe racismo. É por isso que campanhas contra o racismo são necessárias?
Ernesto – São extremamente necessárias. Só pode falar de verdade quem já passou. Existem dois perfis nítidos que negam o racismo. Aquele que nunca passará por isso e geralmente é quem age de forma racista. E o do negro que, por ter sofrido muito com o racismo e seu discurso, acaba negando o fato, pensando que assim não sofrerá mais.
Rogério – O #sentinapele, como o próprio nome sugere, incentiva pessoas a relatarem situações de preconceito que sofreram. Por que relatar isto é importante?
Ernesto – Falar é uma forma de lidar melhor com o problema. Quando dividimos algo tão íntimo, passamos a ter a possibilidade do apoio do outro. Aquele sentimento passa a não ser apenas nosso e vira coletivo. Percebemos que mais gente passou por algo parecido. Assim vemos como outras pessoas superaram, como reagiram, de que forma lidam, etc. Toda experiência racista nos marca profundamente. É algo que nunca esquecemos. Cada vez que falamos do assunto, é como reviver um pouco o momento. Por isso é tão difícil falar pela primeira vez. Depois percebemos que ao falar, nos sentimos bem. Enfrentar o racismo faz parte da nossa formação como seres humanos.
Rogério – Ao colocar a cara no ‘face’ e nas redes sociais para falar de racismo você não teme ficar estigmatizado?
Ernesto – Pode ser que aconteça. Existem dois lados: quem vai me olhar torto e quem pode achar algo de útil naquilo que falo. Prefiro pensar que muita gente muda para melhor e de alguma forma ajudei. Acabo recebendo mais do que ofereço. O retorno vale mais a pena.
Rogério – Talvez devido ao anonimato, as pessoas nas redes sociais tendem a ser muito agressivas. Você e o pessoal da campanha sofreram com isso, ou a rede de apoio é maior?
Ernesto – A rede de apoio é bem maior. Eu já li muitas mensagens ofensivas direcionadas a mim. Aprendi a lidar com isso. Faço questão de denunciar quem excede os limites. Algumas pessoas são apenas ignorantes e sigo acreditando no poder de transformação das pessoas. Já consegui ajudar algumas pessoas a mudar de ideia sobre o racismo. Às vezes é apenas falta de informação. Porém, contra os racistas de plantão eu não tenho a menor pena. Que se resolvam com a justiça. Existem mecanismos para identificar esses “anônimos”.

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