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domingo, 28 de setembro de 2014
MODA - Fashion
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quinta-feira, 25 de setembro de 2014
Maranhão: quilombolas ocupam estrada de ferro em greve de fome
http://noticias.terra.com.br/brasil/ma-quilombolas-ocupam-estrada-de-ferro-em-greve-de-fome,c95e11b5efea8410VgnCLD200000b1bf46d0RCRD.html
25 de setembro de 2014 • 21h31
MA: quilombolas ocupam estrada de ferro em greve de fome
Desde a última terça-feira, cerca de 500 quilombolas, representantes de 35 comunidades, ocupam a Estrada de Ferro Carajás (EFC), operada pela Vale, nas proximidades do quilômetro 81, no Maranhão, para reivindicar a demarcação de territórios, segundo nota divulgada pelos manifestantes. Nesta quinta-feira, nove deles se amarraram aos trilhos e iniciaram greve de fome.
Eles querem a "assinatura de decretos que permitam desapropriações, para fins de interesse social, de imóveis rurais abrangidos pelos territórios de Charco e Santa Rosa dos Pretos, além da conclusão dos relatórios técnicos de Identidade e Delimitação referentes a 37 comunidades", conforme a nota, que também cobra portaria de reconhecimento dos quilombos Monge Belo e Alcântara, nos municípios de Itapecuru e Alcântara, respectivamente.
Além das demarcações, eles pedem atuação mais ágil, por parte dos órgãos competentes, no sentido de defender as comunidades de quilombos em conflito, a realização de concurso público para atender à política de regularização fundiária de quilombo e a defesa judicial nas ações que envolvam as respectivas comunidades.
Em nota, a Vale confirmou que as operações do trem de carga e passageiros da EFC estão paralisadas, e disse que “o protesto não é direcionado à Vale”. A empresa destaca a “intenção de manter o canal de comunicação aberto com as comunidades”. Na última quarta-feira, a Vale ajuizou ação de reintegração de posse da área, pedido que foi deferido hoje pela juíza Edeuly Maia Silva, da Comarca de Itapecuru-Mirim.
Segundo o advogado da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Diogo Cardeal, os quilombolas acionaram a Justiça contra a decisão, pois entendem que o assunto deve ser definido pela Justiça Federal, já que a situação envolve comunidades quilombolas e uma estrada concedida pela União.
Cardeal informou que os quilombolas aguardam a demarcação das áreas há anos. Ele lembrou que em 2011, após ocupação do prédio do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), “vários procedimentos foram adotados no sentido de garantir a titulação das terras quilombolas, mas, passados três anos, nenhuma comunidade foi titulada”.
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De acordo com o advogado, a situação na região é “gravíssima”, pois parte das comunidades está em áreas ocupadas por empresas mineradoras e do setor de agronegócios. “Elas (comunidades) ficam à mercê de decisões judiciais e administrativas que podem expulsá-las ou optar por diminuir o seu território”, afirma Cardeal.
O Incra manifestou, em nota, que “o processo de regularização do território quilombola Monge Belo, em Itapecuru, segue o devido curso processual, e o respectivo Relatório Técnico de Identificação e Delimitação está publicado desde 2010”. Informa ainda que o processo de demarcação está dentro do prazo legal, e reforça que o governo federal segue em negociação com os ocupantes, reiterando a necessidade de liberação da via férrea para dar sequência à negociação da pauta apresentada.
Agência Brasil
quarta-feira, 24 de setembro de 2014
O papel da mídia na difusão do racismo e o silêncio acadêmico
http://camanducaiahistory.blogspot.com.br/2014/09/o-papel-da-midia-na-difusao-do-racismo.html
quarta-feira, 24 de setembro de 2014
O PAPEL DA MÍDIA NA DIFUSÃO DO RACISMO E O SILÊNCIO ACADÊMICO
Por: Danilo Santos
Discutir o racismo no Brasil é muito complicado. Complicado porque falta muita seriedade no debate entre o público leigo, público tanto passivo quanto ativo às práticas discursivas do racismo. No meio acadêmico a discussão é riquíssima no sentido de trazer à tona novas abordagens e reinterpretações sobre o nosso passado colonial escravocrata. Mas o debate perde em qualidade quando o tema “racismo” se fecha, se isola nas comunidades acadêmicas. Quando isso acontece, o alcance dos discursos racistas por parte das camadas conservadoras é muito maior sobre a sociedade. Há necessidade dos pesquisadores acadêmicos democratizarem os frutos das suas pesquisas nas mídias mais acessíveis e em linguagens acessíveis aos leigos. Se isso não acontecer, discursos preconceituosos dos Danilos Gentilis serão mais receptivos, alimentando as práticas racistas que vemos na atualidade.
Discutir o racismo no Brasil é muito complicado. Complicado porque falta muita seriedade no debate entre o público leigo, público tanto passivo quanto ativo às práticas discursivas do racismo. No meio acadêmico a discussão é riquíssima no sentido de trazer à tona novas abordagens e reinterpretações sobre o nosso passado colonial escravocrata. Mas o debate perde em qualidade quando o tema “racismo” se fecha, se isola nas comunidades acadêmicas. Quando isso acontece, o alcance dos discursos racistas por parte das camadas conservadoras é muito maior sobre a sociedade. Há necessidade dos pesquisadores acadêmicos democratizarem os frutos das suas pesquisas nas mídias mais acessíveis e em linguagens acessíveis aos leigos. Se isso não acontecer, discursos preconceituosos dos Danilos Gentilis serão mais receptivos, alimentando as práticas racistas que vemos na atualidade.
Um dos principais argumentos dos racistas, é o de que no
Brasil não existe racismo. Para eles, o que existe é um “coitadismo exacerbado”
que vê racismo em tudo. Para construírem tal argumento, utilizam o famoso
bordão: “Mas que mal há em chamá-lo de macaco? Me chamam de palmito e eu nem
ligo.” É o que dizem os Gentilis. O que eles ignoram é o fato de que a
ideologia inerente à animalização do negro, foi um fator determinante para
legitimar a escravidão dos negros africanos desde os tempos em que aquele continente
se viu sob o jugo do império islâmico. Até nos escritos gregos da Antiguidade,
principalmente nos escritos de Hipócrates e Galeno, ambos, médicos, o negro
africano é representado analogicamente à condição animal. Mas vou simplificar e
falar mais da construção da identidade nacional na perspectiva oficial para mostrar
o quanto é equivocado o argumento de que não há mal algum em denominar um negro
de “macaco” e o que isso implica na prática.
Quando se deu a Abolição, em 13 de maio de 1888, Joaquim
Nabuco disse que as conseqüências de mais de 300 anos de cativeiro perdurariam
por 100 anos. Passaram-se os 100 anos e as conseqüências ainda perduram. Nabuco
errou no cálculo, infelizmente. Mas o que Nabuco realmente quis dizer? A quais conseqüências
ele se refere? Acredito que o maior visionário e que respondeu a essa pergunta,
foi Machado de Assis. Machado de Assis dizia que o negro, após a Abolição, não
conquistaria plena liberdade porque continuaria excluído do projeto de
construção da identidade nacional. Dizia que as estruturas opressivas aos
escravos se (res)significariam na opressão e exclusão dos “cidadãos negros”. A
República prometia em seu discurso a elevação de todos os homens à categoria de
“cidadão”. Isso no discurso. Na prática os negros continuaram relegados à
condição de sub-humanos. Se antes havia a figura do capitão do mato, na
República teríamos a figura do agente policial à caça de “vagabundos”.
Sem direito à terra e expulsos das grandes fazendas, a massa
de ex-escravos ocupariam os centros urbanos. Sem emprego, exerceriam o trabalho
informal, à mercê da repressão policial. Nas antigas fazendas, no lugar do
negro vieram os europeus brancos. Enquanto vinham europeus, a entrada de
africanos no país passou a ser proibida. A estratégia oficial era o
branqueamento do país. O governo brasileiro até bancava a viagem de negros que
quisessem voltar à África. A Educação Eugênica vigorava nos currículos
escolares, ensinando aos cidadãos brancos a superioridade da “raça”. Os
escritores que tentavam dar uma identidade nacional ao Brasil, bebiam na fonte
de escritores europeus que difundiam uma concepção determinista evolucionista das
raças. Neste sentido, para Karl Von Martius e Varnhagen, historiadores do
Império, o entrave para o desenvolvimento do Brasil era a raça negra.
Para se ter uma idéia da força dessa ideologia,
empresto a análise feita pelo professor Eduardo França Paiva sobre a pintura
abaixo.
O nome da pintura já nos diz muita coisa. Portanto,
iniciaremos pela análise do mesmo. Cã foi o filho de Noé que foi repreendido
pelo pai por ter visto o patriarca nu. Na tradição lendária judaica, por essa
falta cometida, os descendentes de Cã foram amaldiçoados à escravidão, os Canaanitas.
Mas na Bíblia não diz nada sobre a cor da pele desses descendentes, e mais, os
Canaanitas não eram do continente africano, mas sim vizinhos dos Hebreus no
Oriente Médio. Mas de onde Marco Feliciano tirou a idéia de que eram os negros
africanos os amaldiçoados? Aí que entra outro personagem na História: o Islã.
Na versão lendária do Islã, os africanos seriam os descendentes amaldiçoados de
Ham, outro filho de Noé. Foram os muçulmanos que deram essa versão para
legitimar a escravidão na África já no califado Abássida. Como o Islã dominou a
Península Ibérica, da qual faz parte Portugal, os portugueses se apropriaram
dessa versão muçulmana para legitimar a escravidão africana nas suas colônias.
Analisando agora a pintura em si, a mulher mais negra é a
alegoria dos descendentes de Cã e do passado colonial. Não esqueçamos que a
pintura é de 1895, já na República. Portanto, ela nos diz muito sobre o ideal
de nação da oficialidade do poder. No centro, há a moça mulata, filha da velha
negra. A mulata já sofreu o processo de mestiçagem. O homem, mais branco, é a
analogia do típico italiano camponês. A criança, já de pele totalmente branca,
é a analogia do futuro. Um futuro em que não haveria mais negros por conta do
processo de mestiçagem. O futuro da República e do desenvolvimento. A velha
negra levanta as mãos aos céus se redimindo, agradecendo aos céus por não legar
um futuro negro à nação. A criança faz um sinal de “Abenção”, que remete ao
Cristianismo primitivo, como se quisesse dizer “Amém”.
Como podemos ver, numa só pintura analisada, podemos
sintetizar vários discursos dos intérpretes não só do Império, como também dos
posteriores à Abolição. De fato, essa ideologia de exclusão do negro na
formação da nação por meio da mestiçagem, já que acreditavam que quanto mais
mestiçagem mais branca seria a Pátria, refletiu na exclusão do negro na
conquista pela cidadania.
Só para citarmos como exemplo como se deu essa exclusão,
basta uma simples abordagem sobre a Revolta da Vacina, ocorrida na cidade do Rio
de Janeiro em 1904. A República vinha com a promessa de modernizar e isso
implicaria reformas urbanas. É quando o pais quer se mostrar desenvolvido aos
olhos do mundo. Como vimos que desenvolvimento era sinônimo de branqueamento,
tendo como espelho a Europa, especialmente a Paris da Bélle Epocque, não seria
bem quisto um Rio de Janeiro cujo centro urbano transbordava negros para todo
lado. Nos diários de viajantes da época há relatos de abominação à cidade por
conta da grande quantidade de negros.
Os negros eram descritos como “fezes sociais” nos relatórios
de polícia. Os responsáveis pelo atraso, pela desordem. Aí que a política
higienista de Oswaldo Cruz caiu como uma luva para expulsar os negros do centro
da cidade. Durante a matança de negros pela polícia, nos relatórios oficiais os
negros eram rebaixados às doenças contagiosas as quais a reforma higienista se
propunha a neutralizar. Os que conseguiram sobreviver, ocuparam os morros, que
hoje são as favelas. Outros foram colocados em porões de navios e asfixiados
com cal e mandados para trabalhos forçados na Amazônia. Muitos nem sobreviveram
à viagem.
Excluídos do projeto de nação, os negros não tiveram acesso a
direitos sociais básicos que lhes proporcionassem ascensão social. Não
conseguiam trabalhos formais, eram em sua maioria analfabetos e por serem
analfabetos, não tinham nem direito ao voto. Então, temos que vasculhar o
passado e ver quais as conseqüências desse passado no nosso presente. Ao negar
a humanidade de um ser Humano, chamando-o de macaco, estamos trazendo à tona um
discurso utilizado por centenas de anos para legitimar a segregação e a
exclusão. Esse discurso preconceituoso reflete nos dados estatísticos sobre
repressão policial, defasagem educacional, desigualdade social. Reflete na
dificuldade de lutar pelos direitos políticos e sociais. Não adianta dizermos
que não há racismo quando no Brasil a pobreza, o analfabetismo e os cemitérios
têm como cor dominante a cor negra.
Está mais do que na hora dos acadêmicos e
pesquisadores envolvidos com os temas relacionados ao racismo tomarem os
espaços dos propagadores conservadores. É inadmissível que sujeitos como Danilo
Gentili permaneçam à vontade para difundir o racismo sem respostas à altura da
sua audiência. Ao acadêmicos, peço que deixem essa redoma universitária de
congressos e seminários, e venham para a rua. Ocupem os jornais mais populares,
as rádios, os canais de TV. Fiquem cara-a-cara com a sociedade e dialoguem numa
linguagem acessível. De nada adianta escrevermos somente para revistas
científicas se tais mídias não chegam às mãos daquele aluno de Ensino Médio que
assiste pela TV a difusão do racismo velado e hipócrita. Se tal iniciativa não
partir daqui de baixo, não vai partir nem de Globo, nem de SBT e nem de nenhuma
mídia de grande audiência, uma vez que tal iniciativa afeta diretamente os
interesses dos que se mantém no privilégio rebaixando os demais pela cor da
pele.
Genocídio na Namíbia -
Mais um holocausto africano!
http://g1.globo.com/globo-news/noticia/2014/08/primeiro-genocidio-do-seculo-xx-ocorreu-na-regiao-da-namibia-pela-alemanha.html
Edição do dia 24/08/2014
24/08/2014 12h38
- Atualizado em
26/08/2014 14h28
Primeiro genocídio do século XX ocorreu na região da Namíbia
Elementos usados no genocídio pela Alemanha foram empregados décadas depois pelo regime nazista. E todo esse drama está vivo; entenda.
O primeiro genocídio do século XX foi esquecido. Cometido entre 1904 e 1908 na atual Namíbia, à época colônia alemã, acabou se tornando uma verdade inconveniente demais no período em que a região foi dominada pela África do Sul, depois da Primeira Guerra Mundial. A Namíbia ficou independente apenas em 1990 e hoje, 110 anos depois do início da tentativa de extermínio dos Herero e dos Nama, tenta ir adiante e se tornar uma democracia em todos os sentidos – inclusive racial.
saiba mais
Para os historiadores, diversos elementos usados pela Alemanha
na “guerra” colonial foram empregados décadas depois pelo regime
nazista. Eles consideram a Namíbia um caso ímpar entre as chamadas
“colônias de povoamento”: em várias partes do mundo, houve populações
dizimadas, mas na Namíbia as mortes não foram mero resultado de embates
com colonos ou epidemias. Lá, o extermínio foi oficial, com a chancela
do poder imperial.Apesar do tempo transcorrido, todo esse drama está vivo: na Alemanha, deputados do Bundestag querem que o governo reconheça oficialmente que cometeu um genocídio e faça as compensações devidas; na Namíbia, os descendentes de sobreviventes têm que decidir, por exemplo, o que fazer com crânios de Herero e Nama que haviam sido enviados a Berlim para experiências pseudocientíficas e agora retornam ao país, mais de um século depois.
Confira a íntegra do GloboNews Documento – Expedição Namíbia, sobre o primeiro genocídio do século XX.
segunda-feira, 22 de setembro de 2014
Futebolistas negros: de bons escravos a maus cidadãos.
http://revistaforum.com.br/digital/144/futebolistas-negros-de-bons-escravos-maus-cidadaos/
Futebolistas negros: de bons escravos a maus cidadãos
O fato de haver uma tolerância à presença
negra no futebol não significa a inexistência do racismo. Os jogadores
podem ser reconhecidos e valorizados por sua qualidade técnica, mas
ainda estão submetidos a uma estrutura organizativa hegemonizada por
brancos
Por Dennis de Oliveira*
Os casos recentes de racismo no futebol ganharam visibilidade, a ponto de autoridades se mobilizarem, assim como lideranças do movimento negro, para combater tal prática. A preocupação é com a realização da Copa do Mundo no Brasil, país com a maior população negra fora da África.
Chama a atenção o fato de o racismo ser praticado em um ambiente em que há grande presença de jogadores negros. Mais: que o futebol profissional aparece como uma das pouquíssimas oportunidades em que jovens negros podem ascender socialmente. Parece, então, algo contraditório, o racismo ser praticado em um lugar onde haveria uma “tolerância” com a celebridade negra. Mas a coisa não é bem assim.
Esta ascensão ao posto de celebridade tem preços a pagar. O primeiro preço é assumir o papel de objeto de consumo da indústria do entretenimento e da mídia. Os jogadores celebridades não são sujeitos, não são pessoas. São objetos de luxo, são peças. Tempos atrás, a lei do passe os escravizava aos clubes. Com o fim da lei do passe, os jogadores são escravizados por uma estrutura empresarial, que negocia os seus contratos, decide que clube vai defender e até o que falar em público. Não é apenas a sua carreira como futebolista, mas como astro, o que implica incorporar uma imagem construída por outros.
Colabore com a mídia independente e tenha acesso liberado ao conteúdo da Fórum Semanal, que vai ao ar toda sexta-feira. Assine aqui
O segundo preço é, dentro de campo, submeter-se à lógica do futebol empresariado por uma verdadeira indústria mafiosa, em que pessoas de moral duvidosa comandam toda a estrutura, definem os calendários de jogos, os formatos de campeonatos etc.
E o terceiro preço a pagar é ser sempre uma pessoa subserviente a toda esta estrutura e, dentro de campo, ao técnico de futebol que se apresenta como o “pai” legitimado pelo “saber técnico” que “civiliza” o “talento” eivado de uma imagem de inocência, infantilidade. Os jogadores “desobedientes” são infantilizados como meninos travessos, moleques ou irresponsáveis, de acordo com a gradação definida pela indústria midiática e do entretenimento.
Detalhe: toda esta estrutura – empresarial, dirigente e técnica – é hegemonizada por brancos. O que significa que jovens negros podem ser bons jogadores de futebol como “bons escravos”, porque são considerados “maus cidadãos” (parafraseando o grande Clóvis Moura, que escreveu tempos atrás o livro O negro – de bom escravo a mau cidadão).
É por isso que o tratamento dado aos casos de racismo por parte da grande mídia é o de que se tratam de comportamentos episódicos, pontuais, de algumas pessoas. Porém, é importante que o movimento negro aproveite o gancho para discutir o racismo estrutural no futebol, que encontra guarida na estrutura organizativa do esporte, para desmontar a ideia de que o fato de haver uma tolerância à presença negra neste campo demonstra a inexistência do racismo. Até porque a luta contra o racismo não é apenas para se conquistar visibilidade como celebridade de alguns, mas a cidadania plena para todos.
*Professor da Universidade de São Paulo no curso de Jornalismo (graduação), Direitos Humanos (pós-graduação) e Mudança Social e Participação Política (pós-graduação). Membro do NEINB (Núcleo de Apoio à Pesquisa e Estudos Interdisciplinares sobre o Negro Brasileiro). E-mail: dennisol@usp.br
(Foto de capa: O volante Tinga, do Cruzeiro, foi vítima de racismo em fevereiro, durante uma partida contra o Real Garcilaso (Peru), válida pela Copa Libertadores da América. Todas as vezes em que ele tocava na bola, os torcedores do clube peruano faziam sons imitando macacos. Crédito: Washington Alves/Light Press)
Por Dennis de Oliveira*
Os casos recentes de racismo no futebol ganharam visibilidade, a ponto de autoridades se mobilizarem, assim como lideranças do movimento negro, para combater tal prática. A preocupação é com a realização da Copa do Mundo no Brasil, país com a maior população negra fora da África.
Chama a atenção o fato de o racismo ser praticado em um ambiente em que há grande presença de jogadores negros. Mais: que o futebol profissional aparece como uma das pouquíssimas oportunidades em que jovens negros podem ascender socialmente. Parece, então, algo contraditório, o racismo ser praticado em um lugar onde haveria uma “tolerância” com a celebridade negra. Mas a coisa não é bem assim.
Esta ascensão ao posto de celebridade tem preços a pagar. O primeiro preço é assumir o papel de objeto de consumo da indústria do entretenimento e da mídia. Os jogadores celebridades não são sujeitos, não são pessoas. São objetos de luxo, são peças. Tempos atrás, a lei do passe os escravizava aos clubes. Com o fim da lei do passe, os jogadores são escravizados por uma estrutura empresarial, que negocia os seus contratos, decide que clube vai defender e até o que falar em público. Não é apenas a sua carreira como futebolista, mas como astro, o que implica incorporar uma imagem construída por outros.
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O segundo preço é, dentro de campo, submeter-se à lógica do futebol empresariado por uma verdadeira indústria mafiosa, em que pessoas de moral duvidosa comandam toda a estrutura, definem os calendários de jogos, os formatos de campeonatos etc.
E o terceiro preço a pagar é ser sempre uma pessoa subserviente a toda esta estrutura e, dentro de campo, ao técnico de futebol que se apresenta como o “pai” legitimado pelo “saber técnico” que “civiliza” o “talento” eivado de uma imagem de inocência, infantilidade. Os jogadores “desobedientes” são infantilizados como meninos travessos, moleques ou irresponsáveis, de acordo com a gradação definida pela indústria midiática e do entretenimento.
Detalhe: toda esta estrutura – empresarial, dirigente e técnica – é hegemonizada por brancos. O que significa que jovens negros podem ser bons jogadores de futebol como “bons escravos”, porque são considerados “maus cidadãos” (parafraseando o grande Clóvis Moura, que escreveu tempos atrás o livro O negro – de bom escravo a mau cidadão).
É por isso que o tratamento dado aos casos de racismo por parte da grande mídia é o de que se tratam de comportamentos episódicos, pontuais, de algumas pessoas. Porém, é importante que o movimento negro aproveite o gancho para discutir o racismo estrutural no futebol, que encontra guarida na estrutura organizativa do esporte, para desmontar a ideia de que o fato de haver uma tolerância à presença negra neste campo demonstra a inexistência do racismo. Até porque a luta contra o racismo não é apenas para se conquistar visibilidade como celebridade de alguns, mas a cidadania plena para todos.
*Professor da Universidade de São Paulo no curso de Jornalismo (graduação), Direitos Humanos (pós-graduação) e Mudança Social e Participação Política (pós-graduação). Membro do NEINB (Núcleo de Apoio à Pesquisa e Estudos Interdisciplinares sobre o Negro Brasileiro). E-mail: dennisol@usp.br
(Foto de capa: O volante Tinga, do Cruzeiro, foi vítima de racismo em fevereiro, durante uma partida contra o Real Garcilaso (Peru), válida pela Copa Libertadores da América. Todas as vezes em que ele tocava na bola, os torcedores do clube peruano faziam sons imitando macacos. Crédito: Washington Alves/Light Press)
Comentário
Escravidão: chegou a hora da reparação!
http://revistaforum.com.br/digital/144/escravidao-chegou-hora-da-reparacao/
Escravidão: chegou a hora da reparação!
Como 15 pequenos países no Caribe irão
buscar uma prestação de contas de países europeus – que por séculos
enriqueceram e construíram suas sociedades através do tráfico e do
trabalho escravo
Por Vinicius Gomes
O célebre ativista negro norte-americano W.E.B. DuBois classificou a escravidão como “o mais grandioso drama dos últimos mil anos da História da humanidade: a transferência de 10 milhões de seres humanos da beleza negra de seu continente natal para o recém-descoberto Eldorado do Ocidente. Eles desceram ao inferno”. De fato, poucas coisas poderiam ser comparadas dantesco cenário de “inferno” do que o sequestro de milhões de pessoas para o trabalho forçado durante séculos nas plantações dos EUA, Caribe e Brasil.
E agora, 300 anos depois, os países que formam a Comunidade do Caribe (Caricom, sigla em inglês), 15 países no meio do caminho entre o norte e o sul da América, alguns que mal podem ser localizados no mapa, estão se preparando para entrar em uma “briga” – ao melhor estilo Davi e Golias – contra os países europeus que participaram e lucraram com a escravidão que se estendeu por três séculos e cujas cicatrizes perduram até os dias de hoje.
Com auxílio do escritório de advocacia Leigh Day & Co. – que no ano passado conseguiu que o Reino Unido pagasse uma indenização de 72 milhões de reais às vítimas e sobreviventes da guerrilha queniana Mau Mau, nos dias da Guerra Fria – e com a liderança de dois dos maiores nomes acadêmicos da região, sir Hilary Beckles, de Barbados, e Verene Shepherd, da Jamaica, foi criada a Comissão de Reparação da Caricom (CRC) e montado um projeto de ação chamado Plano de 10 Pontos (P10P, a partir de agora) – no qual todas suas exigências estão especificadas ao longo dos dez tópicos, que vão desde reparação financeira a ser destinada a projetos de infraestrutura, saúde pública, educação, entre outros, até o pedido formal de perdão dos países europeus envolvidos – que, cerca de 200 anos depois da abolição, ainda se esquivam em o fazer.
Em conversa com a Revista Fórum, Martyn Day, o advogado que irá levar as exigências caribenhas para as mesas de negociações europeias, e Verene Shepherd, uma das redatoras do P10P, explicam por que essa briga é uma a qual vale a pena lutar até o fim para que finalmente a justiça seja feita àqueles que ainda sofrem o legado do tráfico de escravos, da escravidão, do racismo e da miséria que deles derivaram, em nome do surgimento e a continuidade do capitalismo.
A rejeição a uma reparação completa e definitiva de um dos capítulos mais vergonhosos de nossa História – convenientemente esquecendo-o e relegando-o ao passado -, diminui a nobreza de qualquer causa a qual lutemos no futuro.
A precondição
O dia era 7 de dezembro de 1970, quando o chanceler alemão Willy Brandt caiu de joelhos em frente ao Memorial dos Heróis do Levante no Gueto de Varsóvia. A cena se tornou icônica e ganhou as primeiras páginas e chamadas em noticiários televisivos ao redor do mundo, pois aquela foi uma das raras vezes em que um chefe de Estado simbolizou tão espontaneamente – e publicamente – a vergonha de um país por conta dos crimes cometidos por seus pares no passado. A Polônia tinha sido um dos países onde os nazistas realizaram suas maiores atrocidades durante a Segunda Guerra Mundial.
Algo parecido com isso – talvez não tão dramático – é o primeiro ponto do P10P da Caricom: a formalização de um completo pedido de desculpas pelos 300 anos de escravidão por parte dos países europeus, entre eles Reino Unido, Portugal, França, Espanha, Holanda, Dinamarca e Suécia. Esse é o primeiro ponto simplesmente por ser o mais básico para a continuidade de todos os outros tópicos de reparação. Em 2005, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva formalmente pediu perdão pelo papel brasileiro no Comércio Triangular (Europa-África-Américas): “O Brasil deve sua atual força econômica aos mais de 300 anos de escravidão, nos quais nós exploramos o suor e o sangue de milhões de africanos”, disse ele, na época.
Como o advogado Martyn Day apontou, isso é algo que foi negligenciado pelos britânicos – de longe, o que mais se beneficiou com o “suor e sangue de milhões de africanos”. Em 2007, [o então primeiro-ministro] Tony Blair emitiu um atestado de “tristeza e arrependimento profundos” pela escravidão. “O problema em tal discurso”, explica Day, “é que ele não aceita o papel da nação britânica nos eventos e consequências resultantes”. Ou seja, “declarações de arrependimento” não reconhecem que crimes foram, de fato, cometidos e representam uma recusa em assumir responsabilidade por eles; em contrapartida, um perdão formal assim o faz.
“O perdão aceita a responsabilidade, se compromete em realizar reparações pelos erros cometidos e a não-repetição dos mesmos. O processo de cura das vítimas e de seus descendentes requer que isso seja uma precondição”, completa Shepherd. No discurso de perdão de Lula, ele prometeu maiores investimentos à África como um “pagamento da dívida histórica” do Brasil ao continente do outro lado do Atlântico e é nisso, e na esteira da “queda de joelhos” dos países europeus, que a CRC continua o P10P.
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O pagamento
Atualmente, com a Europa afundada em uma crise econômica, é realmente possível que, após 300 anos, os países europeus que se engajaram no genocídio nativo do Caribe, na escravidão africana e no apartheid racial pós-abolição, irão se submeter ao P10P – considerando que em todos esses anos nenhum pedido oficial de perdão foi oferecido?
Para Martyn Day, sim: “O Reino Unido, França, Holanda e os outros são alguns dos países mais ricos do mundo. As nações da Caricom são algumas das mais pobres. Durante os séculos 16 e 19, as potências europeias construíram suas revoluções industriais – muito por conta do dinheiro vindo do comércio de escravos. Enquanto isso, os povos do Caribe foram mantidos nas condições mais diabólicas possíveis”.
De fato, a riqueza derivada do comércio de escravos e plantações com trabalho escravo criou os primeiros países industrializados e desenvolvidos na Europa. Todo setor da sociedade britânica, por exemplo, se beneficiou com o tráfico e trabalho escravo. Os autores Walter Rodney e Eric Williams cobrem bem esse tópico em seus livros How Europe Underdeveloped Africa (Como a Europa “Subdesenvolveu a África) e Capitalism and Slavery (Capitalismo e Escravidão), respectivamente.
Uma das ironias mais vergonhosas dessa história se deu após a abolição da escravidão em 1833, quando o governo britânico pagou cerca de 16,5 bilhões de libras, em cifras atuais, como compensação para os antigos donos de escravos forçados a entregar suas “propriedades privadas”. Dinheiro que foi direcionado para mais de 3 mil famílias.
“Esse é um dos maiores insultos para as nações caribenhas”, critica Day. “A ideia de que o parlamento britânico concordou com os pagamentos aos donos de escravos mostra o quão pouco eles entendem do impacto que o comércio de escravos teve nas pessoas e nas nações caribenhas”. Atualmente, a maior parte dos cidadãos caribenhos ricos é branca – muitos deles também descendentes dos ex-donos de escravos inteiramente compensados pela coroa britânica. Pesquisadores da University College of London (UCL, sigla em inglês) lançaram no ano passado um sistema de banco de dados que permite aos britânicos pesquisarem se seus ancestrais foram donos de escravos. Em um estudo que durou três anos, a UCL descobriu que, entre outros grandes nomes, autores como George Orwell, Graham Green e o atual primeiro-ministro britânico, David Cameron, vêm de famílias ex-donas de escravos.
“A compensação no momento da emancipação escravocrata”, explica Shepherd, “causou uma segunda revolução industrial no Reino Unido, que continuou com o desenvolvimento do país. Enquanto isso, o Caribe pós-escravidão continuou no caminho do subdesenvolvimento com nada além da “liberdade” para os emancipados”.
Para ela, o Reino Unido precisa pagar o equivalente de hoje. Tal compensação pode parecer complicada, mas o historiador Marcus Rediker, autor de “Navio Negreiro – Uma História Humana”, afirma que o preço do trabalho não-remunerado pode ser sim calculado e que deveria ser, “uma vez que todas as pessoas, no passado como no presente, merecem o justo pagamento pelo seu trabalho”.
Entretanto, até o momento, apenas a Suécia sinalizou estar aberta ao diálogo. Mas isso não deve impedir que os países da Caricom – que estão de fato em uma “crise financeira” desde que a colonização europeia da região destruiu a esperança de prosperidade da região, tornando a ação da P10P representativa do núcleo da agenda de desenvolvimento da Caricom.
Mas não apenas os descendentes de escravos foram os que sofreram com a colonização caribenha. Atualmente, os povos indígenas que sobreviveram ao genocídio nativo perpetuado pelas potências europeias estariam entre os que mais sofrem na região – vivendo em um estado de marginalização e miséria. “Séculos de má nutrição com muito sal, combinadas com o estresse e a pobreza, criaram populações debilitadas de saúde no Caribe – com as maiores taxas de diabete tipo-2 e hipertensão; a falta proposital de acesso à educação e uma discriminação estrutural – combinada com a falta de orçamento – deixaram as populações caribenhas com alto índice de analfabetismo”, diz Shepherd.
Os governos da Caricom foram incapazes, apesar de seus melhores esforços, de se dirigir apropriadamente a respeito desse problema, o que torna justificável esse ponto fazer parte do programa de justiça reparatória. “Sozinha, a região nunca se tornará capaz de corrigir essas deficiências. Uma abordagem colaborativa para uma solução é vital”, finaliza a acadêmica jamaicana.
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A cura
O plano de reparação não busca apenas uma compensação para fins de financiamento na infraestrutura dos países da Caricom. Alguns pontos também buscam curar, atenuar e trazer um fim para a tragédia humana da escravidão em massa e seu contínuo legado. “É necessária também uma restauração de ordem moral para remover a vergonha e a culpa que persistentemente envenena as relações entre os descendentes dos dois lados do crime”, diz Shepherd.
Para isso ser alcançado, a ideia se baseia na construção de “museus nacionais da escravidão” e outros lugares que tornem tangíveis as memórias da escravidão por todo o Caribe. Tal qual o museu do Holocausto (2º Guerra Mundial) e o museu do Genocídio (Ruanda), dando visibilidade do horror e da exploração dos africanos durante o comércio transatlântico, escravidão e genocídio nativo.
A ideia também consiste em reconhecer a importância da experiência africana e a contribuição dos escravos africanos para o desenvolvimento de todas as sociedades envolvidas e, mais importante, uma geração de nacionais caribenhos aprenderá a apreciar e celebrar a contribuição dos africanos e seus descendentes na arte, música e escrita. “Afinal de contas”, explica Shepherd, “os africanos trouxeram com eles na ‘Passagem do Meio’ [como também é chamada a rota transatlântica] suas vozes, suas memórias e uma cultura sofisticada”. Além disso, a desconexão com a África, a estigmatização da pele negra e o contínuo racismo resultaram em populações que necessitam de reabilitação psicológica.
Outro ponto de “cura” na reparação consiste na repatriação dos povos da diáspora para seus lares ancestrais. A comunidade Rastafári dentro da Caricom, por exemplo, possui um papel histórico em liderar tal movimento.
“Para milhões dos africanos deslocados contra sua vontade, uma ‘reparação’ significa o ‘retorno para o continente africano’ e um retorno a uma condição de liberdade pré-escravidão. Já existem diversos casos de habitantes dentro da Caricom sendo restabelecidos e não estamos dizendo de maneira nenhuma que todos devem ir. Entretanto, nós acreditamos que deve ser seu direito e escolha se eles julgarem que assim o querem”, finaliza Shepherd.
Ela também aponta que já existe um diálogo entre a Caricom e os países africanos. A União Africana (UA) também já foi abordada para se engajar nas negociações.
A historiadora também explica que a repatriação no P10P difere de repatriações anteriores como o estabelecimento de Freetown em Serra Leoa, ou a fundação da Libéria, por estes serem exemplos históricos que estavam inseridos em contexto do Ocidente querendo – basicamente – se livrar dos africanos, pois ninguém os queria como cidadãos iguais no período pós-escravidão. “Esse pedido de repatriação é diferente. É parte de um programa de justiça reparatória e representa uma demanda pelo direito de retorno, ao invés de um reflexo da benevolência europeia”, diz Shepherd.
Chegou a hora
No epílogo do livro de Rediker, existe uma passagem na qual ele cita um dos poucos julgamentos em que o capitão de um navio de tráfico foi acusado de assassinato. A cena foi descrita por um dos tripulantes a respeito de uma escrava que foi amarrada em uma cadeira e lançada ao mar viva, por suspeita de varíola, pois o capitão estava com medo de contagiar o resto de sua “carga”:
“Pergunta: Você a ouviu falar ou fazer algum barulho quando ela foi atirada ao mar ou a viu resistir?
Respostas: Não, uma máscara cobria-lhe a boca e os olhos de modo que ela não podia.
Pergunta: Você se lembra de ter ouvido do capitão algum comentário depois que tudo terminou?
Resposta: Ele só disse lamentar ter perdido uma boa cadeira.”
Esse tratamento dispensado aos escravos, guardadas as devidas proporções, não parece se alterar muito, considerando um governo britânico pagar bilhões de libras a ex-donos de escravos – que, junto dos governos europeus, foram os grandes beneficiários desse próprio sistema criminoso –, mas rejeita a ideia de debater a reparação aos descendentes das vítimas dos crimes que os enriqueceram.
“Esse é um momento chave na História, quando as potências europeias podem finalmente atenuar os pecados de seus pais. Chegou a hora de o Ocidente reconhecer que esses séculos de mau tratamento deixaram os caribenhos com um legado que nunca será desfeito até que haja um reconhecimento do enorme dano causado e uma assistência seja prestada até que as nações da Caricom possam caminhar sozinhas”, diz Day.
Para Verene Sheperd, a CRC entende o dano persistente e o sofrimento consequente das vítimas do genocídio nativo, escravidão e séculos de apartheid racial como as causas primárias da falta de desenvolvimento do Caribe. “O P10P chama os governos europeus a participar do programa de justiça, que visa preparar essas vítimas para uma total aceitação com dignidade na cidadania da comunidade global. Esses crimes foram cometidos séculos atrás, mas seus legados continuam e devem ser erradicados o quanto antes”.
Por Vinicius Gomes
O célebre ativista negro norte-americano W.E.B. DuBois classificou a escravidão como “o mais grandioso drama dos últimos mil anos da História da humanidade: a transferência de 10 milhões de seres humanos da beleza negra de seu continente natal para o recém-descoberto Eldorado do Ocidente. Eles desceram ao inferno”. De fato, poucas coisas poderiam ser comparadas dantesco cenário de “inferno” do que o sequestro de milhões de pessoas para o trabalho forçado durante séculos nas plantações dos EUA, Caribe e Brasil.
E agora, 300 anos depois, os países que formam a Comunidade do Caribe (Caricom, sigla em inglês), 15 países no meio do caminho entre o norte e o sul da América, alguns que mal podem ser localizados no mapa, estão se preparando para entrar em uma “briga” – ao melhor estilo Davi e Golias – contra os países europeus que participaram e lucraram com a escravidão que se estendeu por três séculos e cujas cicatrizes perduram até os dias de hoje.
Com auxílio do escritório de advocacia Leigh Day & Co. – que no ano passado conseguiu que o Reino Unido pagasse uma indenização de 72 milhões de reais às vítimas e sobreviventes da guerrilha queniana Mau Mau, nos dias da Guerra Fria – e com a liderança de dois dos maiores nomes acadêmicos da região, sir Hilary Beckles, de Barbados, e Verene Shepherd, da Jamaica, foi criada a Comissão de Reparação da Caricom (CRC) e montado um projeto de ação chamado Plano de 10 Pontos (P10P, a partir de agora) – no qual todas suas exigências estão especificadas ao longo dos dez tópicos, que vão desde reparação financeira a ser destinada a projetos de infraestrutura, saúde pública, educação, entre outros, até o pedido formal de perdão dos países europeus envolvidos – que, cerca de 200 anos depois da abolição, ainda se esquivam em o fazer.
Em conversa com a Revista Fórum, Martyn Day, o advogado que irá levar as exigências caribenhas para as mesas de negociações europeias, e Verene Shepherd, uma das redatoras do P10P, explicam por que essa briga é uma a qual vale a pena lutar até o fim para que finalmente a justiça seja feita àqueles que ainda sofrem o legado do tráfico de escravos, da escravidão, do racismo e da miséria que deles derivaram, em nome do surgimento e a continuidade do capitalismo.
A rejeição a uma reparação completa e definitiva de um dos capítulos mais vergonhosos de nossa História – convenientemente esquecendo-o e relegando-o ao passado -, diminui a nobreza de qualquer causa a qual lutemos no futuro.
A precondição
O dia era 7 de dezembro de 1970, quando o chanceler alemão Willy Brandt caiu de joelhos em frente ao Memorial dos Heróis do Levante no Gueto de Varsóvia. A cena se tornou icônica e ganhou as primeiras páginas e chamadas em noticiários televisivos ao redor do mundo, pois aquela foi uma das raras vezes em que um chefe de Estado simbolizou tão espontaneamente – e publicamente – a vergonha de um país por conta dos crimes cometidos por seus pares no passado. A Polônia tinha sido um dos países onde os nazistas realizaram suas maiores atrocidades durante a Segunda Guerra Mundial.
Algo parecido com isso – talvez não tão dramático – é o primeiro ponto do P10P da Caricom: a formalização de um completo pedido de desculpas pelos 300 anos de escravidão por parte dos países europeus, entre eles Reino Unido, Portugal, França, Espanha, Holanda, Dinamarca e Suécia. Esse é o primeiro ponto simplesmente por ser o mais básico para a continuidade de todos os outros tópicos de reparação. Em 2005, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva formalmente pediu perdão pelo papel brasileiro no Comércio Triangular (Europa-África-Américas): “O Brasil deve sua atual força econômica aos mais de 300 anos de escravidão, nos quais nós exploramos o suor e o sangue de milhões de africanos”, disse ele, na época.
Como o advogado Martyn Day apontou, isso é algo que foi negligenciado pelos britânicos – de longe, o que mais se beneficiou com o “suor e sangue de milhões de africanos”. Em 2007, [o então primeiro-ministro] Tony Blair emitiu um atestado de “tristeza e arrependimento profundos” pela escravidão. “O problema em tal discurso”, explica Day, “é que ele não aceita o papel da nação britânica nos eventos e consequências resultantes”. Ou seja, “declarações de arrependimento” não reconhecem que crimes foram, de fato, cometidos e representam uma recusa em assumir responsabilidade por eles; em contrapartida, um perdão formal assim o faz.
“O perdão aceita a responsabilidade, se compromete em realizar reparações pelos erros cometidos e a não-repetição dos mesmos. O processo de cura das vítimas e de seus descendentes requer que isso seja uma precondição”, completa Shepherd. No discurso de perdão de Lula, ele prometeu maiores investimentos à África como um “pagamento da dívida histórica” do Brasil ao continente do outro lado do Atlântico e é nisso, e na esteira da “queda de joelhos” dos países europeus, que a CRC continua o P10P.
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O pagamento
Atualmente, com a Europa afundada em uma crise econômica, é realmente possível que, após 300 anos, os países europeus que se engajaram no genocídio nativo do Caribe, na escravidão africana e no apartheid racial pós-abolição, irão se submeter ao P10P – considerando que em todos esses anos nenhum pedido oficial de perdão foi oferecido?
Para Martyn Day, sim: “O Reino Unido, França, Holanda e os outros são alguns dos países mais ricos do mundo. As nações da Caricom são algumas das mais pobres. Durante os séculos 16 e 19, as potências europeias construíram suas revoluções industriais – muito por conta do dinheiro vindo do comércio de escravos. Enquanto isso, os povos do Caribe foram mantidos nas condições mais diabólicas possíveis”.
De fato, a riqueza derivada do comércio de escravos e plantações com trabalho escravo criou os primeiros países industrializados e desenvolvidos na Europa. Todo setor da sociedade britânica, por exemplo, se beneficiou com o tráfico e trabalho escravo. Os autores Walter Rodney e Eric Williams cobrem bem esse tópico em seus livros How Europe Underdeveloped Africa (Como a Europa “Subdesenvolveu a África) e Capitalism and Slavery (Capitalismo e Escravidão), respectivamente.
Uma das ironias mais vergonhosas dessa história se deu após a abolição da escravidão em 1833, quando o governo britânico pagou cerca de 16,5 bilhões de libras, em cifras atuais, como compensação para os antigos donos de escravos forçados a entregar suas “propriedades privadas”. Dinheiro que foi direcionado para mais de 3 mil famílias.
“Esse é um dos maiores insultos para as nações caribenhas”, critica Day. “A ideia de que o parlamento britânico concordou com os pagamentos aos donos de escravos mostra o quão pouco eles entendem do impacto que o comércio de escravos teve nas pessoas e nas nações caribenhas”. Atualmente, a maior parte dos cidadãos caribenhos ricos é branca – muitos deles também descendentes dos ex-donos de escravos inteiramente compensados pela coroa britânica. Pesquisadores da University College of London (UCL, sigla em inglês) lançaram no ano passado um sistema de banco de dados que permite aos britânicos pesquisarem se seus ancestrais foram donos de escravos. Em um estudo que durou três anos, a UCL descobriu que, entre outros grandes nomes, autores como George Orwell, Graham Green e o atual primeiro-ministro britânico, David Cameron, vêm de famílias ex-donas de escravos.
“A compensação no momento da emancipação escravocrata”, explica Shepherd, “causou uma segunda revolução industrial no Reino Unido, que continuou com o desenvolvimento do país. Enquanto isso, o Caribe pós-escravidão continuou no caminho do subdesenvolvimento com nada além da “liberdade” para os emancipados”.
Para ela, o Reino Unido precisa pagar o equivalente de hoje. Tal compensação pode parecer complicada, mas o historiador Marcus Rediker, autor de “Navio Negreiro – Uma História Humana”, afirma que o preço do trabalho não-remunerado pode ser sim calculado e que deveria ser, “uma vez que todas as pessoas, no passado como no presente, merecem o justo pagamento pelo seu trabalho”.
Entretanto, até o momento, apenas a Suécia sinalizou estar aberta ao diálogo. Mas isso não deve impedir que os países da Caricom – que estão de fato em uma “crise financeira” desde que a colonização europeia da região destruiu a esperança de prosperidade da região, tornando a ação da P10P representativa do núcleo da agenda de desenvolvimento da Caricom.
Mas não apenas os descendentes de escravos foram os que sofreram com a colonização caribenha. Atualmente, os povos indígenas que sobreviveram ao genocídio nativo perpetuado pelas potências europeias estariam entre os que mais sofrem na região – vivendo em um estado de marginalização e miséria. “Séculos de má nutrição com muito sal, combinadas com o estresse e a pobreza, criaram populações debilitadas de saúde no Caribe – com as maiores taxas de diabete tipo-2 e hipertensão; a falta proposital de acesso à educação e uma discriminação estrutural – combinada com a falta de orçamento – deixaram as populações caribenhas com alto índice de analfabetismo”, diz Shepherd.
Os governos da Caricom foram incapazes, apesar de seus melhores esforços, de se dirigir apropriadamente a respeito desse problema, o que torna justificável esse ponto fazer parte do programa de justiça reparatória. “Sozinha, a região nunca se tornará capaz de corrigir essas deficiências. Uma abordagem colaborativa para uma solução é vital”, finaliza a acadêmica jamaicana.
Colabore com o que o cabe no seu bolso e tenha acesso liberado ao conteúdo da Fórum Semanal, que vai ao ar toda sexta-feira. Assine aqui
A cura
O plano de reparação não busca apenas uma compensação para fins de financiamento na infraestrutura dos países da Caricom. Alguns pontos também buscam curar, atenuar e trazer um fim para a tragédia humana da escravidão em massa e seu contínuo legado. “É necessária também uma restauração de ordem moral para remover a vergonha e a culpa que persistentemente envenena as relações entre os descendentes dos dois lados do crime”, diz Shepherd.
Para isso ser alcançado, a ideia se baseia na construção de “museus nacionais da escravidão” e outros lugares que tornem tangíveis as memórias da escravidão por todo o Caribe. Tal qual o museu do Holocausto (2º Guerra Mundial) e o museu do Genocídio (Ruanda), dando visibilidade do horror e da exploração dos africanos durante o comércio transatlântico, escravidão e genocídio nativo.
A ideia também consiste em reconhecer a importância da experiência africana e a contribuição dos escravos africanos para o desenvolvimento de todas as sociedades envolvidas e, mais importante, uma geração de nacionais caribenhos aprenderá a apreciar e celebrar a contribuição dos africanos e seus descendentes na arte, música e escrita. “Afinal de contas”, explica Shepherd, “os africanos trouxeram com eles na ‘Passagem do Meio’ [como também é chamada a rota transatlântica] suas vozes, suas memórias e uma cultura sofisticada”. Além disso, a desconexão com a África, a estigmatização da pele negra e o contínuo racismo resultaram em populações que necessitam de reabilitação psicológica.
Outro ponto de “cura” na reparação consiste na repatriação dos povos da diáspora para seus lares ancestrais. A comunidade Rastafári dentro da Caricom, por exemplo, possui um papel histórico em liderar tal movimento.
“Para milhões dos africanos deslocados contra sua vontade, uma ‘reparação’ significa o ‘retorno para o continente africano’ e um retorno a uma condição de liberdade pré-escravidão. Já existem diversos casos de habitantes dentro da Caricom sendo restabelecidos e não estamos dizendo de maneira nenhuma que todos devem ir. Entretanto, nós acreditamos que deve ser seu direito e escolha se eles julgarem que assim o querem”, finaliza Shepherd.
Ela também aponta que já existe um diálogo entre a Caricom e os países africanos. A União Africana (UA) também já foi abordada para se engajar nas negociações.
A historiadora também explica que a repatriação no P10P difere de repatriações anteriores como o estabelecimento de Freetown em Serra Leoa, ou a fundação da Libéria, por estes serem exemplos históricos que estavam inseridos em contexto do Ocidente querendo – basicamente – se livrar dos africanos, pois ninguém os queria como cidadãos iguais no período pós-escravidão. “Esse pedido de repatriação é diferente. É parte de um programa de justiça reparatória e representa uma demanda pelo direito de retorno, ao invés de um reflexo da benevolência europeia”, diz Shepherd.
Chegou a hora
No epílogo do livro de Rediker, existe uma passagem na qual ele cita um dos poucos julgamentos em que o capitão de um navio de tráfico foi acusado de assassinato. A cena foi descrita por um dos tripulantes a respeito de uma escrava que foi amarrada em uma cadeira e lançada ao mar viva, por suspeita de varíola, pois o capitão estava com medo de contagiar o resto de sua “carga”:
“Pergunta: Você a ouviu falar ou fazer algum barulho quando ela foi atirada ao mar ou a viu resistir?
Respostas: Não, uma máscara cobria-lhe a boca e os olhos de modo que ela não podia.
Pergunta: Você se lembra de ter ouvido do capitão algum comentário depois que tudo terminou?
Resposta: Ele só disse lamentar ter perdido uma boa cadeira.”
Esse tratamento dispensado aos escravos, guardadas as devidas proporções, não parece se alterar muito, considerando um governo britânico pagar bilhões de libras a ex-donos de escravos – que, junto dos governos europeus, foram os grandes beneficiários desse próprio sistema criminoso –, mas rejeita a ideia de debater a reparação aos descendentes das vítimas dos crimes que os enriqueceram.
“Esse é um momento chave na História, quando as potências europeias podem finalmente atenuar os pecados de seus pais. Chegou a hora de o Ocidente reconhecer que esses séculos de mau tratamento deixaram os caribenhos com um legado que nunca será desfeito até que haja um reconhecimento do enorme dano causado e uma assistência seja prestada até que as nações da Caricom possam caminhar sozinhas”, diz Day.
Para Verene Sheperd, a CRC entende o dano persistente e o sofrimento consequente das vítimas do genocídio nativo, escravidão e séculos de apartheid racial como as causas primárias da falta de desenvolvimento do Caribe. “O P10P chama os governos europeus a participar do programa de justiça, que visa preparar essas vítimas para uma total aceitação com dignidade na cidadania da comunidade global. Esses crimes foram cometidos séculos atrás, mas seus legados continuam e devem ser erradicados o quanto antes”.
Comentários
MODA - Tecido africano é fashion
https://www.facebook.com/421809491198426/photos/a.423222074390501.90689.421809491198426/656396301073076/?type=1&theater
sexta-feira, 19 de setembro de 2014
Em 10 anos mais brasileiros se declaram pretos: 8,1 %
http://www.brasil247.com/pt/247/favela247/154069/Em-10-anos-mais-brasileiros-se-declaram-pretos-81.htm
Em 10 anos mais brasileiros se declaram pretos: 8,1%
Nos últimos dez anos o número de brasileiros que se declaram pretos cresceu de 5,9% para 8,1%. Somando às pessoas que se declaram pardas, tem-se hoje 53,1% de negros no Brasil, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE. "A classificação parda ou preta pode estar associada à questão de autoafirmação e até mesmo das cotas. [...] a pessoa passa a se enxergar ou passa a ter consciência da raça dela e passa a se declarar de forma diferente”, disse gerente da Pnad, Maria Lucia Vieira
19 de Setembro de 2014 às 13:53
A gerente da Pnad, Maria Lucia Vieira, não sabe dizer se o motivo do crescimento da população preta no Brasil é um aumento do nascimento de crianças dessa cor ou se as pessoas estão se identificando mais como pretas, já que a pesquisa do IBGE é baseada em declarações. “A classificação parda ou preta pode estar associada à questão de autoafirmação e até mesmo das cotas. Os dados da pesquisa não têm nada a ver com as cotas, mas a pessoa passa a se enxergar ou passa a ter consciência da raça dela e passa a se declarar de forma diferente”, disse a pesquisadora. O IBGE usa metodologia própria que define a cor das pessoas como pretos, pardos e brancos.
Por Vitor Abdala, para a Agência Brasil
Pnad: pessoas que se declaram pretas somam 8% da população
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2013, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que as pessoas que se declaram pretas somam 8,1% da população brasileira, ou seja, 16,3 milhões de pessoas. Essa proporção cresce desde 2004, quando elas eram 5,9%. Em 2012, os pretos representaram 7,9% da população. O IBGE usa metodologia própria que define a cor das pessoas como pretos, pardos e brancos.
A população de pardos, que também vinha crescendo, estabilizou-se, em 2013, na mesma proporção de 2012 (45%). Pelo menos 90,6 milhões de brasileiros se declararam desta cor. Segundo a gerente da Pnad, Maria Lucia Vieira, o crescimento da população parda é natural, uma vez que casamentos interraciais são cada vez mais comuns e, com isso, aumenta a miscigenação da população.
Maria Lucia não sabe dizer, no entanto, se o motivo do crescimento da população preta no Brasil é um aumento dos nascimentos de crianças dessa cor ou se as pessoas estão se identificando mais como pretas, já que a pesquisa do IBGE é baseada em declarações.
“A classificação parda ou preta pode estar associada à questão de autoafirmação e até mesmo das cotas. Os dados da pesquisa não têm nada a ver com as cotas, mas a pessoa passa a se enxergar ou passa a ter consciência da raça dela e passa a se declarar de forma diferente”, disse a pesquisadora.
A população que se declara como branca oscilou de 46,3%, em 2012, para 46,1%, em 2013. Em 2004, essa proporção chegou a ser de 51,2%. Em 2013, a população branca representou 93 milhões de pessoas.
As populações indígenas ou amarelas representam apenas 0,8% dos brasileiros, ou seja, 1,7 milhão de pessoas.
Segundo a Pnad 2013, entre as regiões, a que tem maior proporção de população preta é o Nordeste (9,7%), seguida pelo Sudeste (8,9%) e pelo Norte (7,4%). O Centro-Oeste tem 6,8% e o Sul, 4,2%.
A maior proporção de brancos está no Sul (77,1%), seguida pelo Sudeste (53,9%). Nas outras regiões, as proporções são: Centro-Oeste (40,4%), Nordeste (27,3%) e Norte (22,6%). Já a região mais miscigenada (população parda) é o Norte (68,1%) e a que tem menos pardos é a Sul (18%).
quarta-feira, 17 de setembro de 2014
terça-feira, 16 de setembro de 2014
Registro fotográfico da escravidão moderna que fingimos não ver
http://www.geledes.org.br/projeto-fotografico-tocante-registra-escravidao-moderna-que-fingimos-nao-ver/#axzz3DXEEGbxP
Projeto fotográfico tocante registra a escravidão moderna que fingimos não ver
Categoria » África e sua diáspora
Jaque Barbosa, Hypeness
Facilmente caímos na tentação de pensar que a nossa liberdade e direitos são coisa garantida, esquecendo que há pessoas para quem isso não passa de um sonho. Lisa Kristine pôs o dedo na ferida de forma extraordinária: documentando a escravidão moderna, aquela que fingimos não saber que existe.A ativista está há 28 anos retratando culturas indígenas ao redor do mundo, mas foi em 2009 que ‘acordou’ para o problema da escravidão dos nossos dias. A estimativa de que existem mais de 27 milhões de pessoas escravizadas e a sua falta de conhecimento sobre o tema a envergonhavam.
Assim começou sua jornada, que acabou em Modern Day Slavery, uma série cativante e ao mesmo tempo dolorosa. Seja um mineiro no Congo ou um trabalhador de olaria no Nepal, a escravidão existe e tem rostos. Lisa foi conhecê-los.
Na sua intervenção na conferência TED, em janeiro de 2012, a fotógrafa deixa o alerta, com episódios e imagens impressionantes.
todas as imagens por Lisa Kristine
Fonte: Hypeness
Leia a matéria completa em: Projeto fotográfico tocante registra a escravidão moderna que fingimos não ver - Portal Geledés
Follow us: @geledes on Twitter | geledes on Facebook
Casal Obama, elegância sempre.
https://www.facebook.com/thefashionbomb/photos/a.210980453344.165267.24421818344/10153153238823345/?type=1&theater
MODA - Elegante
https://www.facebook.com/thefashionbomb/photos/a.210980453344.165267.24421818344/398525028344/?type=1&theater
Discriminação sofrida pelos negros no Brasil precisa ser combatida, diz ONU
http://www.ebc.com.br/cidadania/2014/09/discriminacao-sofrida-pelos-negros-no-brasil-precisa-ser-combatida-diz-onu
Discriminação sofrida pelos
negros no Brasil precisa ser combatida, diz ONU
URL fixa:
Apesar
dos avanços trazidos pela legislação e ações para combater o racismo, a
discriminação sofrida pelos afrodescendentes no país precisa ser combatida com
mais medidas, acredita o Grupo de Trabalho das Nações Unidas sobre
Afrodescendentes. A equipe esteve no Brasil em dezembro do ano passado e
avaliou diferentes aspectos relacionados ao racismo existentes no país.
Educação,
cultura, violência, acesso à Justiça e emprego foram alguns dos aspectos observados
pelos integrantes da equipe, que se reuniu tanto com autoridades como com a
sociedade civil. Os resultados foram apresentados em um relatório divulgado
pela Organização das Nações Unidas (ONU).
O
documento diz que o grupo de trabalho demonstrou preocupação com o racismo
“estrutural e institucional” existente no país. O censo do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), feito em 2010, mostra que os negros
constituem a maioria da população brasileira mas, de acordo com o levantamento
feito pelos representantes da ONU, eles sofrem com desigualdades em diferentes
aspectos, como maior taxa de desemprego (cerca de 50% maior) e menor
expectativa de vida: vivem seis anos a menos. Aproximendamente 52% dessa
população também não têm acesso a saneamento básico adequado.
A
assessora internacional da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade
Racial (Seppir), Magali Naves, diz que o governo brasileiro reconhece o
problema. Uma prova disso foi a criação da própria secretaria, em 2003. “Isso é
um avanço para se tratar dessas questões e tem se tentado adotar medidas para
inverter a situação. Por isso as quotas na educação, no serviço público, a
implementação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, a
criação do Plano Juventude Viva, que é contra o assassinato de jovens negros,
além de outras ações. Isso é um processo”.
Os
especialistas destacaram diferentes medidas positivas adotadas nos últimos dez
anos para melhoria da situação, ainda assim, o documento alega que, mesmo com
essas medidas, a discriminação está em todas as áreas da vida e que a população
negra tem tido dificuldades para debater o tema no país.
Leia
também:
Na área
da educação foram encontrados os maiores indícios de desigualdades de discriminação
e é apontada como essencial para alterar as representações e esteriótipos da
sociedade. “Por isso se tem uma assistência da gestão atual de trabalhar com
ações afirmativas visando a ter mudanças. Tivemos melhorias na educação,
mercado de trabalho, renda, mas ainda continua uma desigualdade profunda. Você
tem que pegar a questão histórica de como foi formado o Brasil e ver que isso é
um processo” explica a assessora da Seppir.
Além de
apontar os problemas analisados, o documento traz também recomendações para os
órgão de combate ao racismo no Brasil. Na área educacional, o documento elogia
a criação das cotas e a decisão do Supremo Tribunal Federal pela
constitucionalidade do sistema e afirma que este foi um passo importante para
garantir o acesso da população negra ao ensino superior. Segundo o relatório,
novas medidas devem ser adotadas para que esses estudantes permaneçam estudando
nas instituições de ensino superior do país.
Outro
destaque foi a criação da lei que prevê a inclusão obrigatória da história e
cultura afro-brasileira nas escolas de ensino fundamental e médio. Magali Naves
conta que a legislação foi criada em 2003 e é uma forma de mudar a visão dos
estudantes. “A gente não surgiu escravo. Isso tem uma história antes e depois.
A partir do momento em que você conhece o outro, a situação fica mais clara. A
implementação dessa lei, com certeza, ajuda a população a se conhecer e
conhecer a sua história e a gente está trabalhando exatamente nesse sentido”. A
ONU recomenda o investimento no treinamento de professores para que a norma
seja implantada cada vez mais e que os currículos escolares devem ser
melhorados para garantir que o aluno tenha conhecimento sobre a história
africana.
A
aplicação da Lei do Racismo, a melhoria das estruturas estaduais e municipais
para o combate à discriminação e a adoção de políticas de prevenção da
violência, especialmente contra as mulheres e crianças também foram pontos
abordados. A atuação da polícia também foi citada. Para os membros do grupo de
trabalho, a corporação precisa de treinamento e sensibilização para mudar a
cultura de violência que muitas vezes é usada como pretexto para a segurança
nacional.
Magali
Naves acredita que o relatório aponta questões no sentido de orientar o
aprofundamento do trabalho que vem sendo desenvolvido pela secretaria. “É um
pouco da continuidade do que estamos fazendo. Aprofundar mais e ser mais
célere. Isso nos ajuda, de uma certa maneira, porque você tem uma visão de fora
sobre uma atuação que a gente já está trabalhando, mas que agora você tem
recomendações”.
Magali
destaca que muitos dos pontos levantados são de preocupação da Seppir, como o
caso da violência contra os jovens negros, por exemplo, e destaca que a
secretaria trabalha em diferentes áreas e com outros ministérios para que
políticas de inclusão sejam adotadas. “Eu acho que [o relatório] reforça a
necessidade de políticas que são importantes e não são importantes somente para
a população negra. São importantes para o Brasil. Um país onde as oportunidades
são iguais, é mais criativo, igualitário, vive mais em paz. É importante para o
país como um todo”.
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