terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Brasília - CONIC


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Brasília | CONIC

O CONIC é certamente um cliché de Brasília. Ele permeia o imaginário da cidade e, de certa forma, todo brasiliense pensa saber tudo sobre ele. E as principais imagens que vêm à mente quando falamos do lugar são prostituição, drogas, abandono.
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Esses elementos fazem parte do local, claro; mas há outras dinâmicas que foram obscurecidas por essa velha imagem que se cristalizou do fim dos anos 80 aos 90. Esse foi um período difícil para todo o país, e que atingiu Brasília com a desvalorização do serviço público (nossa principal fonte da riqueza), as desastrosas administrações de Joaquim Roriz, e as demissões em massa de servidores no período Collor (que gerou a primeira grande onde de ambulantes da cidade, que ocuparam por um longo período diferentes locais no entorno da Rodoviária, até a retirada da grande feira que havia onde hoje está a estação central do metrô). Todos esses elementos juntos colaboraram para uma decadência geral dos espaços públicos, culturais e de lazer da cidade, sua concentração nos shopping-centers nascentes (Pátio Brasil e Brasília Shopping), que lentamente estrangularam não apenas o CONIC, o Venâncio 2000, o Cine Karim (que sempre fez uma duvidosa propaganda de ter “a maior tela da América Latina”) como de toda a W3 Sul.
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Em épocas melhores, o CONIC talvez tenha concentrado a mais rica vida social e cultural do Plano Piloto. Durante muitos anos, as melhores e mais cosmopolitas livrarias da cidade (antes da era da Amazon) eram a Casa do Livro de Brasília e a Livraria Eldorado, onde podia-se encontrar com frequência oferta de títulos em espanhol, francês e inglês.
A Livraria Eldorado fechou primeiro, logo após a venda do Cine Karim do CONIC para igrejas evangélicas, assim como o antigo Café Eldorado, que ficava em frente à livraria, e era um ponto de encontro de políticos e intelectuais da cidade e do país. Com seu estilo boêmio, ele não resistiu; pouco tempo depois do fechamento da livraria, com o assédio da Igreja Universal, que havia comprado o Cine Atlântida, onde está até hoje, o antigo Café Eldorado também encerrou suas atividades de saraus, lançamentos de livros e discussões políticas.
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A Casa do Livro fechou há alguns atrás, após mais de uma década de resistência heróica, incapaz de competir com as livrarias franqueadas dos shoppings e com a fuga de clientes do CONIC, por conta do estigma que se criou sobre ele.
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Hoje, do lado de fora, na face leste (virada para o Eixo Rodoviário) as pessoas passam apressadas saindo do Setor Comercial Sul em direção à Rodoviária do Plano Piloto; na face oeste (virada para o Hotel Nacional), consumidores de crack e traficantes vão e voltam, tentado encontrar um espaço menos exposto à vigilância policial. Do lado de dentro, no entanto, sindicatos, igrejas evangélicas, óticas, lojas de informática, cabelereiros, e bares se inter-relacionam numa dinâmica contraditória, por certo, mas provavelmente complexa e mais diversa do ponto de vista de classe, gênero, etnia e ideologia que os demais espaços do Plano Piloto, sejam comerciais, sejam públicos.
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O CONIC abriga reuniões de sindicatos, igrejas evangélicas, partidos políticos, grupos autônomos, e intelectuais. Pode-se encontrar também sex-shops, livrarias cristãs e lojas de produtos para candomblés e umbandas. Além de, ao menos, dois salões afro em funcionamento, depois da mudança do Nzinga para o Venâncio 2000, até então um ponto de referência para boa parte da comunidade negra politizada do DF.
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O CONIC é um desses espaços que pede um segundo olhar, e uma visão com menos preconceitos. Em seu interior, amplia-se uma rede comercial baseada na juventude e na expressão da cultura de rua. Skatistas, fãs de comic books, jogadores de RPG, desocupados de todas as espécies, militantes políticos e estudandes dominam um espaço nobre da região do Plano Piloto, numa dinâmica que é preciso conhecer e, talvez, proteger da insasiável especulação imobiliária do DF, em cujas brechas, uma vida menos homogênea ainda flui.
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