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“A imprensa negra nunca se calou frente ao racismo”, diz pesquisadora
Data: 29/05/2014
Declaração foi feita durante o
Seminário 'Diálogos Democracia e Comunicação sem Racismo, por um Brasil
Afirmativo', que ocorre hoje (29) e amanhã, em Brasília. Transmissão ao
vivo pelo link http://www.locamega.com.br/player/versatil2/
Um panorama sobre a comunicação negra no Brasil abriu o
‘Diálogos Democracia e Comunicação sem Racismo, por um Brasil
Afirmativo’, realizado na manhã dessa quinta-feira, 29/05, em Brasília.
A pesquisadora, doutoranda da Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP), Ana Flávia Magalhães, fez uma breve conceituação de imprensa
negra e um resgate dessas experiências realizadas no Brasil entre
início do século 19 e século 21.
Segundo
Ana Flávia, comunicação negra vai além do jornalismo, da imprensa
escrita e inclui uma rede ampla de profissionais que produzem conteúdos
de interesse da população afro-brasileira. “Houve tentativas de
silenciamento, mas desde o século 19, em termos de imprensa, os negros
nunca se calaram e pautaram de forma diversa e incisiva a questão do
racismo”, disse. Ana considera que essa memória precisa ser valorizada,
pois é um caminho para que a luta do povo negro na diáspora seja
reconhecida.
Os primeiros jornais da imprensa negra
– No início do século 19, o Rio de Janeiro respondia pela maior
população negra livre das Américas. O primeiro periódico negro, ‘O
Mulato’, de 1833, nasceu no estado com foco no reconhecimento da
cidadania da população afro-brasileira em tempos de escravização. Ana
Flávia, conta que as experiências de liberdade brasileiras foram
impactantes para outros países que passavam pelo mesmo processo, pois
“em 1872, de cada 10 pessoas negras no país, seis já eram livres”.
O
jornal ‘Homem de Cor’, de 1833, já denunciava que uma resposta contra o
aumento da população negra livre no Rio de Janeiro era a criação de
mecanismos para que os negros não chegassem aos altos postos sociais. A
pesquisadora explicou que houve uma tentativa de imprimir no Brasil um
principio de nação, partindo das bases da Revolução Francesa de
igualdade, liberdade e a fraternidade, a fim de provocar uma união
entre os indivíduos, mas isso acabou garantindo a exclusão da população
negra.
Do Rio de Janeiro para
Recife, que já vivia uma crise no sistema escravista, o periódico ‘O
Homem’, na segunda metade do século 19, trazia em seus artigos que os
negros acreditaram e se dedicaram à proposta de nação, mas que logo
viram que estavam sendo preteridos dos espaços públicos e discriminados
racialmente.
Já em São Paulo,
contou Ana Flávia, o ‘A Pátria’, era publicado por um grupo de
pensadores que colocaram o desafio da abolição e apostam na República
como resolução final do que era proposto pelos abolicionistas. “Eles
combatiam qualquer tentativa de apoio ao regime monárquico, dando
visibilidade aos processos que a historia apagou como o Clube
Republicando dos Homens de Cor”. Ana avalia que essas ações revelam o
protagonismo dos homens negros na trama social do Brasil do início do
século 19. “Essas praticas foram retiradas das paginas da
historiografia. Cabe agora recuperar o legado dessas experiências
negras para a abolição e o enfrentamento do racismo no país”, completa.
A
jornalista também falou sobre a experiência gaúcha com o jornal
Exemplo (1982 – 1930), fruto da reunião de um grupo de amigos numa
barbearia, na Avenida dos Andradas, em Porto Alegre, para discutir
estratégias de inserção do povo negro e de enfrentamento ao racismo. De
volta a São Paulo, Ana Flávia falou também sobre o periódico ‘O
Progresso’, que trazia em suas páginas críticas a República, às
estratégias de imigração europeia e a desqualificação do trabalhador
negro.
Ana Flávia enumera outros os
jornais da imprensa negra surgidos no século 19. Ao que considera ser
sua paixão, a pesquisadora ressalta a imprensa negra como um exemplo de
esforço coletivo para produção de conhecimento tanto para combater o
racismo quanto para o fortalecimento das comunidades negras.
Século 20, 21 e as novas mídias negras – Durante
a exposição, Ana Flávia falou sobre os veículos de comunicação
voltados para valorização das identidades negras que se estabeleceram
nos anos seguintes, principalmente a partir do nascimento do Movimento
Negro Brasileiro, assim como a experiência das mulheres negras na imprensa.
Sobre
a entrada desses veículos negros na internet, a pesquisadora atribui
ao aumento da produção de informação e da necessidade de difusão de
conhecimento produzidos ao longo dos séculos. “Somos 53% da população
temos o direito de ter opiniões diferentes e a valorização desses
veículos contribuiu para a desmistificação do que é ser negro, negra
nesse país”, disse.
Segundo Ana,
esses meios de comunicação permitem reconhecer uma tendência de
aglutinação de temas compartilhados, mas o desafio que permanece é a
questão da sustentabilidade dessa imprensa e o fortalecimento da
relação com os outros segmentos da cultura negra.
Fonte: Fundação Cultural Palmares
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