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AL: HOMICÍDIOS
EQUIVALEM À
EXTINÇÃO DE TRÊS
CIDADES
Em apenas sete anos, a quantidade de pessoas assassinadas em Alagoas é superior ao número de habitantes de pelo menos três municípios do interior do estado; foram 14.555 homens, mulheres e crianças brutalmente mortos, estatística confirmada por pesquisas que apontam o território alagoano como campeão em homicídios; é como se fossem dizimados todos os moradores das cidades de Belém, Feliz Deserto e Jundiá
16 DE FEVEREIRO DE 2014 ÀS 15:30
Gazeta Web - Em apenas sete anos, a quantidade de pessoas assassinadas em Alagoas é superior ao número de habitantes de pelo menos três municípios localizados no interior do estado. Foram 14.555 homens, mulheres e crianças brutalmente mortos, estatística confirmada por pesquisas que apontam o território alagoano como campeão em crimes de homicídio. É como se fossem dizimados todos os moradores das cidades de Belém, Feliz Deserto e Jundiá.
Levantamentos feitos pelo Mapa da Violência e pela Secretaria de Estado da Defesa Social (Seds) apontam que em 2007 foram 1.839 assassinatos; em 2008, 1.887 e em 2009, 1.872. Já em 2010, 2.084 vítimas mortas de forma violenta. No ano seguinte, a situação se agravou ainda mais: o Instituto Médico Legal (IML) recolheu 2.427 corpos. Em 2012, quando foi implantado em Alagoas - de forma pioneira - o Programa Brasil Mais Seguro, continuamos com mais 2 mil mortos e no ano passado foram 2.260.
Um conjunto de fatores, na avaliação de sindicatos e entidades que lidam com o assunto violência, contribui para os números alarmantes de crimes de homicídios em Alagoas. Ao longo dos últimos anos várias ações foram anunciadas pelo governo tucano - que começou a conduzir o destino dos alagoanos em 2007 - mas, para muitos, apenas pirotecnia.
Alagoas vive em guerra
Edeilto Gomes, do Sindicato dos Policiais Civis (Sindpol), acredita que a falta de investimento em segurança pública transformou Alagoas num estado em guerra. "É um absurdo o que acontece aqui. Durante esse governo se matou mais do que numa guerra. Antes se falava que Alagoas tinha mais crimes políticos, agora é uma guerra urbana", avalia.
Segundo Gomes, o governo estadual não investiu no aparelhamento das polícias, muito menos nos salários e condições de trabalho. "Um dos fatores que acaba contribuindo para essa violência toda é a falta de investimento na segurança pública. O policial está desestimulado para trabalhar e investir nos estudos, por isso faz bico. Falta vontade política. Infelizmente há muita pirotecnia", afirmou o sindicalista.
O integrante do sindicato questiona os resultados obtidos com a implantação do Programa Brasil Mais Seguro. "Não adianta trazer a polícia de fora como fizeram com a Força Nacional. Eles ganham um salário bem melhor que o nosso e depois vão embora. Por isso a gente tenta convencer o governo da importância da valorização profissional", disse Edeilto Gomes.
Para cobrar melhores salários e condições de trabalho é que os policiais civis deflagraram operação padrão no início deste mês. No fim do ano passado foi a vez de militares exigirem subsídios mais dignos. A discussão entre servidores e integrantes do governo estadual ficou ainda mais acirrada e as dificuldades desses trabalhadores passaram a ganhar destaque na imprensa: falta de estrutura nos batalhões, delegacias superlotadas, salários defasados, número insuficiente de PMs para combater a criminalidade e policiais desmotivados.
Boletim da Seds aponta crescimento
Os dados colhidos pela Secretaria de Estado da Defesa Social (Seds) apontam que em 2013 a média de assassinatos em Alagoas foi de 6,19 casos por dia. Maior que em 2011, com 5,97 casos ocorridos diariamente. O mês mais violento do ano foi dezembro, com 230 homicídios. Em novembro foram 214.
O Boletim Anual da Estatística Criminal de Alagoas revelou que - em 2013 - mais de 93% das vítimas eram homens e quase 50% tinham 18 e 29 anos, sendo a arma de fogo o principal instrumento para a prática do crime violento letal com quase 80%. Mais de 60% dos assassinatos ocorreram em locais públicos.
Governo abandonou alagoanos
O professor universitário Jorge Vieira acredita que o fato de Alagoas aparecer sempre como recordista quando se fala em violência, deve-se a muitos fatores. Entram aí, sem dúvida, na avaliação de Vieira, a exclusão social. "São vários os fatores. É muito leviano quando se simplifica um problema como esse. Essa ideia de violência no Brasil é histórica, está impregnada no povo brasileiro e no alagoano. Mas tem essa questão também dos setores marginalizados, de nunca terem sido incluídos como sujeitos dessa nação", afirmou o professor.
De acordo com Jorge Vieira, nos últimos anos, o governo de Alagoas cometeu vários erros, que acabaram "enterrando sonhos" de dias melhores e a matança no território alagoano é fruto, também, do descaso. "O governo Téo Vilela enterrou a esperança, ninguém pode nem mesmo sonhar em Alagoas. Abriu um buraco. O resultado disso é violência, fome e exclusão. O que está sustentando Alagoas é a previdência, o trabalho rural, os aposentados em geral e os programas federais", lamentou.
O professor acrescenta que a educação pública está acabada e a propaganda oficial não retrata a realidade. "Quando vejo a propaganda do governo me pergunto se é Alagoas. Ela é falaciosa. O governo Ronaldo Lessa trouxe esperança e o Téo abriu um buraco. Temos uma sociedade sem perspectiva. A sociedade alagoana não tem sonhos. Uma parcela busca a religião e outra acaba agindo por conta própria, reagindo à ausência do estado. O governo é omisso e inoperante", afirmou.
Falta investimento
A presidente estadual da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Amélia Fernandes, declarou que a falta de investimento do governo de Alagoas na área social acaba refletindo em índices alarmantes de violência. "É muito preocupante o que acontece em Alagoas sobre a quantidade de homicídios. Falta investimento no social e valorização dos setores da segurança", disse.
A falta de políticas públicas para a juventude é apontada, também, como situação que acaba contribuindo para o assassinato de jovens ou "empurrando" os mesmos para o "mundo do crime", segundo a sindicalista.
Dados do Boletim Anual da Estatística Criminal revelam que mais de 60% das pessoas assassinadas em 2013 tinham entre 12 a 29 anos. "Quem morre em Alagoas é pobre e negro. É preciso uma política preventiva", acrescentou a presidente da CUT. Em novembro de 2013, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou que Alagoas é o estado mais violento para negros no país.
De acordo com a pesquisa, em Alagoas o índice de homicídios contra negros é considerado muito elevado. O índice chega a 17,4 negros mortos para cada não negro assassinado.
A taxa de homicídios de negros no Brasil é de 36 para cada 100 mil; para não negros, ela é de 15,2. Ou seja, para cada homicídio de não negro no país, 2,4 negros são assassinados. O Paraná é o único estado do país onde há mais mortes de não negros.
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