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26/03/2014 - 13:00
Pesquisa da UFSCar aponta desigualdade racial na ação da Polícia Militar em São Paulo
Pesquisadores
da UFSCar realizaram um levantamento inédito sobre o racismo na ação da
Polícia Militar paulista. A pesquisa “Desigualdade racial e segurança
pública” descobriu que em São Paulo, nos anos de 2010 e 2011, entre as
vítimas de mortes cometidas por policiais, 58% são negras, ao passo que
na população residente do estado o percentual de negros é de 34%. Para
cada grupo de 100 mil habitantes negros, foi morto 1,4, ao passo que,
para cada grupo de 100 mil habitantes brancos, foi morto 0,5. Ou seja, a
proporção de negros entre mortos por ação policial é três vezes maior
do que a de brancos.
Os dados, que mostram que os policiais
matam e prendem mais pessoas negras do que brancas, foram obtidos em
entrevistas com policiais, observação de abordagens e análise de dados
estatísticos retirados de Inquéritos Policiais, que são acompanhados
pela Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo, e ainda em dados
obtidos junto à Secretaria de Segurança Pública.
A pesquisa, a
primeira realizada no programa “Segurança Pública e Relações Raciais”,
que envolve integrantes do Grupo de Estudos sobre Violência e
Administração de Conflitos (GEVAC) e do Núcleo de Estudos
Afrobrasileiros (Neab), ambos ligados ao Programa de Pós-Graduação em
Sociologia (PPGS) da UFSCar, foi coordenada pela professora Jacqueline
Sinhoretto, docente do Departamento de Sociologia (DS) da Universidade.
Segundo Jacqueline, os números deixam evidente a ausência de políticas
de segurança pública para a população negra, que culmina nas altas taxas
de mortalidade por homicídio neste grupo.
Foi constatado ainda
que a vigilância policial é operada de modo racializado. Em São Paulo, a
taxa de flagrantes de negros é mais que o dobro da verificada para
brancos. “Estes dados expressam que a vigilância policial privilegia as
pessoas negras e as reconhece como suspeitos criminais, flagrando em
maior intensidade as suas condutas ilegais, ao passo que os brancos
gozam de menor vigilância da polícia sobre suas atividades criminais”,
relata Jacqueline.
Além de analisar casos de discriminação
racial na atuação policial, foram observadas as estratégias dos
movimentos sociais para levar adiante as denúncias de racismo
institucional no campo da segurança pública. Mas, segundo Jacqueline, as
instituições policiais militares são pouco permeáveis às críticas e
propostas dos ativistas. “As respostas das instituições policiais à
desigualdade racial no direito à segurança ainda são muito tímidas. A
pesquisa classificou os tipos de respostas possíveis e constatou que a
preocupação com o tema está presente apenas em iniciativas das escolas
de formação. O modelo de policiamento predominante opera ainda uma das
faces da racialização das relações sociais no Brasil”, lamenta a
professora.
O levantamento foi financiado pelo Ministério da
Justiça – Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) e pelo
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), pelo edital
Pensando a Segurança Pública – 2ª edição. A UFSCar liderou uma rede de
pesquisa que envolveu o Núcleo Fluminense de Estudos e Pesquisas da
Universidade Federal Fluminense, o Núcleo de Estudos sobre Violência e
Segurança da Universidade de Brasília e o Núcleo de Estudos em Segurança
Pública (NESP) da Fundação João Pinheiro, agregando 34 pesquisadores.
A
pesquisa será apresentada na íntegra no dia 1º de abril no Campus São
Carlos da UFSCar, pela professora Jacqueline Sinhoretto, com a
participação de Valter Silverio, também professor do DS, e dos
pós-graduandos Danilo Morais, Giane Silvestre, Maria Carolina Schlittler
e Paulo César Ramos. A apresentação acontece às 10 horas, no auditório
do Centro de Educação e Ciências Humanas (CECH), localizado no edifício
de aulas teóricas AT2, área Sul do Campus São Carlos da UFSCar. No dia 2
de abril, a pesquisa também será apresentada na Escola da Defensoria
Pública do Estado de São Paulo, às 9h30, no Auditório da Rua Boa Vista,
200, na região central da capital. Ambos os eventos são abertos ao
público.
O mesmo levantamento foi realizado sobre as polícias
de outros três estados – Rio de Janeiro, Distrito Federal e Minas
Gerais. Os dados referentes a essas localidades serão apresentados no
mês de maio pelo Ministério da Justiça. Mais informações pelo email segurancaerelacoesraciais@gmail.com.
Legenda: A coordenadora da pesquisa, professora Jacqueline Sinhoretto,
com os pós-graduandos Danilo Morais e Maria Carolina Schlittler. Foto:
Enzo Kuratomi / CCS-UFSCar.
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