26/04/12, 18:04
STF: cotas raciais são aprovadas por 10 X 0
Supremo julga ação do DEM que questiona sistema de cota racial da UnB. Seis ministros votaram pela constitucionalidade das cotas raciais; faltam 3.
Por unanimidade,
o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou nesta quinta-feira (26) as
universidades públicas brasileiras a adotar políticas de reserva de
vagas para garantir o acesso de negros ao ensino superior. O tribunal
decidiu que as políticas de cotas raciais em instituições de ensino
superior estão de acordo com a Constituição e são necessárias para
corrigir o histórico de discriminação racial no Brasil.
Em
dois dias de julgamento, o tribunal discutiu a validade da política de
cotas raciais adotada pela Universidade de Brasília (UnB), em 2004, que
reserva por dez anos 20% das vagas do vestibular exclusivamente para
negros e um número anual de vagas para índios independentemente de
vestibular. O DEM, autor da ação contra as cotas raciais, acusou o
sistema adotado pela instituição de ensino, no qual uma banca analisa se
o candidato é ou não negro, de criar uma espécie de “tribunal racial”.
Atualizada às 18h
Com
o voto do ministro Gilmar Mendes, a maioria do plenário do Supremo
Tribunal Federal (STF) se manifestou a favor da política de cotas
raciais na Universidade de Brasília. Caso esse entendimento seja mantido
- os ministros ainda podem mudar o voto até o fim do julgamento -, o
Supremo vai validar o sistema de reserva de vagas em instituições de
ensino superior para negros e indígenas.
Dos dez ministros que analisam o tema, sete
votaram a favor da legalidade das cotas raciais. O relator Ricardo
Lewandowski foi acompanhado pelos ministros Luiz Fux, Rosa Weber, Cármen
Lúcia, Joaquim Barbosa e Cezar Peluso. Aindão vão votar Gilmar Mendes,
Celso de Mello, Marco Aurélio e o presidente da corte, Ayres Britto.
Dias Toffoli não participa do julgamento porque elaborou parecer a favor
das cotas quando era advogado-geral da União.
De
acordo com dados da Advocacia-Geral da União (AGU), 13 universidades
brasileiras possuem políticas de cotas raciais e outras 20 combinam o
critério de raça com a questão social para fazer a seleção dos
candidatos. A decisão do STF não proíbe outras ações em relação a cotas
para ingresso no ensino superior, porque as universidades têm autonomia
para definir suas políticas.
O julgamento foi
iniciado nesta quarta-feira (25) com as manifestações dos advogados das
partes e de representantes de entidades interessadas no assunto. No
início da noite a sessão foi interrompida e retomada nesta quarta. Estão
na pauta outras duas ações que abordam cotas raciais combinadas com o
critério de o estudante vir de escola pública.
A
maioria dos ministros da Corte acompanhou o voto do relator da ação,
ministro Ricardo Lewandowski, pela validade dos sistemas de reserva de
vagas com base em critérios de raça.
Para o
relator, a política de cotas da UnB "não se mostra desproporcional ou
irrazoável e é compatível com a Constituição". Ele afirmou que o sistema
utilizado, que têm período de vigência de 10 anos, pode ser usado como
"modelo" para outras universidades.
O modelo
que o Supremo tenta estabelecer, se o meu voto for prevalente, é esse
modelo de que não é uma benesse que se concede de forma permanente, mas
apenas uma ação estatal que visa superar alguma desigualdade histórica
enquanto ela perdurar", destacou o relator após o julgamento.
Nesta
quinta, o julgamento recomeçou com o voto do ministro Luiz Fux, que a
Constituição contempla a imposição do critério de raça para admissão em
universidade pública. Para ele, o país precisa fazer mais do que vedar a
discriminação, implementando políticas que levem à integração social
dos negros.
“A construção de uma sociedade
justa e solidária impõe a toda coletividade a reparação de danos
pretéritos perpetrados por nossos antepassados adimplindo obrigações
jurídicas”, disse Fux.
O voto do ministro foi
interrompido por um manifestante indígena da etnia guarani que precisou
ser expulso do plenário pelos seguranças do STF. O índio Araju Sepeti
queria que os indígenas fossem citados pelo ministro Fux em seu voto. A
política de cotas da UnB, que é tema do julgamento, inclui a reserva de
20 vagas anuais a indígenas, que não precisam fazer o vestibular
tradicional.
Foto: Andre Dusek/Agência Estado
“Vocês violam os direitos de todos e não
respeitam a Constituição. O Brasil é composto de três raças: raça
indígena, raça branca e raça negra", disse Sepeti ao ser contido por
seguranças do Supremo que o levaram para fora das grades que separam a
sede do tribunal da Praça dos Três Poderes, em Brasília.
Único ministro negro do STF
Joaquim
Barbosa, único ministro negro do STF, acompanhou o voto do relator e
ressaltou a importância das ações afirmativas para viabilizar “harmonia e
paz social”. Ele citou exemplo dos Estados Unidos que se tornaram “o
país líder do mundo livre”, após derrubar a política de segregação
racial.
“Ações afirmativas se definem como
políticas publicas voltadas a concretização do princípios constitucional
da igualdade material a neutralização dos efeitos perversos da
discriminação racial, de gênero, de idade, de origem”, disse Barbosa.
Também acompanharam o voto do relator os ministros Cezar Peluso, Cármen Lúcia e Rosa Weber.
Contra e a favor das cotas
No
primeiro dia do julgamento, a advogada do DEM, Roberta Kauffman,
apresentou argumentos contra o sistema de cotas da UnB. Para ela, a
seleção de quem teria direito às cotas na UnB é feitas com base em
“critérios mágicos e místicos” e lembrou o caso dos irmãos gêmeos
univitelinos, Alex e Alan Teixeira da Cunha. Eles se inscreveram no
vestibular, em 2007, e, depois de analisadas fotos dos dois, Alan foi
aceito na seleção das cotas e Alex não. Depois, a UnB voltou atrás.
“A
imposição de um modelo de estado racializado, por óbvio, traz
consequências perversas para formação da identidade de uma nação. [...]
Não existe racismo bom. Não existe racismo politicamente correto. Todo o
racismo é perverso e precisa ser evitado”, disse a advogada.
A
defesa da UnB argumentou que o sistema de cotas raciais busca corrigir a
falta de acesso dos negros à universidade. Segundo a advogada Indira
Quaresma, que representou a instituição, os negros foram “alijados” de
riquezas econômicas e intelectuais ao longo da história. Para ela, a
ausência de negros nas universidade reforça a segregação racial.
“A
UnB tira-nos, nós negros, dos campos de concentração da exclusão e
coloca-nos nas universidades. [...] Sistema de cotas é belo, necessário,
distributivo, pois objetiva repartir no presente a possibilidade de um
futuro melhor”, afirmou a advogada da UnB.
A
validade das cotas raciais como política afirmativa de inclusão dos
negros foi defendida também pelo advogado-geral da União, Luís Inácio de
Lucena Adams e pela vice-procuradora-geral, Deborah Duprat. Para eles, o
racismo é um traço presente na cultura brasileira e que precisa ser
enfrentado.
Além dos representantes da UnB, do
DEM e da União, outros 10 advogados ocuparam a tribuna do STF para
defender suas posições contra ou a favor das políticas de reserva de
vagas em universidades tendo a raça como critério.
A
maioria das entidades participou de audiência pública realizadas pelo
Supremo, em março de 2010, para discutir o tema. As opiniões se dividem
entre os que defendem e criticam a adoção da questão racial como
critério em detrimento de outros fatores, como a renda do candidato.
Fonte: G1
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